Show da PM anima moradores da Serra e levanta debate sobre a relação ‘favela x polícia’

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Com repertório variado, banda da PM fez sucesso e animou isolamento no Aglomerado da Serra (PMMG/Divulgação)

Conscientizar e alegrar é a intenção do projeto “PM na Laje”. De cima de uma laje, a banda da Polícia Militar de Minas Gerais levou muita música e animação para o Aglomerado da Serra. O show realizado nessa terça-feira (14) foi o início do projeto da PMMG, que pretende levar alento para comunidades carentes durante a crise da pandemia.

Segundo o porta-voz da corporação, major Flávio Santiago, a ideia é que a as pessoas tenham um pouco de entretenimento num momento de isolamento social e possam confraternizar sem sair de casa. “A ideia é tocarmos para que o som reverbere na comunidade, então cada um lá na sua laje, na sua janela, dançando, curtindo”, explica.

Prevenção do coronavírus

O major Santiago acrescenta também que o evento teve um intuito de reforçar a prevenção contra o novo coronavírus. “Entre uma música e outra, aproveitamos para falar do asseio, das precauções”, afirma.

Nas redes sociais, algumas pessoas criticaram a ação, já que alguns vídeos mostram um grupo de pessoas aglomeradas em frente à banda. “A PM fazendo um show numa lage lá no Serra aglomerando pessoas… tá brincando com a minha cara só pode”, escreveu uma usuária do Twitter.

No entanto, o porta-voz da PM afirma que foi tomado todo o cuidado para manter o isolamento social. A rua onde ocorreu o show foi fechada e, segundo o major, as pessoas que aparecem aglomeradas residem na casa de frente e na casa da laje onde ocorreu o show. “Bem-vindos à realidade da favela, aquelas 14 pessoas moram na mesma casa”, afirma.

A recepção da comunidade

Para Éder Rufino, morador do aglomerado, o show foi um sucesso. Ele acredita que é uma ação muito positiva da polícia, que foi bem recebida pela maioria da comunidade. “O coração do nosso aglomerado é a vila santana do cafezal. Lá, a maioria das ruas são nomes ligados à música. Foi justamente um policial, que era músico, que colocou esses nomes”, relembra.

O major Santiago reforça que tem recebido um retorno muito positivo da população. “Estão mandando mensagem, chego a ficar emocionado com a resposta, a comunidade virou positivamente para nosso lado, essa é a polícia que eu quero”, garante.

PMMG/Divulgação

Ainda assim, nas redes sociais é possível encontrar algumas críticas à ação. “Que m*** é essa?”, escreveu um usuário do Twitter. “Nosso imposto vai pra isso?”, questionou outro.

Já Marquim D’Morais, também morador da Serra, acredita que as reações negativas vêm de uma relação complexa, que vai além de uma ação pontual durante a crise. “As críticas vem baseadas na forma que o estado e suas instituições se relacionam com o território, com a favela e os favelados”, afirma.

“O que é construído diariamente há anos, é bem o contrário desse falso lazer que quiseram mostrar e proporcionar. É o alvará que nunca é liberado pra fazer festa das crianças, a festa junina, a rua de lazer ou o baile funk. Ou o movimento popular que de fato é feito por moradores e para moradores, que é interrompido sem diálogo e com truculência”, explica.

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Mas a moradora do aglomerado da Serra e Presidente da Associação do Cafezal, Cristiane Pereira, acredita que dentro do aglomerado a opinião é muito diversa. E mesmo sem ter visto a apresentação, ela defende que isso possa ser uma mudança na relação da corporação com a comunidade.

PMMG/DIvulgação

“No nosso olhar, a PM é muito opressora. Na minha opinião isso mostra que as coisas podem mudar, pode ser diferente, a PM não vem na comunidade só em forma de opressão, vem de outra forma também”, aponta Cristiane.

Para o Major Santiago, a ação é um passo para a melhoria da relação entre a PM e a comunidade. “O projeto vem para ficar, iniciamos em um momento de crise, em que a comunidade precisa da pm não só para coibir a criminalidade, mas sendo um dos órgãos que leva alento, leva paz”, afirma.

“A ideia é levar para outras vilas, outras comunidades. Queremos maior capacidade de ter uma polícia de proximidade, polícia comunitária, presente nesses núcleos, que temos que valorizar muito”, conclui.

Guilherme Gurgel[email protected]

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Escreve com foco nas editorias de Cidades e Variedades no BHAZ.

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