Quarentena pode ser mais difícil para pessoas com deficiência intelectual; especialistas dão dicas

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Equipe do Censa Betim orienta sobre os cuidados adequados a esse período (Grupo Balo/Suellen Oliveira/Divulgação)

O período de isolamento social recomendado como forma de combater o novo coronavírus tem causado várias complicações diferentes e é especialmente desafiadora para familiares e pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), condição caracterizada por déficit na comunicação, na socialização e no comportamento. Especialistas alertam que, apesar de a adaptação ser mais difícil, é importante não esconder a situação.

O Transtorno do Espectro do Autismo se torna mais complexo quando atrelado à deficiência intelectual de moderada a severa, que acomete adultos que não tiveram acesso a um atendimento adequado na infância. Quando ocorrem simultaneamente, os casos requerem o máximo de atenção, principalmente em momentos críticos, como é o caso da pandemia de coronavírus que vivemos.

A equipe transdisciplinar do Censa Betim (Centro Especializado Nossa Senhora d’Assumpção), formada por profissionais de várias áreas e referência nacional nos cuidados a pessoas com essas condições, explica que, para amenizar os riscos e garantir a segurança, é preciso seguir algumas orientações sobre como agir durante esse período em casa ou em residências terapêuticas.

Mudança na rotina

Gizele Martins, Mestre em Psicologia pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e psicóloga do Censa Betim, atende pessoas com deficiência intelectual associada a outras deficiências, síndromes e transtornos, como o TEA e defende que é importante que as famílias recebam auxílio. “Com a determinação da quarentena, a rotina de aulas, atividades e passeios estão sendo alteradas e, por isso, é preciso reorganizar a rotina para ficar em casa tranquilamente”, comenta.

Ela explica que, ainda que a adaptação ao isolamento possa ser mais difícil para as pessoas com autismo e deficiência intelectual, o melhor caminho é não esconder a situação: “É importante que, primeiramente, o indivíduo esteja ciente do que está acontecendo, respeitando sua capacidade de compreensão e assimilação dos fatos. Entender por que ele e todas as outras pessoas estão tendo que ficar em casa lhe dá um sentimento de pertencimento e facilita sua aderência ao isolamento, por mais que haja resistência no início. Quando a pessoa pergunta o que está acontecendo e a família lhe nega os fatos, ela pode por vezes se sentir lesada e agravar sentimentos negativos”. 

Pessoas com deficiência intelectual e autismo se beneficiam muito de uma rotina estruturada com horários e atividades bem estabelecidas e, durante a quarentena, é altamente recomendado que a família mantenha uma rotina próxima da habitual. “É importante ter horário para acordar, almoçar, fazer atividades, descanso e horário pra brincadeiras. A manutenção da rotina reduz a ansiedade e dá ao paciente mais segurança sobre o que ele fará durante o dia, além de proporcionar a todos um ambiente mais estruturado”, explica Gizele.

Ela esclarece ainda que o que a família deve fazer é adequar a rotina com a realidade da casa e que não há necessidade de encher a agenda da pessoa de atividades se não houver como administrar isso em família: “O uso de recursos visuais e concretos facilita muito a adesão, portanto, quadros de horários coloridos com fotos, desenhos, e objetos são extremamente úteis”.

União

As mudanças de comportamento podem se tornar mais frequentes neste momento. Crises de ansiedade, de comportamentos obsessivos ou o aparecimento de comportamentos estereotipados podem ser mais rotineiras. Nesse caso, Gizele explica que é importante manter um guia de soluções que funcionam para cada pessoa. “Ao menor sinal de uma crise, os responsáveis podem lançar mão de atividades como massinha, banhos, massagens, filmes ou até mesmo conversas que tranquilizem a pessoa”, orienta.

Para isso, é importante que a família saiba com clareza que tipos de atividades são prazerosas para aquele indivíduo. A psicóloga indica também outro ponto importante: a união e a manutenção dos laços sociais – adaptados às novas formas de convivência.

“Chamadas de vídeo, telefonemas e troca de mensagens com amigos podem ser extremamente úteis e diminuir a sensação de solidão. Quando possível, é indicado manter os atendimentos à distância para que o indivíduo e a família sejam sempre amparados pelos profissionais que os acompanham diariamente”, explica Gizele.

O que é o Censa?

Fundado em 1964, o Censa Betim é um local para cuidados básicos e um espaço para ser e conviver. A proposta é atender as necessidades da pessoa com deficiência intelectual, associada ou não a outros transtornos, e da sua família, assegurando-lhes qualidade de vida e uma educação socializadora. O Censa conta com uma equipe transdisciplinar, convênios e parcerias e oferece atividades esportivas e recreativas, escolaridade especial, equitação e oficinas de música, teatro e artesanato.

Giovanna Fávero[email protected]

Editora no BHAZ desde março de 2023, cargo ocupado também em 2021. Antes, foi repórter também no portal. Foi subeditora no jornal Estado de Minas e participou de reportagens premiadas pela CDL/BH e pelo Sebrae. É formada em Jornalismo pela PUC Minas e pós-graduanda em Comunicação Digital e Redes Sociais pela Una.

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