O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) negou as acusações feitas por Sergio Moro e disse estar “decepcionado e surpreso” com as atitudes do agora ex-ministro da Justiça e Segurança Pública. As declarações foram dadas em um pronunciamento no Palácio do Planalto, nesta sexta-feira (24).
O pivô do desentendimento entre Bolsonaro e Moro foi a exoneração do diretor-geral da PF (Polícia Federal) Maurício Valeixo, que, segundo Bolsonaro, pedia para ser exonerado do cargo que exercia.
O presidente afirmou que o pedido era feito por Valeixo desde janeiro deste ano. Diante disso Bolsonaro teria chamado Moro para “botar um ponto final” na história.
Segundo Bolsonaro, Moro apresentava duas condições para a saída de Valeixo: que o sucessor fosse indicado por ele, ou que o presidente esperasse até novembro, quando ele, Moro, poderia ser indicado para o STF (Supremo Tribunal Federal) pelo presidente.
“Mais de uma vez, o senhor Sergio Moro disse para mim: ‘Você pode trocar o Valeixo sim, mas em novembro, depois que o senhor me indicar para o STF'”, disse.
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Durante o pronunciamento o presidente contou como conheceu Moro e até falou sobre gastos na Presidência da República, algo fora do contexto do pronunciamento.
Ao lado do presidente estavam alguns ministros, o filho Eduardo Bolsonaro e parlamentares. Mesmo com a pandemia da Covid-19, as autoridades não usavam máscara de proteção, incluindo o titular da Saúde.
Interação
Bolsonaro afirmou que, de fato, deseja interagir com a PF, mas ressaltou que nunca tentou interferir nos trabalhos. “Nunca pedi para ele para que a PF me blindasse onde quer que fosse.
Para Bolsonaro, ele precisa receber relatórios diários da PF. “Sempre falei para ele: ‘Moro, não tenho informações da PF. Eu tenho que ter, todo dia, um relatório do que aconteceu, em especial nas últimas 24 horas, para poder decidir o futuro da nação’. Nunca pedi a ele o andamento de qualquer processo”, disse.
Marielle Franco
As investigações da morte da vereadora Marielle Franco também foram lembradas por Bolsonaro. Segundo ele, a PF se preocupa mais em investigar quem matou a parlamentar do que o atentado sofrido por ele, em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, durante a campanha à presidência.
“A PF mais se preocupou com a Marielle do que com o seu chefe supremo. Eu acho que todas as pessoas de bem no Brasil querem saber, entendo senhor ex-ministro, entre o meu caso e o da Marielle, o meu está muito menos difícil de se solucionar. Acredito que a vida do presidente da Republica tem significado. Isso é interferir na Polícia Federal?”, indagou.
Críticas
O agora “ex-super ministro” de Bolsonaro recebeu um série de críticas do presidente, desde que ele só pensa no “próprio ego” e que “não pensa no Brasil”.
“Sabia que não seria fácil. Uma coisa é você admirar uma pessoa. A outra é conviver com ela, trabalhar com ela”; “Eu não posso conviver, ou fica difícil a convivência, com uma pessoa que pensa bastante diferente de você”, foram algumas das críticas.
Bolsonaro ainda disse não guardar mágoas do ex-ministro, mas ressaltou que se ele desejava ter “autoridade e independência” deveria ser candidato à presidência.