MG estimula flexibilização da quarentena para 1,2 milhão de trabalhadores; 800 mil ficam em casa

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A retomada gradual da economia idealizada pelo governo Romeu Zema (Novo) estimula a flexibilização da quarentena para até 1,2 milhão de trabalhadores (Imprensa MG + Amanda Dias/BHAZ)

Por Cristiano Martins , do Coronavirus-MG.com.br*

A retomada gradual da economia idealizada pelo governo Romeu Zema (Novo) estimula a flexibilização da quarentena para até 1,2 milhão de trabalhadores em Minas Gerais durante a pandemia do novo Coronavírus. Esses profissionais se somariam de forma progressiva a outros 6,9 milhões que atuam em setores considerados essenciais e provavelmente não puderam aderir ao isolamento social. O retorno se dará ao longo de três etapas monitoradas, e a decisão de se adequar ou não aos protocolos cabe às prefeituras.

Por outro lado, setores que empregam cerca de 800 mil profissionais só deverão voltar às atividades após o fim da pandemia, segundo as orientações do programa Minas Consciente, publicadas nesta segunda-feira (28). Os cálculos foram realizados pelo Coronavirus-MG.com.br utilizando as últimas projeções da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O programa de reabertura econômica divide as atividades em seis partes, de acordo com o possível impacto sobre a economia e o sistema de saúde. São elas:

– Onda verde (0): serviços essenciais;
– Onda branca (1): baixo risco;
– Onda amarela (2): médio risco;
– Onda vermelha (3): alto risco;
– Onda roxa (4): setores suspensos até o fim da pandemia;
– Onda cinza (5): atividades que exigem regulações próprias.

Em um cenário no qual todas as prefeituras do estado coloquem o programa em prática, isso significaria um aumento progressivo de 67% para 79% da força produtiva fora do isolamento social. Ou seja, cerca de 8 milhões de trabalhadores (desconsiderando as zonas roxa e cinza) em um universo total de 10,2 milhões.

A adesão opcional ao programa, no entanto, deverá pautar novos embates políticos. O governador Romeu Zema e os secretários de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, e Desenvolvimento, Cássio Rocha de Azevedo, foram categóricos ao afirmar que a retomada será monitorada constantemente, de forma regionalizada, e terá a vida dos cidadãos como “prioridade absoluta” – até esta terça-feira (28), Minas tem 71 mortes oficializadas e outras 88 em investigação, além de 1.649 casos confirmados e 79,3 mil pacientes com sintomas suspeitos da Covid-19. “Vimos um aumento no fluxo de veículos, por exemplo. Nós reforçamos a importância das medidas de distanciamento social, para que não haja perda do que foi conseguido até agora”, destacou o secretário da Saúde.

Já o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), tem adotado um discurso mais duro contra a flexibilização. Ontem, ele declarou que “quem tem medo de buzina é cachorro distraído”, em referência a protestos realizados no fim de semana a favor da reativação da economia. Anteriormente, ele também já havia endurecido as regras no comércio e nas áreas de lazer, tornado obrigatório o uso de máscaras em espaços públicos e até vetado a entrada, na capital, de veículos do transporte coletivo intermunicipal de cidades com regras pouco rígidas.

As decisões de Kalil e seus vizinhos em relação à reabertura econômica são um tema central para o programa do governo, pois a Região Metropolitana de Belo Horizonte, além de ser a área mais atingida pela doença, concentra 26% da força produtiva de Minas Gerais, com ao todo 2,7 milhões de trabalhadores ativos.

Na comparação com o total do estado, Belo Horizonte tem proporcionalmente menos pessoas trabalhando nas áreas consideradas essenciais (63%) e seria mais afetada pela suspensão do grupo roxo até o fim da pandemia. Esses setores correspondem a 11% das ocupações profissionais na capital e reúnem basicamente empreendimentos de serviços e lazer, entre eles agências de viagens, atividades artísticas e produção de eventos, para citar alguns exemplos.

As áreas rurais, por outro lado, seriam as menos impactadas pela proposta do governo Zema, pois concentram uma maioria de serviços essenciais (88%), como os setores de produção agrícola e pecuária.

Simulação nacional

Antes da publicação do programa Minas Consciente, a diretora-executiva da consultoria Metas Sociais, Fabiana de Felício, já havia divulgado uma projeção padronizada para todos os estados do país. A conclusão era que o isolamento social tinha pouca chance de aumentar entre a população economicamente ativa.

Em Minas, os resultados apontavam que 67,8% dos trabalhadores atuam em setores essenciais e, no cenário mais rígido de restrições, esse número chegaria a um mínimo de 37% de profissionais que precisariam seguir ativos durante a pandemia. Veja os resultados:

– Cenário 1: classifica como essenciais 171 das 223 atividades econômicas. Juntas, elas somam 6,9 milhões de pessoas, ou 67,8% dos trabalhadores mineiros; – Cenário 2 (mais restrito): classifica como essenciais 138 das 223 atividades econômicas. Juntas, elas somam 5,2 milhões de pessoas, ou 51% dos trabalhadores mineiros;

– Cenário 3 (máxima rigidez): classifica como essenciais 98 das 223 atividades econômicas. Juntas, elas somam 3,7 milhões de pessoas, ou 37% dos trabalhadores mineiros.

Números do governo

O Coronavirus-MG.com.br solicitou as projeções oficiais do governo para a quantidade de trabalhadores e clientes envolvidos durante as ondas de retomada da economia previstas no programa Minas Consciente, bem como as metas de isolamento social a cada uma delas, mas não obteve retorno.

Após a publicação desta matéria, a assessoria de imprensa da Secretaria de Desenvolvimento enviou nota (14h57) afirmando que:

“Como a decisão é de responsabilidade das prefeituras, o Governo de Minas trabalha com projeções de retorno dos trabalhadores formais, sendo, provável retorno de 2% para a onda branca, 3% para a onda amarela, 2% para onda vermelha, 24% para as especiais e 2% para a onda roxa. Quanto a onda verde, por ser serviços essenciais, boa parte manteve a atividade”.

O Coronavirus-MG.com.br questionou novamente sobre as metas de isolamento e pediu novos esclarecimentos sobre os números totais, as referências das porcentagens, as fontes da projeção e os microdados que possibilitem uma análise mais precisa.

Este conteúdo está liberado para reprodução, desde que creditados os autores e o projeto Coronavirus-MG.com.br. Você também pode inserir os gráficos em seu site por meio do código embed (“incorporar”). Esta é a primeira parte de uma análise baseada em dados do SUS e no Plano Diretor de Regionalização. As tabelas completas estão disponíveis aqui.

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