Após reclamações de moradores e intervenção do MPMG, Drive-in Church é cancelado por igreja

drive in cancelado
O culto repercutiu mal entre a vizinhança e foi cancelado (Moisés Teodoro/BHAZ)

Após reclamações de vários moradores e da interferência do MPMG (Ministério Público de Minas Gerais), a Igreja Batista da Lagoinha Vila da Serra cancelou, na tarde deste domingo (3), o Drive-in Church (formato de culto estadunidense no qual os participantes ficam dentro dos carros).

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Uma das organizadoras do culto, Taís Pereira, confirmou que a desaprovação dos moradores levou à suspensão. Ela acredita que a sinalização com cones no local e a movimentação de organizadores repercutiu mal entre a vizinhança. No entanto, ela ressaltou que, para a organização, não se trata de um evento.

“Conversamos com o prefeito Alexandre Kalil e ele entendeu a logística do culto, só não deu um aval formal porque cultos religiosos não precisam dessa autorização. Mas, por bom senso e por entendermos que poderia repercutir mais negativamente do que positivamente, resolvemos cancelar”, explicou a organizadora ao BHAZ.

Pessoas envolvidas no trabalho precisaram avisar aos participantes sobre a mudança de planos. Eles informaram ainda que uma benção iria ser concedida na porta da igreja, das 15h às 18h.

Organizadores estão concedendo bençãos a quem passar de carro na porta da igreja (Moisés Teodoro/BHAZ)

O evento, anunciado pelas redes sociais e com convites disponibilizados via Sympla, seria realizado a partir das 15h30 em um terreno que fica entre o trevo do Belvedere e a rua Musas, no bairro Santa Lúcia.

O local está em uma área residencial, onde há proibição para se construir edificações. Há dois meses, o proprietário do espaço foi advertido pela Promotoria de Habitação e Urbanismo, do Ministério Público mineiro, justamente por realizar eventos irregulares.

‘Não é um evento’

O Drive-in Church estava sendo anunciado em todos os canais da Lagoinha Vila da Serra. O pastor Sandro Gonzalez, organizador do ato, negou nesse sábado (2) que se tratava de um evento.

“É um culto religioso. Culto não precisa de alvará, está amparado pela Constituição Federal, não é um evento”, argumentou o religioso, que afirmou desconhecer quantas pessoas retiraram o ingresso gratuito até o sábado à noite, mas esclareceu que o espaço suporta até 150 carros. O mesmo argumento foi utilizado pela organizadora Taís Pereira, que afirmou, neste domingo (3), que 180 carros haviam sido inscritos no site.

O que diz o MPMG?

A promotora de Justiça de Habitação e Urbanismo, Marta Larcher, informou, neste sábado (2) ao BHAZ, que já havia enviado um documento determinando a suspensão do culto.

“Ele [o proprietário do espaço] já sabe que não pode fazer evento e nem alugar terreno para fazer evento. Agora, com a Covid-19, ainda tem decreto proibindo evento por tempo indeterminado. Hoje, inclusive, novamente, mandei uma comunicação formal para que ele tome providência para que o terreno não seja utilizado para esses eventos”, disse.

A promotora foi enfática sobre o risco que os envolvidos correm ao realizar o evento. “Se, eventualmente, o município ficar omisso em tomar providências, assim como o proprietário, podem responder criminalmente. Inclusive, agentes públicos podem responder por improbidade. Mandei uma comunicação formal para o proprietário do evento e para a PBH, para que tome providências, junto com a Guarda Municipal, a fim que o evento não seja realizado”, diz Larche

O que diz a prefeitura?

Por meio da assessoria de imprensa, a PBH (Prefeitura de Belo Horizonte), informou que o decreto municipal sobre o isolamento social não desautoriza cultos religiosos.

O que diz o dono do terreno?

Um dos sócios da empresa proprietária do terreno, Elias Tergilene afirmou que emprestou o espaço após pedido da igreja. “As pessoas falaram que iriam parar dentro dos carros e não iriam descer dos carros. Onde que está a aglomeração? Seria como parar no estacionamento do Verdemar”, explicou.

A conversa com Elias ocorreu antes da divulgação do cancelamento do evento. Após o cancelamento, o proprietário manteve o posicionamento e afirmou que emprestou o espaço para que as pessoas pudessem rezar. “Se não pode rezar, é só deixar o terreno quieto”, complementou.

Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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