Isolamento cai para 39% em Minas e Dia das Mães deve piorar: ‘Comemoração pode virar tragédia’

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Isolamento social é cada vez menor em Minas Gerais (Amanda Dias/BHAZ)

O isolamento social em Minas Gerais registrou uma queda considerável, desde o dia 22 de março, quando se teve o maior índice, com 62,2%. Nessa quarta-feira (6), o número caiu para 39,5%, de acordo com a In Loco, que faz o monitoramento e disponibiliza para o Governo de Minas.

Segundo infectologista ouvido pelo BHAZ, a situação deve piorar no Dia das Mães, e o sistema de saúde pode entrar em colapso nas próximas três semanas.

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O Mapa do Isolamento mostra a situação de todo o Brasil. Na região Sudeste, atualmente, Minas Gerais é o Estado com a menor adesão ao isolamento social. Em dados dessa quinta-feira (7), Minas aparece com 40,3%. São Paulo tem 43,8%, Rio de Janeiro está com 49,2% e o Espírito Santo com 41,6%. A média brasileira se encontra em 43,3% de adesão.

In Loco/Reprodução

O infectologista Leandro Curi lembra que o Brasil é um dos países com maior taxa de transmissão da Covid-19, com número de 2,8, o maior entre os 48 países analisados pela Imperial College, de Londres. “É a capacidade de um indivíduo transmitir de um para o outro, um número bem expressivo. Quando se reduz o isolamento social, você está cooperando para aumentar a taxa de transmissão. Com isso, são mais pessoas doentes e o sistema de saúde entra em sobrecarga. É muito sério”, explica.

Em relação aos números de infectados e mortes, Minas está em uma situação melhor que a de outros estados do Sudeste. “O que vejo de perigoso é que em duas ou três semanas podemos sobrecarregar o sistema de saúde. Quando uma pessoa sai do isolamento, dizendo que está imune, ela pode funcionar como carreador do vírus. Os assintomáticos são muitos”, continua o especialista.

Frio deve trazer aumento de doenças respiratórias

“Quando falamos em colapso no sistema, é importante frisar que a Covid-19 não é a única doença ocorrendo, as outras continuam existindo. Agora, nesse período de frio, as doenças respiratórias aumentam, o novo coronavírus junto, e a somatização disso pode acarretar em consequências gravíssimas. Quando o sistema não suportar, teremos que escolher prioridades para internação. Ninguém quer que chegue a isso”, reforça o médico.

O infectologista explica que o lockdown [fechamento total] pode ser necessário, mas ainda não é possível precisar quando. “Teremos que observar nas próximas semanas o que vai acontecer. É preciso fazer a manutenção do isolamento, não é hora de relaxar. A flexibilização do comércio, as pessoas se aglomerando de novo, achando que está tudo bem, é o que pode agravar a situação”, explica.

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O médico ainda fala da estigmatização do chamado grupo de risco, de pessoas mais suscetíveis à doença, dentre elas idosos e com comorbidades. “As pessoas precisam parar de achar que estão imunes, que já pegaram a doença e se curaram. Não há nenhum indicativo científico para isso. Quem está fora do grupo de risco também pega a doença e, mesmo sem sintomas, pode transmitir para uma pessoa que não vai resistir”, reforça.

Dia das Mães: Comemoração pode virar tragédia

Uma data preocupante em relação à diminuição do isolamento social é o Dia das Mães, comemorado neste domingo (10). Tradicionalmente, muitas famílias se reúnem para almoços ou outros eventos com aglomerações. Mais uma vez, o médico reforça que o momento não é de comemoração.

“As pessoas vão com a melhor intenção do mundo. Mas, na conversa, na risada, no abraço, você pode estar contaminando alguém. Basta uma pessoa assintomática para espalhar o vírus para todas as outras. Com o objetivo de levar afeto, você pode estar levando o vírus para pessoas queridas. Muitas mães já fazem parte do grupo de risco, por isso o isolamento é tão importante”, conta o especialista.

O médico faz um apelo, pedindo que as pessoas evitem esses eventos. “A comemoração pode ter, infelizmente, um desfecho trágico. Por isso, continuem o isolamento. Tudo o que puder fazer como sociedade, para matar as saudades, faça. Temos chamadas de vídeo, mensagens, ligações, o momento é para fazer isso”, aconselha.

O infectologista reforça que, mesmo em local aberto, não é recomendável realizar reuniões. “Não dá para juntar a família toda. O momento é de distanciamento, para que possamos desfrutar de um Dia das Mães melhor no ano que vem, com todos bem. A comemoração pode virar tragédia, então, vamos evitar”, finaliza.

Pessoas ainda não acreditam na Covid-19

Mesmo com tantas mortes, pessoas infectadas, alguns lugares do Brasil já colapsados, o que acontece para as pessoas ainda não darem a devida importância para a Covid-19? O médico acredita que seja pela invisibilidade da doença, que dificulta na associação das pessoas.

Leandro Curi lembra do rompimento da barragem em Brumadinho, em janeiro de 2019. “Quando a gente vê as imagens da barragem se rompendo, é algo forte, a gente está vendo, a gente acredita. Contudo, o novo coronavírus não é visível a olho nu e, como muita gente ainda não conhece alguém que morreu pela doença, fica uma distância quase que internacional para acreditar”, explica.

“Tende-se a crer, mesmo que de forma inconsciente, que não é real como uma catástrofe, que não é letal, mas é. É mais perigoso, mais lento, silencioso e com desfechos terríveis. Não desejo a ninguém que esteja lendo esta matéria que tenha alguém que já se contaminou e morreu pela Covid-19. Mas, infelizmente, é uma realidade bem plausível de acontecer, caso continuemos nesse rumo”, completa.

O que diz o Estado?

O BHAZ entrou em contato com a SES-MG, para saber se a queda no isolamento já era esperada e o que o Estado vai adotar para tentar contornar a situação. Contudo, até o momento de publicação desta reportagem, não obtivemos resposta. Assim que a SES-MG se manifestar, a matéria será atualizada.

Situação em Minas

Segundo a SES-MG (Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais), em boletim divulgado nesta sexta-feira (8), o Estado tem 111 mortes confirmadas pela Covid-19. Além disso, são 2.943 infecções registradas, 140 óbitos em investigação e 96.212 casos suspeitos.

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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