Dos dois fatos, o mais importante desta semana será a decisão do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele deve ter começado a assistir, nesta segunda, ao vídeo da reunião ministerial de 22 de abril passado para avaliar se autoriza a divulgação ou não de seu conteúdo. Nessa reunião do dia 22, a última ministerial, Bolsonaro teria informado sobre a decisão de interferir na Polícia Federal a favor de si próprio e de sua família. A versão denúncia foi apresentada pelo ex-juiz Sérgio Moro, quando deixou o Ministério da Justiça no dia 24 de abril.
Se decidir pela divulgação completa da gravação, fica sinalizado que o inquérito poderá virar processo e se transformar naquilo que chamam, em Brasília, de ‘investigação do fim do mundo’, agravando a situação para o governo Bolsonaro.
De outra forma, o ministro poderá, em outra decisão, divulgar apenas os trechos do vídeo referentes à investigação em si (a acusação contra Bolsonaro, de interferir na PF). Aí, o clima será outro.
Ministro adia decisão sobre vídeo
O ministro recebeu hoje, da equipe da Polícia Federal, coordenada pela delegada Christiane Correa Machado, o pen drive que tem em seu conteúdo a gravação da reunião ministerial. “Após esse encontro, comecei, agora, a assistir ao vídeo, devendo liberar minha decisão até esta próxima sexta (22), talvez antes!”, disse o ministro, adiando a decisão prevista antes para esta segunda.
O segundo fato novo que poderá aumentar a tensão sobre Bolsonaro é a denúncia feita pelo empresário Paulo Marinho, que é suplente de senador de Flávio Bolsonaro, filho do presidente. No domingo (17), em entrevista à Folha de S. Paulo, Marinho contou que policial federal alertou Flávio Bolsonaro sobre investigação contra ele. E mais, que a operação teria sido adiada para não atrapalhar a eleição do pai dele, o atual presidente, em outubro de 2018.
Filho de Bolsonaro contesta denúncia
Flávio contestou as acusações feitas por Marinho. Disse que o empresário, como suplente, quer sua vaga no Senado. O filho mais velho do presidente disse que Marinho foi tomado pela ambição e trocou a família Bolsonaro pelos governadores João Doria (PSDB) e Wilson Witzel (PSC). “[Marinho] preferiu virar as costas a quem lhe estendeu a mão”, escreveu Flávio.
O empresário fez outras revelações que podem trazer novas provas e elementos à acusação de Sérgio Moro de que Bolsonaro quer interferir na PF para evitar investigação contra o filho. O que, nos desdobramentos, teria levado o presidente a manter o controle sobre as investigações para não deixar que, como disse, na reunião ministerial, “sacaneassem” com seus filhos. Aquilo que justificou na reunião, quando tratou o assunto, que estava preocupado com a segurança de familiares e de amigos. Três dias após a reunião ministerial, no entanto, as mudanças aconteceram no comando da PF e no Ministério da Justiça, com a queda de Moro, e não na tal segurança da família.
Apesar dos fatos novos, que podem ter forte influência, tudo dependerá da iniciativa do procurador geral da República, Augusto Aras, de oferecer ou não a denúncia contra Bolsonaro. Depois, em caso positivo, será a vez de os deputados federais autorizarem ou não o julgamento de Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal.
Última reunião ministerial de Bolsonaro teve ‘sacanagem’, vídeo e mentiras