Reitora da UFMG rechaça retorno de aulas presenciais condicionado a vacina e fala em ‘novo normal’

ufmg planeja retorno das aulas
Reitora descartou cancelar o semestre (Amanda Dias/BHAZ + Foca Lisboa/UFMG)

A reitora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Sandra Goulart, descartou nesta sexta-feira (22) qualquer possibilidade de condicionar o retorno de aulas presenciais à descoberta da vacina contra Covid-19. A comunidade acadêmica ficou em polvorosa após uma declaração da ocupante do cargo máximo da universidade receber tal interpretação.

“Na verdade, eu não condicionei o retorno presencial a uma vacina. Foi um exemplo que eu mencionei, que se espera com muita ansiedade a vacina. Mas nós não podemos esperar para pensar essa retomada”, esclarece ao BHAZ Sandra Goulart.

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Em entrevista exclusiva que durou cerca de 25 minutos, a reitora da principal universidade de Minas Gerais falou sobre o plano de retomada das aulas – virtuais e presenciais – e outros temas que inquietam a comunidade acadêmica.

Nesta semana, completaram-se dois meses de suspensão das aulas da UFMG e pouco – ou quase nada – foi informado aos estudantes e profissionais de educação. “Às vezes as pessoas pensam que as aulas presenciais foram suspensas, então a UFMG está parada. Não está parada de jeito nenhum”, garante a reitora.

Entre os assuntos abordados, Sandra Goulart falou em “novo normal”; sobre o impacto da Covid-19 e um novo modelo de ensino; a possível regularização do ano letivo invadindo 2021 e o que já foi definido sobre o retorno das aulas.

BHAZ: A UFMG divulgou nessa quarta-feira (20) que está estudando a retomada das aulas. Existe alguma previsão para que a data de retorno seja definida?

Sandra Goulart: Nós estamos estudando, como eu disse, nós não sabemos. Esse é um terreno muito novo pra nós, mas não só para nós da UFMG, mas para todas as universidades do país e do exterior também. Todo mundo está avaliando o que pode ser feito e como é que nós vamos fazer isso a curto, médio e longo prazo.

Como está sendo esse processo de definição da volta das aulas?

Nós pedimos que as unidades da UFMG discutam o que pode ser feito, que avaliem como nós podemos pensar juntos. O que nós podemos fazer que precisa de uma outra preparação? Aí nós faremos essa preparação, até que nós possamos pensar os protocolos de segurança para retornar aos pouco. E as unidades da UFMG são muito diferentes… então, a gente tem que fazer esse planejamento em diálogo com a comunidade. Nesse momento estamos fazendo esse mapeamento de como nós podemos nos preparar.

Estamos exatamente nesse momento, de ouvir as áreas que são muito diferentes, até que possamos ter uma clareza de que poderemos retornar as aulas presenciais. Nós sabemos que, em todos os países, as instituições de ensino demoram a retomar as suas atividades, por causa do contexto. A sala de aula tem muitas pessoas, é um contexto favorável à transmissão do vírus. Estão dizendo que semana que vem o comércio pode reabrir, mas as aulas vão ter que esperar um pouco mais. Mas não podemos esperar o tempo todo, temos que começar a fazer esse planejamento e fazer algumas atividades.

Quais medidas estão sendo consideradas?

O que tem se discutido hoje em dia é se há como nós oferecermos algum tipo de educação remota, que depois se passe por um período de atividade remota com algumas presenciais, até que se possa retornar à normalidade como conhecíamos. Mas isso é o que alguns estudiosos tem chamado de “novo normal”. A gente vai ter que começar a estudar e pensar como será esse “novo normal”.

A gente leva em consideração os princípios de garantia qualidade de ensino e da inclusão social. Eu sei que os estudantes estão preocupados, mas eles não têm razão para se preocupar. Nós estamos mantendo as atividades para preservar o que os alunos têm feito. Algumas ações precisam ser adiadas, outras são mantidas. O que nós queremos fazer é avaliar o que mais pode ser ofertado. Educação a distância é uma coisa, são cursos a distância, como a UFMG tem.

Em outra ocasião você teria condicionado a retomada das aulas presenciais à descoberta da vacina. Essa seria uma condição para que a universidade tomasse a decisão?

Na verdade, eu não condicionei o retorno presencial a uma vacina. Foi um exemplo que eu mencionei, que se espera com muita ansiedade a vacina. Algumas pessoas dizem que a normalidade só vai poder acontecer quando houver uma vacina. Mas nós não podemos esperar para pensar essa retomada. Nós não sabemos se esse é o caso. Porque alguns estudiosos dizem que esse vírus pode desaparecer daqui a pouco, como o Sars desapareceu.

Há várias possibilidades, ninguém diz que essa é a única solução. Pode ser que, daqui a pouco, da mesma forma que ele chegou, ele não avance no Brasil e que a gente possa fazer essa retomada. Quem vai dizer isso são as autoridades sanitárias, não sou eu. A gente torce para que isso aconteça o mais rápido possível para que a gente possa voltar a normalidade como nós conhecíamos.

Uma das decisões já divulgadas pela universidade, na quarta-feira, foi a de não cancelar o semestre letivo, mesmo sem dois meses de aulas. O que motivou essa definição?

A gente não cancela semestre porque se não invalidaria todas as ações que estão sendo feitas nesse semestre. Por exemplo, nós temos teses que estão sendo defendidas, então o semestre continua acontecendo, algumas são realizadas, algumas são adiadas.

Por exemplo, essa semana estava programada a semana de saúde mental, nós mantivemos porque é uma atividade extremamente importante para nós, nós só transferimos para o virtual. Outro exemplo é a mostra de profissões, a Sua UFMG, nós estamos fazendo, iremos mantê-la num caráter virtual.

Tudo isso faz parte do nosso semestre da UFMG, faz parte do nosso calendário, então a gente não tem como simplesmente evaporar, sumir com o primeiro semestre de 2020. O que nós vamos fazer é adiar algumas atividades e retomando quando for possível.

É importante destacar que a UFMG não parou. Às vezes as pessoas pensam que as aulas presenciais foram suspensas, então a UFMG está parada. Não está parada de jeito nenhum. A gente trabalha com graduação, Pós graduação, muita pesquisa e também trabalho de extensão junto a comunidade, então a UFMG não parou.

A gente continua atuando muito, algumas atividades ainda continuam, as pesquisas continuam a todo vapor, principalmente muitas pesquisas voltadas para resolver o problema da Covid-19. A UFMG tem se destacado no cenário nacional diante dessa atuação, e também de extensão junto as comunidades mais vulneráveis.

Muitos alunos se assustaram com a notícia e se preocuparam com os dois meses em que ficaram sem aulas. Como isso será tratado na retomada de atividades?

Isso já aconteceu na história da UFMG, em outros contextos. No passado já tivemos algumas situações em que o calendário letivo adentrou o calendário civil do ano seguinte. É muito comum, acontece na universidade e nas escolas públicas, é normal e a gente consegue viver com isso. Então, a gente só vai saber quando a gente tiver uma ideia de como vamos fazer essa retomada.

Mas o que é importante destacar que os estudantes possam ficar tranquilo, eles não serão prejudicados, nós estamos pensando muito na qualidade, na inclusão e não prejudicar. Então, tudo é pensado nesse sentido, nós sabemos das dificuldades, é um período de excepcionalidade. É compreensível a ansiedade dos estudantes, mas gostaríamos de garantir que nós estamos pensando nos estudantes.

Você acredita que a adoção desse “novo normal” durante a pandemia pode gerar mudanças permanentes no modelo de ensino da UFMG?

Eu não acho que ele vai alterar o modelo de ensino, acho que algumas coisas que já estavam acontecendo serão potencializados. Eu sou professora e acredito muito no contato presencial entre as pessoas, acho que tem um poder motivador muito grande. Tanto é que um grande problema dos cursos de EAD é o desinteresse e a evasão, é um dos grandes desafios.

Mas já tem algumas ferramentas que vão facilitar muito o aprendizado, principalmente as formas de ensino, muitas vão nos ajudar. De fato, alguns instrumentos, estamos descobrindo que eles possam facilitar os processos de aprendizado, acho que só o futuro pode nos dizer. Mas que vá substituir o contato, isso eu não acredito de maneira alguma. 

Guilherme Gurgel[email protected]

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Escreve com foco nas editorias de Cidades e Variedades no BHAZ.

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