Desempregados têm 2ª parcela do auxílio emergencial bloqueada e sofrem com falta de explicações

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IMAGEM ILUSTRATIVA (Marcello Casal Jr./Agência Brasil + Amanda Dias/BHAZ)

A Caixa Econômica Federal começou, nesta segunda-feira (25), o pagamento da segunda parcela do auxílio emergencial, mas o dia foi de surpresas para muitas pessoas que esperavam continuar a receber o benefício. É que, quando foram sacar a parcela, descobriram que o pagamento havia sido bloqueado. Agora, o alívio sentido quando o pagamento foi aprovado dá lugar novamente para preocupação, dúvidas e silêncio dos órgãos competentes.

Larissa Cristina e o pai moram na região Norte de Belo Horizonte e fazem parte do grupo de pessoas que tiveram a segunda parcela bloqueada sem justificativa. Conforme Larissa contou ao BHAZ, o pai dela recebeu, há pouco mais de um mês, a primeira parcela do pagamento e agora, além de não conseguir pegar a segunda, teve problemas para entender o porquê.

“Ele foi na agência e não souberam explicar o que aconteceu. Ele está sem resposta e não consegue fazer outro cadastro”, explica a jovem, que conta ainda que o problema veio no momento em que o pai mais precisava do apoio: “Ele trabalhava vendendo balas na rua e está parado desde que começou o isolamento, só que agora ele não pode sair mesmo, porque está com suspeita de Covid-19”.

Larissa contou ainda que, quando ela e o pai tentam ligar no 111, número criado pela Caixa para tirar dúvidas sobre o auxílio, ouvem apenas que o homem não se qualifica mais para receber os R$ 600, mas, quando entram no site e no aplicativo, o status continua constando como “aprovado”.

‘Auxílio funeral’

O caso do pai de Larissa não é uma situação isolada. Sammir Gonçalves, de Magé, no Rio de Janeiro, relatou ao BHAZ que está na mesma condição. “A segunda parcela estava prevista para sair no dia 22 [deste mês]. Um dia antes eu liguei no 111 e fui informado que não poderia mais receber”, conta.

Ele explica ainda que a justificativa foi a mesma dada ao homem de BH: que ele não se qualificava mais nos requisitos necessários para receber o valor. Sammir é autônomo, mora com a avó e já contava com o dinheiro para conseguir pagar as contas. “Aqui onde eu moro o pessoal vive muito de comércio. A gente entende que é uma pandemia e que não pode ficar dando chance para a doença, mas é complicado porque o governo promete e não cumpre”, desabafa.

No aplicativo e no site da Caixa e da Dataprev, o status da solicitação também é o mesmo desde o mês passado: aprovado. Na mesma situação, estão mais de 150 outras pessoas do país inteiro, que se juntaram em um grupo intitulado “Auxílio funeral” para tentar encontrar juntas as respostas que as autoridades não dão.

Sammir também continua com o status “aprovado” mesmo com bloqueio da parcela (Arquivo Pessoal)

‘E quem não tem como comer?’

O pai de Larissa, Sammir, os membros do grupo “Auxílio funeral” e diversas outras pessoas que relataram a mesma situação nas redes sociais, durante esta segunda, têm em comum as dúvidas sobre o bloqueio, a falta de respostas e a necessidade do dinheiro.

A maioria destas pessoas está parada desde que começaram a ser implantadas as medidas de isolamento social nas cidades brasileiras, algumas ainda sem perspectiva de retorno, e agora voltam a ter as preocupações que cessaram no último mês, quando tiveram o pagamento aprovado.

Larissa tentou ajuda na agência da Caixa, nos canais de comunicação oficiais das entidades competentes e continua sem saber como pode ajudar o pai. Sammir, sem respostas oficiais, recorreu às redes sociais para encontrar soluções. Ainda sem uma resposta para o problema, o jovem se preocupa também com quem não tem as mesmas oportunidades que ele: “Eu ainda tenho a ajuda da minha avó, vou conseguir dar um jeito. Mas e quem não tem como comer?”.

O que diz a Caixa?

Procurada pelo BHAZ, a Caixa Econômica Federal se isentou da responsabilidade sobre o caso. Segundo a instituição, a Caixa só responde pela parte financeira do processo – cabendo a ela apenas a transferência valor determinado para cada pessoa – e pelo aplicativo ou site utilizado para o cadastro.

A Caixa informou ainda que a avaliação do benefício, seja por CadÚnico, Bolsa Família, site ou aplicativo, cabe à Dataprev, empresa pública responsável pela gestão da base de dados sociais do Brasil. Esses requerimentos, depois de passar pela avaliação da Dataprev, são homologados pelo Ministério da Cidadania.

O que diz a Dataprev?

Em nota publica nas redes sociais na última quinta-feira (21), a empresa explicou como acontece a avaliação das solicitações e citou alguns pontos que vem sendo citados por beneficiários como justificativa para o bloqueio. É o caso do cadastro incorreto de familiares, por exemplo. No entanto, a empresa ainda não deu nenhuma resposta oficial aos questionamentos.

Procurada pelo BHAZ, a Dataprev não respondeu até o fechamento desta reportagem.

O que diz o Ministério da Cidadania?

O Ministério da Cidadania também foi procurado e respondeu, em nota (leia na íntegra abaixo), que o processo de elegibilidade e pagamento do auxílio “obedece rigorosamente aos critérios estabelecidos pela lei”, que a base de dados do governo é atualizada com frequência e que a localização de uma nova informação “pode sinalizar possível divergência cadastral, de forma automática, sendo, então, priorizada uma reavaliação dos dados inseridos”.

Nota na íntegra

O processo de elegibilidade e pagamento do auxílio emergencial compreende o  cruzamento do maior número de bases existentes, chegando à casa dos bilhões, e obedece rigorosamente aos critérios estabelecidos na lei 13982/20. Cinquenta e nove milhões de pessoas receberam o auxílio emergencial e o crédito da segunda parcela  já está em andamento.

Parte das bases de dados utilizadas recebem atualizações. Uma nova informação pode sinalizar possível divergência cadastral,  de forma automática, sendo, então, priorizada uma reavaliação dos dados inseridos pelos requerentes. Confirmada a elegibilidade do CPF, o pagamento é liberado.

Importante salientar que, a evolução na verificação do processo é constante, onde são fundamentais a segurança e a agilidade para que os recursos cheguem aos que mais precisam.

Giovanna Fávero[email protected]

Editora no BHAZ desde março de 2023, cargo ocupado também em 2021. Antes, foi repórter também no portal. Foi subeditora no jornal Estado de Minas e participou de reportagens premiadas pela CDL/BH e pelo Sebrae. É formada em Jornalismo pela PUC Minas e pós-graduanda em Comunicação Digital e Redes Sociais pela Una.

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