Estupro e assédio: Belo-horizontinas se unem e denunciam violências sexuais

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Relatos ficaram entre os assuntos mais comentados do país na madrugada (Reprodução/Twitter + Amanda Dias/BHAZ)

“Só consigo lembrar dele falando que tinha droga na minha bebida e das mãos. Parecia que ele tinha umas mil mãos”. “Lembro de escutar a voz dela me gritando muitas vezes pedindo ajuda”. “Tudo começou a ser muito violento antes mesmo de eu nascer”. Todas essas frases foram tiradas de relatos de vítimas de violência sexual que recorreram ao Twitter para compartilhar suas experiências, por meio da hashtag #ExposedBeloHorizonte.

A expressão chegou a ficar em segundo lugar nos assuntos mais comentados da rede social entre esta quinta e sexta-feira (29), reunindo milhares de depoimentos e criando uma grande rede de apoio às mulheres. Muitas relataram que o espaço foi importante para desabafar, já que não apenas sofreram estupro e abusos diversos, mas ainda precisam conviver com a impunidade dos autores. Contudo, especialistas alertam sobre os riscos desta prática.

A advogada criminalista Paola Alcântara defende que a movimentação é importante para quebrar o silêncio. “Por medo de represálias e julgamento, diversas vítimas acabam não expondo situações de abuso e, com os movimentos na internet, podem se sentir encorajadas, o que é extremamente importante e necessário”, explica. No entanto, Paola alerta para os riscos da prática.

Denúncia ou difamação?

Segundo a advogada, mesmo que este tipo de movimentação seja positiva, ela pode acabar trazendo problemas para as autoras dos relatos: “É necessário que se tenha alguns cuidados no momento de realizar a descrição do fato criminoso ou a acusação a determinada pessoa”.

Ela explica que esses cuidados são importantes porque, mesmo que as mulheres tenham de fato sofrido as violências que relatam, podem acabar incorrendo nos crimes de difamação ou injúria. “A depender de como a descrição está sendo feita, a vítima pode incorrer na prática de crimes contra a honra”, pontua.

A advogada também conta que, dependendo do caso, o homem acusado no relato pode até mesmo acusar a vítima: “Pode ser que exposição de maneira explícita seja motivo para que suposto autor realize pedido de reparação de danos, em razão da exposição de sua imagem sem quem uma investigação criminal esteja finalizada, em razão da presunção de inocência”.

Então, o que fazer?

Para que casos como os inúmeros relatos reunidos na #ExposedBeloHorizonte tenham uma punição rigorosa, Paola explica que o mais importante é que a vítima comunique imediatamente a Polícia Civil, levando o máximo de informações detalhadas que puder.

“É importante ter informações como a descrição de fatos e datas, bem como o autor, para que se inicie a investigação criminal e, por consequência, condenação e imposição da pena necessária”, explica.

Já para as mulheres que tentam reagir no momento do abuso, a investigadora de polícia Viviane Ramos dá uma dica importante: não gritar “socorro”. Segundo ela, quando gritamos por “socorro” as pessoas ao redor se sentem em perigo e o primeiro impulso acaba sendo tentar fugir também, mesmo que não saibam de que.

“Se você estiver nessa situação, grita ‘fogo’, ‘pai’, ‘mãe’, grita alguma outra coisa, chame por um nome, porque aí você vai chamar a atenção das pessoas e nesse momento o agressor vai ficar coagido por estar sendo observado, e assim você pode pedir ajuda”, explica.

Onde conseguir ajuda?

Caso você seja vítima ou conheça alguém que precise de ajuda, pode fazer denúncias pelos números 181, 197 ou 190. Além deles, veja alguns outros mecanismos de denúncia:

Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher: av. Barbacena, 288, Barro Preto | Telefones: 181 ou 197 ou 190
Casa de Referência Tina Martins: r. Paraíba, 641, Santa Efigênia | 3658-9221
Nudem (Núcleo de Defesa da Mulher): r. Araguari, 210, 5º Andar, Barro Preto | 2010-3171
Casa Benvinda – Centro de Apoio à Mulher: r. Hermilo Alves, 34, Santa Tereza | 3277-4380
Aplicativo MG Mulher: Disponível para download gratuito nos sistemas iOS e Android, o app indica à vítima endereços e telefones dos equipamentos mais próximos de sua localização, que podem auxiliá-la em caso de emergência. O app permite também a criação de uma rede colaborativa de contatos confiáveis que ela pode acionar de forma rápida caso sinta que está em perigo.

Seja qual for o dispositivo mais acessível, as autoridades reforçam o recado: peça ajuda.

Giovanna Fávero[email protected]

Editora no BHAZ desde março de 2023, cargo ocupado também em 2021. Antes, foi repórter também no portal. Foi subeditora no jornal Estado de Minas e participou de reportagens premiadas pela CDL/BH e pelo Sebrae. É formada em Jornalismo pela PUC Minas e pós-graduanda em Comunicação Digital e Redes Sociais pela Una.

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