Covid-19: Pessoas em situação de rua relatam belo-horizontinos ‘mais solidários’; PBH é alvo de críticas

BH tem mais de 4,5 mil moradores em situação de rua
BH tem mais de 4,5 mil moradores em situação de rua (IMAGEM ILUSTRATIVA – Amanda Dias/BHAZ)

A pandemia do novo coronavírus despertou a solidariedade em pessoas de diferentes localidades, seja no Brasil ou fora dele. Em Belo Horizonte, pessoas em situação de rua relatam que as doações aumentaram diante da Covid-19. Por outro lado, alguns criticam a forma como a Prefeitura da capital lida com eles. “Somos deixados de lado”, diz uma mulher ouvida pelo BHAZ na região da Savassi, Zona Sul da cidade (veja abaixo).

Rita Braga de Jesus, de 49 anos, vive nas ruas há dois e diz que não lembra de ter visto as pessoas tão solidárias. “Depois que começou a pandemia parece que foi até melhor pra nós. Fome, graças a Deus, não passamos. A gente recebe doação durante todo o dia”, conta.

Quem também tem a rua como “moradia” é Peterson Gomes, de 44 anos. Enquanto conversava com a equipe do BHAZ, ele mostrava uma vitamina entregue por um homem. “O moço saiu do supermercado e me deu. Ele vem aqui quase todo dia e nos dá algo. Ainda não tomei por que não estou com fome”, disse.

As doações recebidas vão além de alimentos. “A gente tá ganhando até as coisas pra higiene pessoal. Álcool em gel, sabonete, pasta de dente, papel higiênico. Pensei que ia ficar ruim, mas as pessoas estão mais solidárias”, destaca Amintas Ferreira, de 58.

Nas ruas há 20 anos, Zeferino Pereira das Virgens, de 40, também agradece a ajuda que vem recebendo, mesmo não acreditando no novo coronavírus. “Eu não acredito nisso não, mas depois que começou a falar da pandemia, temos recebidos mais doações. Mexo com reciclagem e tenho recebido muita doação”.

Peterson e Zeferino contam que as pessoas estão mais solidárias (Amanda Dias/BHAZ)

Sofrimento

Belo Horizonte tem, segundo a PBH (Prefeitura de Belo Horizonte), 4.594 mil pessoas nas ruas e nem todos estão recebendo ajuda, já que houve diminuição na circulação de pessoas.

A Pastoral Nacional do Povo de Rua, grupo comunitário da Igreja do Brasil, realiza atendimentos na capital junto àqueles que estão em situação de vulnerabilidade. A irmã Critina Bove conta que a realidade de muitos é diferente da dos entrevistados acima.

“A pastoral está indo ao encontro deles, por meio dos grupos de articulação, distribuindo alimentação, cobertores e agasalhos. Por conta da pandemia estabelecemos uma parceira para hospedar idosos e pessoas com comorbidades em pousadas. Já estamos com 50 hóspedes”, conta.

A religiosa defende uma política habitacional para estas pessoas, já que elas sofrem muito, principalmente em épocas de frio. “Todos precisam de lugar para morar. Graças a Deus que ainda não temos registro de morte por frio, mas o pessoal está sofrendo muito. A grande maioria chega com tuberculose, diabetes, problemas cardíacos. Como tratar da saúde sem lugar para morar?”, questiona.

Procurada pelo BHAZ, a PBH informou que dois abrigos estão aptos a receber pessoas em situação de rua: o Albergue Tia Branca, que tem 400 vagas, e o Abrigo São Paulo com outras 200.

“Ambos são de passagem. Os usuários entram, fazem higienização, refeição e pernoite, e saem pela manhã. Os demais abrigos municipais, funcionam como residências, sendo necessário o encaminhamento pela rede socioassistencial”, esclareceu.

‘Prefeitura não nos ajuda’

Enquanto a reportagem conversava com os moradores em situação de rua, eles contaram que estão passando dificuldades com a higienização. “A prefeitura poderia ter deixado banheiro químico aqui pra gente. Quanto todo mundo circulava na Savassi, tinha um monte esparramado e agora não tem”, conta Rita.

Amintas usa o carrinho de reciclagem para fazer as necessidades e cobra do Executivo municipal. “Poderiam ter deixado dois banheirinhos químicos aqui pra nós”.

Rita e Amintas vivem nas ruas de BH, na região da Savassi (Amanda Dias/BHAZ)

Rita acredita que os moradores em situação de rua são “deixados de lado” pois não dão “lucros”.

“A prefeitura não olha pra nós e nem nos ajuda, mas é claro nós não damos mucros. A gente tem que tomar banho é no chafariz aqui da Praça [Diogo de Vasconcellos] e nossa pele fica cheia de feridas, já que a água não é apropriada”.

O Executivo do município informou ao BHAZ que não há banheiros químicos fixos instalados na cidade. “Os equipamentos são colocado apenas quando há eventos. Porém, a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania, oferece locais que podem ser usados para higiene pessoal por pessoas em situação de rua”.

Os lugares mais próximos dos entrevistados são:

  • Centro de Referência da População de Rua –  Centro-Sul – Av. do Contorno, 10.852 – Bairro Barro Preto
  • Centro de Referência da População de Rua – Leste – Rua Conselheiro Rocha, 351 – Bairro Floresta

Ações da PBH

A prefeitura informou ao BHAZ que desde abril iniciou o serviço de acolhimento provisório e emergencial. O objetivo é atender pessoas em situação de rua e outras vulnerabilidades sociais com suspeita ou confirmação de contaminação pela Covid-19.

“O serviço é executado no Sesc Venda Nova e coordenado pela Secretaria de Saúde e pela Smasac (Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania). O serviço conta com 300 vagas. Até o momento, 85 pessoas passaram pelo acolhimento – 06/04 a 25/05 – e 19 estão permanecem acolhidas”.

Para auxiliar a higienização das mãos, a PBH instalou pias e começou a distribuir 3 mil sabonetes para a população fazer a higienização. Apesar disso, os moradores entrevistados disseram não ter recebido o produto.

Os lavatórios foram instalados pela Sudecap (Superintendência de Desenvolvimento da Capital) nos seguintes locais:

  • Praça da Lagoinha ou arredores
  • Praça da Rodoviária ou arredores
  • Praça da Estação ou arredores
  • Praça Raul Soares ou arredores
  • Arredores da Avenida Bernardo Monteiro
  • Arredores da Silva Lobo
  • Arredores da Praça da Estação São Gabriel
  • Praça Santa Rita (bairro Esplanada)
  • em frente à Coordenadoria de Atendimento Regional Venda Nova

Com relação à alimentação, a PBH esclareceu que está distribuindo marmitex, também aos finais de semana, para a população em situação de rua.

“As entregas são feitas uma vez ao dia durante o horário de almoço, aos sábados e domingos, de forma gratuita. Os pontos de distribuição serão os Restaurantes Populares, localizados na região central, na área hospitalar, no Barreiro e em Venda Nova. Serão mais de 3 mil refeições aos finais de semana. Esse reforço garantirá o direito à alimentação de domingo a domingo”, informou.

Ainda sobre a higienização desta população, a PBH esclarece que os Centros de Referência para a População em Situação de Rua permanecem abertos, das 8h às 17h, para banho, higienização dos usuários e guarda de pertences.

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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