Vazamentos em processo de refrigeração da Backer contaminaram cervejas, diz Polícia Civil

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Cervejas foram contaminadas por dois pontos de vazamento, diz PC (Amanda Dias/BHAZ)

Com Aline Diniz

A contaminação das cervejas da Backer – que causou a morte de sete pessoas – ocorreu por conta de dois pontos de vazamento no processo de refrigeração da bebida. É o que afirma a Polícia Civil no anúncio, na manhã desta terça-feira (9), da conclusão do inquérito do caso. Ao todo, 11 pessoas foram indiciadas pelos crimes de lesão corporal, homicídio e intoxicação de produto alimentício.

“As cervejas demandam tempo nesse tanque para serem maturadas. A Belorizontina [marca da Backer] demora 14 dias de maturação, existem outros tempos para outros produtos. Nós encontramos o vazamento dentro do tanque, literalmente dentro do tanque, jogando o tóxico para dentro da cerveja. Onde deveria sair a cerveja, a substância trassante se destacou. Portanto, já tínhamos a comprovação física e visual da existência do vazamento”, afirmou o delegado Flávio Grossi.

Segundo a Polícia Civil, de 10 tambores analisados, foi detectada a presença de monoetilenoglicol em nove deles, e de dietilenoglicol em um. A corporação explicou que o vazamento ocorreu na bomba e na tubulação do chiller [um sistema de refrigeração] e também no tanque.

Polícia Civil/Divulgação

Ainda conforme a corporação, a cerveja contaminada pelas substâncias dietilenoglicol e etilenoglicol causou a intoxicação de 42 pessoas, das quais nove morreram. O inquérito rendeu cerca de 4 mil páginas, com 600 peças processuais, ao longo desses quase cinco meses de investigação.

“Eu tenho, em 2018, o dietilenoglicol na fábrica e vazamentos. E temos também o que eu chamo de lote raiz, que é onde tudo se iniciou. Esse lote analisado pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) demonstra que, no início de 2019, já existiam índicies altíssimos de contaminação em um dos lotes”, disse Grossi.

Polícia Civil/Divulgação

“O número desse lote é 338, para se ter ideia, o nosso lote de investigação está em torno de 1200 e 1300 para frente. Então comprovamos que, quimicamente já existiam contaminações anteriores”, complementou.

Procurada, a Backer, por meio de nota (veja na íntegra abaixo) disse que prestará apoio às vítimas. “A Backer reafirma que irá honrar com todas as suas responsabilidades junto à Justiça, às vítimas e aos consumidores”.

Quanto ao inquérito, a empresa preferiu não se posicionar no momento. “Tão logo os advogados analisarem o relatório, a empresa se posicionará publicamente”, disse a cervejaria.

Histórico

No dia 5 de janeiro deste ano, a Polícia Civil mineira começou a investigação de informações preliminares sobre pessoas que foram internadas após consumir cervejas da marca Belorizontina, da Backer. A cervejaria, por sua vez, condenou a disseminação do que classificou como falsas e descartou qualquer possibilidade de contaminação.

No dia 11 de janeiro, peritos do Instituto de Criminalística da Polícia Civil levaram amostras de diversos lotes de cerveja para análise da corporação do Distrito Federal. As garrafas, tanta as cedidas pelos familiares das vítimas quanto as recolhidas na fábrica, deram a certeza que a contaminação ocorreu dentro da fábrica, segundo a PC mineira.

No dia 12 de janeiro, foi instituída uma força-tarefa com a Polícia Civil; a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais; o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; além do Ministério Público mineiro. No dia seguinte, o ministério determinou que a cervejaria recolhesse todas as marcas do mercado e suspendesse as vendas imediatamente.

Entre os dias 17 e 29 de janeiro, 26 pessoas foram ouvidas pela Polícia Civil do Estado mineiro. Ao todo, mais de 70 pessoas foram ouvidas, entre vítimas e investigados para a polícia compreender como foi a atuação de cada investigado.

O que é o dietilenoglicol

O dietilenoglicol é uma substância anticongelante bastante usada na indústria. A ingestão, no entanto, pode provocar intoxicação com sintomas como insuficiência renal e problemas neurológicos. Por isso, no início da polêmica relacionada à Backer,  o conjunto de sintomas causado pela substância foi nomeado como “síndrome nefroneural” pela SES-MG (Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais).

De acordo com o Ministério da Saúde, os sintomas sentidos pelos pacientes, que tiveram contato com a substância, são gastrointestinais (como náusea, vômito e dor abdominal), associados a uma insuficiência renal aguda grave que pode evoluir em até três dias, seguidos por alterações neurológicas (como paralisia facial, vista borrada, cegueira total ou parcial, entre outros).

Pessoas que beberam a cerveja Belorizontina, no fim do ano passado, tiveram vários desses sintomas. Há paciente que perdeu a visão e há várias vítimas que ainda não conseguem sequer andar. A maior parte delas só sobrevive por meio de diálise.

Nota da Backer

A Backer reafirma que irá honrar com todas as suas responsabilidades junto à Justiça, às vítimas e aos consumidores. Sobre o inquérito policial, tão logo os advogados analisarem o relatório, a empresa se posicionará publicamente”.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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