Lockdown: Entenda o que é o termo e como funciona

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Especialistas explicam o que é o termo “lockdown” (Amanda Dias/BHAZ)

Com a pandemia do novo coronavírus, temos visto o termo lockdown a todo momento. A situação do avanço da Covid-19 em Minas, e no Brasil, piora a cada dia. Com os números cada vez maiores, e leitos de UTI quase totalmente ocupados, o secretário de saúde, Carlos Amaral, disse que o pico da doença está previsto para o dia 15 de julho, e o lockdown pode ser uma realidade. Mas, afinal, de fato, o que é lockdown? O BHAZ conversou com especialistas para entender como funciona e o que deve acontecer.

De acordo com Arthur Chioro, médico sanitarista e ex-Ministro da Saúde (2014-2015), o lockdown seria uma graduação mais intensiva do processo de isolamento. “É quando você toma, dada a gravidade da situação por alguma doença fora de controle, uma medida rígida para buscar o maior grau de isolamento social possível. Dessa forma, somente os serviços essenciais são preservados. Todo o resto é fechado, e restringe-se também a circulação de pessoas”, explica ao BHAZ.

De acordo com o ConJur, no lockdown, há uma limitação de alguns direitos básicos, especialmente de ir e vir e reuniões. Por isso, há quem questione se a medida não é inconstitucional. A Constituição só permite a restrição desses direitos fundamentais pelos estados de defesa ou de sítio e, até o momento, não foram declarados, somente o de calamidade pública.

O especialista ainda explica que o lockdown dura, geralmente, um mês. “É preciso que as pessoas fiquem em casa por um período suficiente para se interromper a cadeia de transmissão. Ou que a taxa fique abaixo de 1, ou seja, que um paciente passe a transmitir para menos de uma pessoa”.

O infectologista Leandro Curi explica que, desde o diagnóstico, a pessoa passa por um período de incubação de 2 a 14 dias e depois pode transmitir por mais 14. “Em uma matemática simples, podemos perceber que é realmente necessário pelo menos um mês de lockdown para que apresente resultados eficazes”, conta ao BHAZ.

Questão de tempo

Para os dois especialistas, um lockdown em algumas regiões de Minas é questão de tempo. “Do jeito que tudo está caminhando, com piora da lotação de UTIs, ausência de profissionais da Saúde em alguns municípios, eu diria que estamos próximos ao lockdown em Minas, é questão de tempo. Não tenho visto mais as pessoas respeitarem a magnitude dessa pandemia, estão menosprezando a doença”, explica Leandro.

O ex-Ministro da Saúde diz que temos uma “sabotagem explícita”. “A postura do presidente da República é absurda. É preciso de um líder que dê exemplo positivo ao povo, e não é o que temos visto. Um país com Ministério da Saúde ausente, sem uma liderança firme, acaba na situação que estamos vendo hoje”, afirma.

Outro ponto que preocupa Arthur Chioro é a desigualdade social enraizada no país. “Estou fazendo um estudo sobre o avanço do novo coronavírus nas comunidades de Santos (SP). O que eu tenho visto, e que todos já sabemos, é que nem todos têm condições de se isolar adequadamente. Tem gente que vive com oito, nove pessoas na mesma casa”, explica.

“Para essas pessoas, o ideal seria a criação de centros de isolamento para acolher os infectados, com sintomas leves ou mesmo assintomáticas, mas que moram em moradias muito precárias. Muito me preocupa essa periferilização da doença, pois as condições são muito ruins no hemisfério Sul como um todo. A Covid-19 encontrou um local diferente da Europa e outros continentes. Não é possível comparar com a situação de outros países, pois a realidade aqui é outra”, continua o ex-Ministro da Saúde.

‘Falta senso de coletividade’

Os especialista também comentam sobre a falta de respeito das pessoas com a pandemia. “É uma conjugação de problemas. Você tem um esgotamento de paciência mesmo, por ter começado lá em março, mas sem fazermos o dever de casa direito. Existe também a questão econômica, o auxílio emergencial não dá conta de sustentar uma família e, por isso, as pessoas acabam saindo porque precisam se sustentar”, explica Arthur Chioro.

O infectologista Leandro Curi fala sobre a “falta de senso” das pessoas. “Como BH e Minas estavam se saindo melhor que outras regiões do país, as pessoas acharam que poderiam ficar mais tranquilas, e diminuíram as medidas. Vemos alguns países saindo do isolamento, voltando um pouco a normalidade. O brasileiro quer de qualquer forma acompanhar isso, falta senso de coletividade mesmo”.

Casos em Minas e BH

A situação em Minas Gerais e em Belo Horizonte começa a se agravar rapidamente. Já são 29.897 casos confirmados da Covid-19, com 720 mortes. Belo Horizonte segue como a cidade mais afetada do Estado, com 4571 casos e 96 mortes. As informações foram divulgadas pela SES-MG (Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais) na manhã desta terça-feira (23).

Além disso, Belo Horizonte alcançou nesse domingo (21), o preocupante recorde de maior taxa de ocupação de leitos Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) desde o início da pandemia da Covid-19. Segundo dados do boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde, divulgado nessa segunda-feira (22), 85% dos leitos totais de UTI estão ocupados na capital mineira.

Os números mostram que BH tem no total 972 leitos destinados ao tratamento intensivo, sendo 282 destinados ao tratamento exclusivo da Covid-19, uma ocupação de 84%.

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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