Regina Duarte é processada por apologia à tortura por filha de vítima da ditadura

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Em entrevista, Regina minimizou as mortes durante a ditadura militar no Brasil (CNN Brasil/Reprodução)

Regina Duarte, ex-secretária especial da Cultura do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), está sendo processada por apologia à tortura pela jornalista e advogada Lygia Jobim. Ela é filha do diplomata, editor e jornalista José Jobim, que foi torturado e morto pelas forças do governo militar. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.

Lygia Jobim ficou “absolutamente estarrecida” ao assistir à entrevista da então secretária na CNN Brasil no dia 7 de maio, em que Regina minimizou as mortes que aconteceram no Brasil durante a ditadura militar. Para Lygia, as declarações de Regina Duarte foram um “deboche com os nossos mortos”.

“É uma naturalização da tortura. Fiquei dois dias com isso entalado na garganta. E então resolvi procurar a Justiça. Essa senhora me ofendeu. Fez pouco de algo que me afetou profundamente, que foi não poder me despedir de meu pai porque ele foi enterrado em caixão fechado devido às marcas da tortura”, declarou a jornalista de 69 anos ao jornal.

O advogado Carlos Nicodemos, autor da ação movida por Lygia, afirma que vai exigir uma retratação pública por parte de Regina, a ser veiculada em jornal de grande circulação. A reparação também inclui o pagamento de R$ 70 mil por danos morais, divididos entre os dois réus, Regina Duarte e a União.

“O mais importante é a retratação. O dinheiro, eu sei que vai doer no bolso dela. Se receber algo, não ficarei com nada. Doarei metade para o Instituto Vladimir Herzog e a outra metade para o Instituto Marielle Franco”, contou Lygia à Folha.

José Jobim foi sequestrado, torturado e morto pelo governo militar em 1979, enquanto investigava a corrupção na construção da Usina de Itaipu para escrever um livro. Meses após a morte, a viúva e a filha de Jobim descobriram que todos os documentos e escritos referentes ao caso investigado haviam sumido dos arquivos dele.

Entrevista

As declarações de Regina Duarte em entrevista à CNN repercutiram negativamente nas redes sociais. Além de cantar uma música da Ditadura Militar (1964-1985), ao vivo, a atriz ainda minimizou as mortes e torturas registradas no período em que os militares mandavam no país.

“Sempre houve tortura. Meu Deus, Stalin, quantas mortes? Hitler, quantas mortes? Se a gente for trazendo mortes, arrastando esse cemitério… Desculpe, mas não, não quero arrastar um cemitério de mortos nas minhas costas. Eu não desejo isso para ninguém. Eu sou leve, sabe? Eu estou viva, estamos vivos, vamos ficar vivos. Por que olhar para trás? Não vive quem fica arrastando cordéis de caixões”, disse a então secretária.

Em outro momento, começou a cantar “Pra Frente Brasil”, música da época da ditadura militar. “Não era gostoso cantar isso?”, perguntou. O âncora Reinaldo Gottino, que acompanhava a conversa do estúdio, também entrou no assunto. “Acho que a gente não pode minimizar a questão da ditadura, isso tem que ficar claro”, interferiu.

Regina Duarte escreveu, dias depois, um artigo no jornal O Estado de S. Paulo no qual se desculpava caso tivesse passado “a impressão de que teria endossado a tortura, algo inominável e que jamais teria minha anuência, como sabem os que conhecem minha história”. Para o advogado de Lygia, isso não foi suficiente e o texto da retratação deve ser definido em conjunto entre as partes.

Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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