Entregadores de aplicativos vão fazer paralisação: ‘Trabalho escravo’

Manifestação acontecerá na Praça da Assembleia
Manifestação acontecerá na Praça da Assembleia (Reprodução/Redes Sociais + Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

Entregadores de aplicativos realizarão uma paralisação e uma manifestação na quarta-feira (1º), na praça da Assembleia, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Os profissionais cobram melhores condições de trabalho e a maior participação financeira no preço recebido pelas “corridas”. Além de ganharem pouco e se arriscarem em meio à pandemia, os trabalhadores não têm ajuda com questões básicas como: local para esperar as entregas, máscaras e álcool em gel.

Os altos custos para manter o serviço, aliado ao baixo valor recebido, tem feito alguns profissionais deixarem até mesmo o emprego. É o caso de Cristiano Ferreira, de 47 anos. “Eu parei quando começou a pandemia [do novo coronavírus]. Não estava dando lucro nenhum, a carga de trabalho era excessiva e o retorno financeiro muito pouco”, contou ao BHAZ.

Apesar de trabalhar durante todo o dia, Cristiano não conseguia dinheiro para pagar as contas. “Começava por volta das 6h e ia até as 22h, e ganhava por volta de R$ 30. Estava quebrando pedra”, desabafou.

Paralisação acontecerá na quarta (Reprodução/Redes Sociais)

Cristiano informou que, ao final do mês, o valor que conseguia não era compatível com o trabalho realizado. “O valor bruto somava quase R$ 1,4 mil. A questão é que eu precisava usar parte do dinheiro para dar manutenção, colocar o combustível e ter condições para rodar. O que restava era menos de um salário mínimo”, explicou.

Segundo o entregador, eles recebem dos aplicativos aproximadamente 25% do valor que os apps recebem dos comércios. “Para exemplificar: se a comida custou R$ 70, a empresa fica com 25%, que é R$ 17,50. Deste valor, ela nos passa 25% que soma uns R$ 4,40”, detalhou ao BHAZ.

‘Trabalho escravo’

A manifestação de quarta tem o objetivo de alertar as empresas sobre as dificuldades que a categoria encontra. Falta de lugar para esperar as entregas dos estabelecimentos é uma dos problemas citados por Cristiano.

“Nós não temos estrutura. A gente fica esperado sentado no chão e sequer temos um lugar para lavar as mãos. Os comércios não se importam se a gente está precisando de algo. Acham que temos que pegar de boca calada. É como se fosse trabalho escravo”.

A concentração da manifestação acontecerá a partir das 8h30, e os participantes prometeram desligar os apps e não fazerem corridas. “Esta é a única forma que encontramos de cobrar algo deles”, arugmentou.

‘Situação complicada’

O presidente do Sindicato dos Mototaxistas e Ciclistas Autônomos de Minas Gerais, Donizete Antônio de Oliveira, relatou que a entidade tem lutado por melhores condições para a categoria.

“Temos ação na Justiça e o MP (Ministério Público) está em cima para nos ajudar nesta questão. Até agora, não conseguimos fechar nada. A situação dos entregadores é complicada”, comentou.

O que dizem os apps?

Questionado pelo BHAZ sobre as taxas pagas aos entregadores, o Uber Eats informou que “todos os ganhos estão disponibilizados de forma transparente para os entregadores parceiros, no próprio aplicativo”.

Com relação aos valores das entregas, a empresa esclareceu que isto é determinado por uma “série de fatores, como a hora do pedido e distância a ser percorrida”.

Indagada sobre um possível diálogo para melhorar a condição de trabalho dos entregadores, a empresa não se manifestou.

O iFood também foi procurado pela reportagem e informou que “o valor médio pago por rota é de R$ 8,46.

“Esse valor é calculado usando fatores como, por exemplo, a distância percorrida entre o restaurante e o cliente, além de uma taxa pela coleta do pedido no restaurante e uma taxa pela entrega ao cliente, além de variações referentes a cidade, dia da semana e veículo utilizado para a entrega”, diz trecho da nota que pode ser lida na íntegra abaixo.

O iFood ainda destacou que a empresa “oferece um valor mínimo de R$ 5 por pedido, mesmo que seja para curta distância”. Sobre as medidas da empresa durante a pandemia do novo coronavírus, o iFood disse que, “em abril, iniciou a distribuição de EPIs (álcool em gel e máscaras reutilizáveis) em kits com duração de pelo menos um mês”.

O Uber Eats, por sua vez, disse que as ações da empresa frente à Covid-19 podem ser vistas clicando aqui.

Nota do iFood na íntegra:

Antes de mais nada, o iFood apoia a liberdade de expressão em todos as suas formas. Em nenhuma hipótese entregadores são desativados ou sofrem punições por participar de movimentos. Essa medida é tomada somente quando há um descumprimento dos Termos & Condições para utilização da plataforma e é válida tanto para entregadores, como para consumidores e restaurantes.

É importante frisar que desativar indevidamente um entregador que atua de forma correta é ruim para o iFood. Os principais casos de desativação acontecem quando a empresa recebe denúncias e tem evidências do descumprimento de regras, que pode incluir, por exemplo, extravio de pedidos, fraudes de pagamento ou, ainda, cessão da conta para terceiros.

Em casos identificados, o entregador recebe uma mensagem via aplicativo e é direcionado para um chat específico para entender o motivo da desativação e pedir análise do caso. Se comprovado o erro,  conta é reativada. A empresa também não adota nenhuma medida que possa prejudicar aqueles que rejeitam pedidos. Ao rejeitar muitos pedidos, o sistema entende que o entregador não está disponível naquele momento e pausa o aplicativo, voltando a enviar pedidos, em média,  15  minutos depois.

O iFood também não possui um sistema de ranking e nem de pontuação. O algoritmo de alocação de pedidos leva em consideração fatores como por exemplo, a disponibilidade e localização do entregador e distância entre restaurante e consumidor.

A empresa esclarece que o valor médio pago por rota é de R$ 8,46. Esse valor é calculado usando fatores como, por exemplo, a distância percorrida entre o restaurante e o cliente, além de uma taxa pela coleta do pedido no restaurante e uma taxa pela entrega ao cliente, além de variações referentes a cidade, dia da semana e veículo utilizado para a entrega. Todos os entregadores ficam sabendo do valor por rota antes de aceitar ou declinar a entrega ofertada. A empresa oferece um valor mínimo de R$5,00 por pedido, mesmo que seja para curta distância.

Em maio, o valor médio por hora dos entregadores foi de R$ 21,80. Para fins de comparação apenas, esse valor é 4,6 vezes maior do que o pago por hora tendo como base o salário mínimo vigente no país. Esses entregadores foram responsáveis por 74% dos pedidos. Pelos dados do iFood, os ganhos médios mensais do grupo que têm a atividade de entregas como fonte principal de renda (37% do total) aumentaram 70% em maio quando comparados a fevereiro.

Quanto a seguros, desde o fim de 2019, o iFood oferece a todos os entregadores cadastrados em sua plataforma o Seguro de Acidente Pessoal. A iniciativa é operacionalizada pela MetLife e pela MDS. Com ela, estão cobertas despesas médicas e odontológicas e contemplada uma garantia financeira para a família em caso de acidentes. O seguro não representa nenhum tipo de custo para os parceiros. O benefício é válido durante o período no qual eles estão logados na plataforma da empresa e também no “retorno para casa” – válido por uma hora e até 30 km do local da última entrega realizada de moto, ou por duas horas e até 30 Km do local da última entrega para quem realiza entregas com bicicletas, patinetes ou a pé. O iFood possui ainda parceria com a Prefeitura Municipal de São Paulo para promover boas práticas de conduta no trânsito.

Sobre medidas de enfrentamento do Covid-19, desde o início da pandemia, em março, foram implementadas medidas protetivas que incluem fundos de auxílio financeiro para quem apresentar sintomas e para aqueles que fazem parte dos grupos de risco. Também foi disponibilizado gratuitamente até o final do ano um plano de benefícios em serviço de saúde. Até o momento, foram destinados mais de R$ 25 milhões a essas iniciativas.

Em abril, a empresa iniciou a distribuição de EPIs (álcool em gel e máscaras reutilizáveis) em kits com duração de pelo menos um mês. O iFood desenvolveu uma logística específica para retirada desses materiais, para evitar aglomerações. O entregador recebe um convite no aplicativo, como se fosse um pedido, e é pago pelo deslocamento até o ponto de retirada. 

A empresa já comunicou todos os entregadores ativos sobre a retirada e está focada grande parte dos seus esforços para atingir toda a base de entregadores nas cidades em que operamos. Também continuamos avaliando alternativas para atingir mais pessoas de forma segura e controlada, considerando a distribuição mensal para que todos tenham materiais sempre

De acordo com pesquisa do Instituto Locomotiva realizada em abril, as medidas adotadas pelo iFood tiveram nota média de 8,9, melhor avaliação entre as ações realizadas por empresas do setor que operam no Brasil. Oito em cada dez entregadores avaliam muito positivamente as iniciativas. A pesquisa mostra ainda que, mesmo após o fim da crise, 92% dos entregadores pretendem continuar na atividade de entregas por aplicativo”.

Nota do Uber Eats na íntegra:

“Todos os ganhos com o Uber Eats estão disponibilizados de forma transparente para os entregadores parceiros, no próprio aplicativo, ficando clara cada taxa e valor correspondente. Os valores pagos pelo consumidor para cada entrega são determinados por uma série de fatores, como a hora do pedido e distância a ser percorrida.

neste link você pode conferir as ações da empresa frente à Covid-19, como assistência financeira para motoristas e entregadores e o reembolso de álcool em gel e produtos de limpeza”.

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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