Livreiro tem o sebo incendiado e moradores de BH se mobilizam para ajudar

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Odilon já recebeu mais de 200 livros até esta manhã (Nathália Ribeiro + Luiza Arantes/Arquivo Pessoal)

Uma história que decepcionou os moradores de Belo Horizonte acabou tendo uma reviravolta e virando um exemplo da solidariedade. O caso do livreiro Odilon Tavares, que teve os livros queimados no último sábado (27), repercute nas redes sociais e mobiliza belo-horizontinos dispostos a ajudar o próximo.

Odilon, de 58 anos, vende livros a 5 reais em um sebo a céu aberto, na esquina da avenida do Contorno com a rua Grão Mogol, no Carmo, Zona Sul da capital mineira. Nessa segunda-feira (29), ele passou pelo local e encontrou os livros queimados e revirados. 

“Quando cheguei para dar uma olhada eles já estavam assim, vi tudo queimado. Parece que as câmeras da loja em frente à esquina registraram um homem, de costas, incendiando os livros, mas não cheguei a ver as imagens”, conta Odilon ao BHAZ.

Uma estudante viu a cena e se mobilizou para ajudar o livreiro (Nathália Ribeiro/Arquivo Pessoal)

Quem passa pela região com frequência, em frente à loja Kalunga, com certeza já se deparou com o sebo de Odilon. Ele vende os livros no local há pouco mais de dois anos, mas já trabalhava na região, fazendo reciclagem, há quase dez. 

O Corpo de Bombeiros confirmou que, no sábado, militares foram acionados para conter o incêndio, que chegou a ameaçar os imóveis ao lado. Segundo a corporação, o chefe das equipes que estiveram no local percebeu que o amontoado se tratava de um grande volume de papel e foram utilizados mil litros de água para combater as chamas. 

Mobilização

O caso passou a repercutir nas redes sociais quando, na tarde dessa segunda (29), a estudante de medicina Nathália Ribeiro, de 26 anos, compartilhou uma imagem do acervo queimado e pediu que os seguidores se mobilizassem para doar livros para o Odilon.

“Eu moro do lado e sempre passo por lá. Minha mãe me mandou uma mensagem falando que tinham colocado fogo nos livros dele, eu fiquei muito triste e fui lá ver. Inicialmente eu divulguei no meu grupo da faculdade e no meu Instagram, não sabia a proporção que ia ter”, conta Nathália.

A publicação no Instagram viralizou e vários moradores de BH se comoveram com a situação. Nathália incentiva que cada um vá até o local e faça as doações presencialmente, já que ele não tem carro para buscá-las, mas outras pessoas também se dispuseram a ajudar e recolher livros a serem doados ao livreiro.

Doações a mil

Durante uma conversa rápida com Odilon, na manhã desta terça-feira (30) ele parou quatro vezes para receber e agradecer doações de moradores. Ele conta que, desde ontem, já recebeu cerca de 200 livros.

“Muita gente está chegando para doar, ou entrando em contato falando que vai trazer mais livros. Tem muita gente tentando me ajudar, o povo é muito solidário”, conta o livreiro.

A situação chamou a atenção do estudante Daniel Leal, de 17 anos, que faz parte do grupo filantrópico Ordem DeMolay. O grupo se mobilizou para receber doações de quem não consegue ir até o local e vai entregá-las a Odilon na próxima sexta-feira (3).

“Vi a publicação da Nathália no Instagram e vi a oportunidade de organizar uma doação mais abrangente. Não esperava que ia dar tanta divulgação e alcançar tanta gente. De ontem pra hoje, cerca de 35 pessoas entraram em contato querendo ajudar”, conta o estudante.

Ele pede que as doações sejam feitas diretamente ao livreiro, mas tenta ajudar quem não tem a oportunidade. O grupo já recolheu cerca de seis caixas de livros e até pessoas de fora de BH entraram em contato para ajudar.

Quem puder doar livros ao senhor Odilon deve ir até a altura do número 5873 da avenida do Contorno, na esquina com a rua Grão Mogol, em frente à Kalunga. Quem não conseguir ir até o local pode entrar em contato com o grupo através da conta @artereal141 no Instagram para combinar uma forma de ajudar.

As doações já surpreenderam o livreiro e mostram que, mesmo em tempos difíceis, ainda há esperança. “Já não estou no prejuízo e só tenho a agradecer a Deus e a essas pessoas, e lamentar pelo incendiário que fez essa maldade. É muito bom ver a mobilização da sociedade, gente me apoiando. Só estou agradecendo”, finaliza Odilon.

Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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