Hospital de campanha no Expominas deve abrir após o pico de Covid-19 e rende críticas

Hospital de campanha
Secretário disse que Hospital de Campanha não deve ser utilizado em sua ‘plenitude’ (Amanda Dias/BHAZ)

Mesmo com a aceleração de casos de Covid-19 e o iminente esgotamento de leitos – de enfermaria e UTI – em hospitais, o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, disse nesta quarta-feira (1º) que o hospital de campanha, montado no Expominas, não deverá ser totalmente utilizado e nem ativado antes de 16 de julho, portanto, um dia após a data prevista para o pico de casos da doença.

“Acho que esse hospital de campanha, na plenitude, é muito difícil de ser usado, a não ser que efetivamente a epidemia se descontrole muito, e é tudo que nós não queremos”, disse o secretário de Saúde em entrevista exclusiva ao BHAZ (veja o vídeo abaixo). Amaral reforçou, ainda, que a projeção está prevista no plano de contingência feito ainda no início do ano. Representantes de médicos e enfermeiros, no entanto, afirmam ao BHAZ a ativação da estrutura no Expominas é urgente.

30%

O secretário de Saúde adiantou que o hospital já tem capacidade de operar, mas só será ativado quando uma OS (Organização Social) for contratada para gerir a estrutura e contratar equipes médicas. “Sabemos que tem condição de abrir, mas isso vai envolver remanejamento de pessoal. O ideal no sentido de fazer [a abertura] vai ser quando realmente o processo da OS estiver pronto”, conclui.

Procurada, a Seplag (Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão), responsável pela contratação da OS, disse em nota (veja na íntegra abaixo) que a previsão é de que o edital seja concluído no dia 16 de julho, um dia depois da previsão do pico da pandemia no Estado. Em relação à abertura imediata, a secretaria diz que o hospital tem condições de operar em 30% de sua capacidade.

Secretário Carlos Eduardo Amaral disse que hospital de campanha não deve ser utilizado em sua plenitude (Amanda Dias/BHAZ)

Ocupação de leitos

Minas ultrapassou, nesta quarta (1°), a marca de mil mortes em decorrência da Covid-19. Ao todo, são 1.007 óbitos e 47.584 infectados. Na manhã de hoje, o Estado registrava ocupação em 87,65% dos leitos de UTIs (Unidade de Terapia Intensiva). No início da tarde, o número despencou para 68,28%. Já os leitos clínicos do Estado estão com 89,83% de ocupação. Em Belo Horizonte, a situação também é alarmante: com 88% das UTIs já ocupadas e 70% dos leitos de enfermaria com pacientes.

O secretário afirma que, mesmo com a abertura do hospital de campanha, o problema de falta de UTIs, que atendem pacientes graves, não deverá ser resolvido, já que a unidade suporta apenas enfermarias (saiba mais sobre a estrutura do local aqui).

“A previsão do nosso planejamento, desde fevereiro, é que a abertura do hospital de campanha seria preconizada ou para o suporte da Fhemig ou em um caso em que, efetivamente, estivéssemos próximos da exaustão dos leitos clínicos e não leitos de terapia intensiva. Eu acho que é diferente. Quando falam assim: ‘ah nós estamos com 80% de ocupação de terapia intensiva’, o hospital de campanha, no momento, não teria esse objetivo”, afirma o secretário.

Carlos Eduardo aposta na abertura de leitos dentro de hospitais, antes de ativar a estrutura do Expominas. “De uma forma geral, entendo que, se efetivamente começarmos a caminhar para exaustão, primeiro temos que ter a certeza de que não conseguimos recrutar mais leitos nos hospitais que já estão aí. Se nós tivermos esses dados que digam: ‘olha, realmente está difícil recrutar leitos de uma forma geral em toda macrorregião Centro’… Aí sim começaríamos a pensar em abrir o hospital de campanha ou para ser um suporte das internações da Fhemig”, diz o secretário.

‘Hospital para tirar foto’

Profissionais da área, por outro lado, afirmam que o hospital já deveria estar em funcionamento. Para o presidente do Sinmed-MG (Sindicato dos Médicos de Minas Gerais), Fernando Mendonça, o Estado está com “um abacaxi nas mãos”, pois construiu o hospital e não tem recursos para contratar equipes médicas.

“A sensação que passa é que aquele hospital foi construído para tirar foto, para inglês ver. O Estado, na verdade, não tem recursos humanos para por lá porque não tem dinheiro. Por isso, ficam falando que ainda não é a hora de abrir. Se tem o hospital e não é o momento de utilizá-lo, mesmo com gestores municipais apontando o esgotamento de leitos, por que ele foi construído?”, questiona o presidente.

“O Estado não quer assumir que fez um compromisso com iniciativa privada e com a PM (Polícia Militar) para montar o espaço físico e com a secretaria para prover recursos humanos. Mas o governo não tem esses recursos humanos”, acrescenta.

Pare presidente do Sindmed, hospital foi montado para ‘tirar foto’ (Amanda Dias/BHAZ)

Para Fernando, os leitos de enfermaria estão começando a se esgotar nos hospitais. Diante disso, o hospital de campanha deveria ser utilizado como suporte para hospitais e também como uma retaguarda, já que pacientes que saem da UTI também são encaminhados para enfermarias para observação.

“O colapso está chegando. O Estado não vai conseguir aumentar muitos leitos dentro da estrutura que já tem. Tiveram mais de 100 dias para se preparar para esse momento e não se prepararam. Dificilmente vão conseguir mais leitos do que já têm. Precisa de UTIs? Sim, mas precisa de enfermaria também”, afirma.

Procurada, a SES-MG não se posicionou sobre as críticas do presidente do Sinmed-MG até o fechamento desta matéria. Caso a secretaria se posicione, esta reportagem será atualizada.

Falta de tempo

Outro temor é a falta de tempo entre o início da contratação das equipes médicas para trabalharem no hospital de campanha e o avanço grave da doença, podendo causar a sobrecarga do sistema de saúde. Para o presidente do Seemg (Sindicato dos Enfermeiros de Minas Gerais), Anderson Rodrigues, a estrutura do Expominas “já passou da hora de estar funcionando”.

“Na nossa vivência, no dia a dia, há um medo muito grande de sobrecarregar, chegar a 100% dos leitos ocupados e depois não ter tempo hábil para que as coisas aconteçam como devem ser feitas. Minas poderia estar mais organizada em questão de fluxo. Entendemos que hospital deveria estar aberto. Estamos pressionando, pois já passou da hora de estar funcionando”, pontua.

O presidente também mostra preocupação com o processo seletivo que ainda não se iniciou. “Ainda não tem etapas de contratação e ainda será preciso um treinamento. Essa demora ocasiona mortes e quem sofre psicologicamente são os profissionais da saúde na linha de frente, que vê gente morrendo sem saber para mandar”, destaca.

Nota da Seplag

“Informamos que o Hospital de Campanha, instalado no Expominas, tem condições de funcionar, assim que houver necessidade de receber pacientes para o tratamento da Covid-19. A abertura do hospital poderá ocorrer, independentemente do processo de seleção da Organização Social, operando com 30% de sua capacidade, utilizando todos os recursos próprios do Governo do Estado.

O processo de seleção da Organização Social segue em andamento, com previsão de conclusão em 16 de julho. A partir disso, o Hospital de Campanha já poderá operar com 100%. O valor estimado a ser repassado pela PMMG por meio do contrato de gestão é de R$ 42 milhões”.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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