MG pode não ter pico de Covid-19 como o previsto, diz secretário; especialista aponta risco de ‘desastre’

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Para secretário de saúde, o pico da doença deve ser amenizado (Amanda Dias/BHAZ)

O pico da Covid-19 em Minas Gerais, previsto para o dia 15 de julho, período em que o Estado registraria um grande número de infectados e mortes causadas pelo novo coronavírus, pode ser suavizado ou não existir. A afirmação foi feita pelo secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, que acredita que medidas tomadas pelo Governo, em parceria com as prefeituras, podem surtir efeitos positivos nos próximos dias.

“Não sei nem se a gente vai chegar ao pico. Na verdade, o que temos são projeções de que é possível que tenhamos mais casos no dia 15 de julho. Mas, neste momento eu não teria essa ideia de que vamos chegar ao pico”, disse o secretário em entrevista ao BHAZ, nessa quarta-feira (1º).

Para o secretário de Saúde o pico pode não ser como o estimado (Amanda Dias/BHAZ)

Especialistas ouvidos pela reportagem se dividem em relação ao posicionamento de Carlos Eduardo. Um deles acredita que a situação deve se agravar nos próximos dias, chegando assim a um pico de contaminação. Por outro lado, um infectologista aponta que existe a possibilidade de já estarmos dentro do pico da pandemia ou em uma primeira onda. Apesar disso, ambos alertam que existe o risco de a situação piorar.

Estratégia de redução

Nesta quinta (2), Minas registrou mais de três mil novos infectados pela Covid-19 em apenas 24 horas. O Estado também contabilizou 52 novos óbitos, no mesmo período. No dia 25 de maio, em entrevista coletiva na Cidade Administrativa, Carlos Eduardo disse que o Estado registraria entre dois e três mil casos diários da doença durante o pico (veja aqui).

Ao BHAZ, nessa quarta, o secretário disse que a pandemia pode se estabilizar. Ele atribui a nova projeção a medidas adotadas em discussão com prefeitos e secretários municipais de saúde.

“Fizemos reuniões com todos os prefeitos e secretários de saúde do Estado, orientando o isolamento adequado e medidas que a SES-MG (Secretaria de Estado de Saúde) achava que deveriam adotar e no momento que achávamos que deveriam adotar. Na minha visão, como existe uma inércia entre o início das medidas e o resultado, essa semana e semana que vem, essa inércia deve se concretizar como um bom resultado. Entendemos que neste momento deva ter uma redução do crescimento no sentido do aumento da epidemia”, afirma o secretário (veja vídeo abaixo).

No entanto, Carlos não descarta o aumento de casos nos próximos dias. “Entendo que temos 15 dias de aumento de casos ainda, mas já tomamos medidas aqui na secretaria no sentido de melhorar o isolamento no Estado, isso há mais de 20 dias”, diz.

Pico pode ser agora

Ao BHAZ, o infectologista Leandro Curi disse concordar em partes com o que diz o secretário. Para ele, a curva pode ser achatada nos próximos dias, fazendo com que MG tenha um aumento na contaminação menos inclinado. Ou seja, sem um acréscimo repentino capaz de colapsar o sistema de saúde.

“Só saberemos quando foi o pico quando passarmos por ele. Realmente, por mais que a gente queira esse aumento logo para ter um decréscimo no número de casos, é preciso ter cuidado, pois estamos em situação de alerta em Minas. Há um conforto em relação ao resto do país, mas temos de estar atentos ao esgotamento de leitos e aumento de casos no interior”, ressalta Curi.

Minas pode já estar passando pelo pico de contaminação (Amanda Dias/BHAZ)

O especialista aponta que podemos já estar dentro do pico, mas que isso é difícil de estimar. “É difícil falar que já estamos lá, mas os números de três mil casos diários podem indicar que possamos estar em um momento de aumento e que deve começar a abaixar ou que a nossa subida será ainda mais íngreme. Tudo isso depende das medidas de isolamento que foram adotadas pelas cidades. A gente torce para que já estejamos dentro do pico, pois o sistema de saúde está chegando ao limite e não tem capacidade de ir além”, afirma.

Outra questão apontada por Curi pode ser o que os especialistas chamam de “primeira onda”. “Nós ainda não temos vacina e não sabemos se a infecção pelo vírus confere uma imunidade fixa ou provisória às pessoas. Portanto, nesse momento podemos ter uma escalada íngreme, depois uma redução drástica e um novo aumento, o que seria uma segunda onda. Por isso é preciso manter o alerta e as medidas de isolamento e cuidados”, conclui.

‘Cenário de desastre’

Para o professor de estatística da UFMG Luiz Henrique Duczmal, responsável pelo estudo repercutido internacionalmente que mostrava a ineficiência do isolamento vertical, os números atuais do Estado não mostram uma boa projeção.

“Estamos em uma situação muito crítica em Minas, estamos em uma onda crescente de casos, principalmente no interior de Minas, o que é muito preocupante. Estamos à beira do desastre. Se não tomarem medidas rígidas de isolamento, nós teremos no interior uma tendência muito perigosa, podendo ter uma pandemia com grande número de mortes”, afirma.

Aumento de casos no interior preocupa especialista (Amanda Dias/BHAZ)

O especialista diz que a fala do secretário não condiz com os números atuais. “Não faz sentido, a curva está ascendendo e a situação é muito crítica. Estamos em uma onda de crescimento e o pico ainda não foi atingido. E pela quantidade de casos novos, vamos ter um pico mais para frente altíssimo”, ressalta o professor.

Ele sugere ainda que medidas rígidas de isolamento sejam adotadas no Estado. “Se isso não for feito agora, infelizmente a tendência em Minas, pelo que se vê no interior, é reproduzir o que aconteceu no Rio de Janeiro e em Manaus, com a situação saindo completamente de controle”, conclui.

Hospital de Campanha

Mesmo com aumento de casos, hospital de campanha não deve ser utilizado (Amanda Dias/BHAZ)

Mesmo com a aceleração de casos de Covid-19 e o iminente esgotamento de leitos – de enfermaria e UTI – em hospitais, o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, disse, nessa quarta-feira (1º), que o hospital de campanha, montado no Expominas, não deverá ser totalmente utilizado e nem ativado antes de 16 de julho, portanto, um dia após a data prevista para o pico de casos da doença (leia mais aqui).

“Acho que esse hospital de campanha, na plenitude, é muito difícil de ser usado, a não ser que efetivamente a epidemia se descontrole muito, e é tudo que nós não queremos”, disse o secretário de Saúde também em entrevista exclusiva ao BHAZ.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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