Cidades mineiras ainda vivem sem o novo coronavírus, mas são mais vulneráveis: ‘Bomba relógio’

cidades sem coronavirus de MG
(Prefeitura Municipal de Coluna/Facebook/Reprodução)

Viver em uma cidade onde não foi identificado nenhum caso do novo coronavírus pode parecer algo tranquilizador, principalmente em comparação com as localidades em que os números da doença só crescem. No entanto, os sistemas de saúde pouco desenvolvidos e o relaxamento de medidas de proteção, pela falsa segurança proporcionada pelos números, acabam criando uma ameaça ainda maior nesses lugares.

Em Minas Gerais, 137 municípios ainda não tiveram nenhum caso confirmado da doença, segundo o último informe epidemiológico divulgado pelo Governo, nessa sexta-feira (3). Entre eles está a cidade de Coluna, que conta com apenas 8.907 habitantes, de acordo com estimativas de 2018 do IBGE. Professora da rede municipal lá, Maria Inês Hilário relata ao BHAZ as aglomerações que ainda ocorrem na cidade.

“O pior problema da cidade é em relação ao banco, que só tem um para pagar os funcionários públicos, aposentados e pensionistas. Quando é o final do mês até o nono dia útil do mês seguinte, a praça da cidade nem parece que estamos em época de pandemia, de tanto que é o fluxo de pessoas. Muitos ainda pegam todo o pagamento em dinheiro, tem dia que tem, no mínimo, 60 pessoas na fila”, detalha.

A professora também relata a chegada de pessoas de outras cidades, que acabam expondo os moradores de Coluna. “Houve também uma grande migração de pessoas que já moravam em outros municípios e voltaram para a cidade, para viver com a família. Mesmo que a prefeitura esteja indo nas casas e pedindo para fazer quarentena de 7 a 14 dias, muita gente, infelizmente não faz isso. O sentimento continua sendo de medo, é uma bomba relógio”, lamenta.

Questão de tempo

O professor da Faculdade de Medicina da UFMG Ricardo Alexandre de Souza afirma que é uma questão de tempo até que o vírus atinja esses municípios. “Com o tempo, espera-se que 100% de Minas Gerais esteja afetada”, declara.

Ricardo também ressalta que o fato de não existirem casos confirmados, não garante que as infecções de fato não existam. “Já temos um tempo de pandemia, mas os testes ainda não são acessíveis”, acrescenta. Segundo o professor, os casos mais moderados ou graves são mais identificados. Assim, as infecções com sintomas leves ou assintomáticas podem não ser ser detectadas.

Existe uma série de fatores que pode fazer com que a chegada do vírus em pequenas cidades do interior cause mais problemas do que nas grandes metrópoles. “Muitas dessas cidades não têm hospitais, não tem facilidade de deslocar pacientes graves, são serviços de saúde mais precários. Além disso, têm uma estrutura etária com pessoas mais idosas”, exemplifica o professor.

Possibilidades positivas

Apesar dos riscos do novo coronavírus para os municípios menores, o professor explica que a pandemia pode também acabar tendo um efeito mais brando nesses locais. “A população é pequena e hoje sabemos que a Covid-19 tem uma mortalidade de 0,3% ou menos. Então, pode ser que a imunidade de rebanho seja alcançada sem que sejam desenvolvidos casos graves”, destaca.

Esse ponto só é atingido após a maioria da população do município ter contato com o vírus. Em alguns casos, como são poucas pessoas, pode ser que nenhum dos infectados desenvolva sintomas graves ou evolua para um óbito.

Pandemia desigual

Sobre os movimentos de migração das pessoas para o interior, o professor destaca a importância de que medidas específicas sejam tomadas. “O mínimo que eu esperaria dessa pessoa é que fique em casa durante sete dias. Nesse momento, há uma circulação muito grande do vírus”, alerta.

Apesar de se espalhar rapidamente, o professor explica que é uma pandemia desigual, que atinge a população de forma diferente. “A entrada do coronavírus no Brasil aconteceu em São Paulo e Rio de Janeiro. Depois de ter entrado nas duas grandes capitais, espalha para as cidades de médio e depois de pequeno porte”, afirma.

“A infecção também começa nas camadas mais ricas e atinge rapidamente as camadas mais pobres, que é muito subnotificada e mais vulnerável. Assim, acabam tendo maior letalidade do que as pessoas mais ricas e das capitais também”, conclui.

Guilherme Gurgel[email protected]

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Escreve com foco nas editorias de Cidades e Variedades no BHAZ.

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