Presídio tem 80% de detentos infectados e uma morte em Minas

hospital padre júlio maria manhumirim
O detento foi atendido no Hospital Padre Júlio Maria. em Manhumirim (Google Imagens/Reprodução)

O presídio de Manhumirim, na Zona da Mata, passa por um surto de Covid-19. Atualmente, a unidade prisional tem um óbito suspeito da doença e 159 detentos testaram positivo para o novo coronavírus, de acordo com a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública). Há pouco mais de uma semana, o número de infectados era de 43. Ao BHAZ, um infectologista explica o que deve ser feito e como a Covid-19 pode se espalhar rapidamente pela cidade.

O detento Lucas Morais da Trindade, de 28 anos, passou mal e morreu no último sábado (4). É a primeira morte por suspeita do novo coronavírus no presídio da cidade. Como foi feito apenas o teste rápido na vítima, o óbito ainda é considerado suspeito. Segundo laudo médico, Lucas testou positivo no dia 25 de junho, quando foi isolado dos outros detentos. Ele não apresentava sintomas.

No último sábado (6), ainda segundo o laudo, ele desmaiou na cela, por volta das 10h15, e foi levado ao hospital Padre Júlio Maria, dando entrada no centro de saúde às 10h25. Na ficha médica, consta que ele não tinha histórico de outras doenças e não fazia uso de medicação controlada.

Por meio de nota (leia abaixo na íntegra), a Sejusp afirmou que “as alas em que se encontram [os detentos] foram isoladas, desinfectadas e todos os servidores e demais detentos do local usam máscaras de forma preventiva”. O órgão diz ainda que “não informa a lotação de unidades prisionais, por questões de segurança”. Segundo um processo da Defensoria Pública, o local conta com cerca de 200 detentos, o que corresponderia a 80% de infecções.

Sobre a morte de Lucas, a Sejusp explicou que está “em investigação na unidade, porém, sem confirmação para causa Covid-19 até o momento. Há a investigação em andamento, inclusive, se a morte está relacionada à ação de outro detento”.

O que fazer?

O infectologista Leandro Curi explica que, agora, é preciso agir rápido. “Classicamente, doenças respiratórias são facilmente disseminadas dentro de presídios, como a tuberculose, por exemplo. Sabemos que as condições de distanciamento nesses locais são quase inexistentes, além de uma péssima condição de circulação de ar”.

“De imediato, é necessário separar os detentos que não estão com a doença, dos contaminados. Essas pessoas precisam trocar de celas. O ideal, é que fiquem isoladas por pelo menos 14 dias, para verificar o possível contágio e evolução”, continua o médico.

Outro ponto é entender como a doença chegou ao local. “Existem diversas vias. Uma das principais é por meio das pessoas que trabalham no presídio ou visitas. O contrário também acontece, com funcionários que foram contaminados no local, utilizam transporte público e contaminam outras pessoas pela cidade”, reforça Curi.

Situação em Minas

A Sejusp informou que, até às 10h desta quinta-feira (9), 344 pessoas que estão sob a custódia do sistema prisional mineiro testaram positivo para a Covid-19. São 60 mil detentos em Minas. 

Os dados, ainda segundo a pasta, apontam 338 custodiados cumprindo período de quarentena dentro das unidades prisionais, acompanhados pelas equipes de saúde das unidades, assintomáticos ou com sintomas leves da doença.

O órgão garante que as alas em que os contaminados estão “foram isoladas, desinfectadas e todos servidores e demais detentos do local usam máscaras de forma preventiva”. A Sejusp ainda relata que há um preso internado por causa do novo coronavírus e outros cinco então em prisão domiciliar, monitorados por tornozeleira.

Registros de infecções

As infecções foram registradas nos presídios de Pitangui, Nova Serrana, Iturama, Itambacuri, Pompéu, Curvelo, Formiga, Manhumirim, Coronel Fabriciano, Matozinhos, Abre Campo, Presídio Inspetor José Martinho Drumond (Ribeirão das Neves), Penitenciaria José Maria Alkmin (Ribeirão das Neves), Complexo Penitenciário Parceria Público-Privada (Ribeirão das Neves), Presídio Floramar (Divinópolis), Ceresp Juiz de Fora e Ceresp Gameleira (Belo Horizonte). 

Até o momento, há três mortes por coronavírus confirmadas no sistema prisional mineiro. “Foram elas: no Ceresp Gameleira, em Belo Horizonte; no Presídio Inspetor José Martinho Drumond, em Ribeirão das Neves; além de um detento do Presídio Floramar, em Divinópolis, que havia recebido alvará uma semana antes do falecimento”.

Medidas de prevenção

A Sejusp garante que tem adotado medidas para prevenir e controlar a disseminação da doença nas unidades prisionais, que também são feitas em Manhumirim. Veja o que tem sido feito:

  • Unidades portas de entrada: foi adotado um modelo pioneiro no país de circulação restrita de detentos no período de pandemia, classificado como referência pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. Para evitar a contaminação por novos presos, foram criadas 30 unidades de referência, distribuídas em todo o território mineiro, que funcionam como centros de triagem e portas de entrada para novos custodiados do sistema prisional.
  • Todas as pessoas presas em Minas Gerais estão sendo encaminhadas para uma unidade específica em cada região e ficam, pelo menos, 15 dias, em quarentena e observação, evitando possível contágio caso fossem encaminhadas de imediato para outras unidades. Após a observação e atestada a sua saúde, são encaminhadas para as demais unidades prisionais do Estado.
  • Suspensão das visitas: para evitar a disseminação do vírus por meio de contato com o público externo, as visitas foram suspensas, para diminuir a circulação de pessoas externas, assim como a entrega, até então opcional, de kits suplementares contendo alimentos, remédios entre outros itens, para evitar a circulação de materiais contaminados. Destaca-se que esses itens continuam sendo fornecidos pelas unidades prisionais e recebidos, ainda, via Correios. Todos os kits enviados por meio postal são inspecionados, por questões de segurança, e estando em conformidade com a legislação, são entregues aos presos. 
  • Cuidados com quem já está preso: no caso de presos que já se encontram no sistema prisional, caso apresentem sintomas da covid-19, o protocolo é o seguinte: isolamento imediato, realização de exames e, em caso de confirmação, tratamento segundo protocolo da área da Saúde. Em todas as unidades em que há presos com covid-19 confirmados, a desinfecção do ambiente também é imediata e todos os demais detentos passam a usar máscaras, de forma preventiva. Evitar o contágio via profissionais de segurança: Imprescindíveis para a segurança das unidades, os profissionais estão com as escalas de trabalho dilatadas, de forma a diminuir a circulação desses servidores intra e extramuros. 
  • Evitar a circulação de presos para realização de audiências: foram instalados equipamentos para a realização de videoconferências judiciais em todas as unidades prisionais que estão, aos poucos, se adaptando para uso dessa ferramenta. Com isso, evita-se o deslocamento da maioria dos presos para o ambiente extramuros e diminui-se o risco de contágio pelo coronavírus. Já foram realizadas mais de 3 mil videoconferências judiciais neste período de pandemia – uma parceria com o Poder judiciário que deve se estender no período pós pandemia por resultar em ganhos positivos para todos os atores envolvidos. 
  • Contato com as famílias: com a suspensão das visitas, necessária para contenção do vírus, os familiares podem ter contato com seus parentes de três formas: por meio de cartas (ação prevista para todas as unidades e com média de 35 mil recebimentos por semana), ligações telefônicas (cujo número é diferente em cada unidade e deve ser fornecido pelo presídio ou penitenciária; a média semanal é de 15 mil ligações realizadas) ou videoconferências nas unidades em que essa tecnologia já está disponível. Mais de 45% das unidades prisionais já realizam visitas familiares por videoconferência. 
  • Limpeza geral e desinfecção de ambientes: as áreas estruturais como celas, pátios, áreas administrativas e técnicas, portarias, guaritas e, também, veículos estão passando por higienização reforçada, semanal, durante a pandemia. A ação é simultânea e sempre as terças-feiras em todas as 194 unidades do Estado. 
  • Máscaras e EPIs: o sistema prisional está produzindo máscaras para uso nas próprias unidades e segurança de todos. No interior das unidades prisionais já foram mais de 2,5 milhões de máscaras produzidas por custodiados. Todos os servidores são obrigados a circular no interior das unidades de EPIs e, a eles, este material é fornecido sistematicamente. Os presos também utilizam máscaras quando estão com algum sintoma suspeito ou quando pertencem a alas ou pavilhões onde outro detento foi testado positivo para a doença.

Nota da Sejusp sobre Manhumirim

“A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), por meio do Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen MG), informa que, até às 10 horas desta quinta-feira (9/7), 159 detentos que estão sob a custódia do sistema prisional mineiro em Manhumirim testaram positivo para a covid-19. As alas em que se encontram foram isoladas, desinfectadas e todos servidores e demais detentos do local usam máscaras de forma preventiva. A Sejusp não informa a lotação de unidades prisionais, por questões de segurança.

Há uma morte em investigação na unidade, porém, sem confirmação para causa covid-19 até o momento. Há a investigação em andamento, inclusive, se a morte está relacionada à ação de outro detento.”

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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