Entregador de aplicativo é sufocado por PMs: ‘Eu não consigo respirar’

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Homem participava de protesto em área rica de SP quando foi abordado (Ponte Jornalismo/Reprodução)

Por Arthur Stabile

Dois PMs agrediram um entregador durante abordagem policial na região de Pinheiros, zona oeste da cidade de São Paulo, na tarde desta terça-feira (14). “Socorro! Eu não consigo respirar”, disse o homem. Ele repetia que estava com falta de ar e questionava o motivo da abordagem truculenta, enquanto uma policial dava um golpe em seu pescoço.

A frase do entregador é a mesma que percorreu o mundo após o assassinato de George Floyd, um homem negro, por um policial branco em Minneapolis, nos EUA. Outros motoboys registraram a cena com seus celulares. Depois de derrubar o homem, dois PMs tentam imobilizá-lo. Eles participavam de um protesto na avenida Rebouças, que liga a zona oeste com o centro da capital paulista, por melhores condições de trabalho nos aplicativos de entrega.

“Aí, ó. Desse jeito aí. Olha a polícia nossa. É trabalhador!”, diz uma pessoa, enquanto um policial armado manda todos saírem. “Afasta!”, diz repetidas vezes. “Vai matar o cara. Pra quê isso?”, alerta um motoboy. Os policiais são da 1º companhia do 23º Batalhão de Polícia Militar, localizado no Alto de Pinheiros, bairro rico da capital paulista. A identificação da viatura é M-23116.

Após a agressão, o entregador e os policiais militares registraram ocorrência por resistência à prisão no 14º DP (Pinheiros). Segundo apurado pela Ponte, o motoboy assinou um termo circunstanciado e foi liberado. A versão dos policiais é de que ele teria desobedecido a abordagem ao pedir para esperarem o término de uma ligação. Os PMs consideraram como resistência e daí por diante se deu a cena filmada.

Na saída, o homem explicou o que aconteceu. “Seis policiais me agrediram, bateram e ameaçaram. Jogaram spray na minha cara, me eletrocutaram”, relata o homem, dizendo que os policiais tentaram tirar uma foto dele. “Ela [policial feminina] queria me tratar como autor de crime, queria tirar foto minha. Como não deixei, disse que ia me forjar, me matar, um monte de coisa”, continua.

Na saída, o motoboy informou que teve a moto apreendida. “Eu parado e fizeram tudo isso comigo. Prenderam minha moto, me ameaçaram de morte e tudo mais só porque eu não deixei tirar uma foto minha”. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, comandada pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo de João Doria (PSDB), a ordem de parada se deu porque o entregador estava com a placa da moto encoberta.

“O motociclista ofereceu resistência, sendo contido”, diz a pasta. “Foi constatado que ele está com a habilitação vencida desde 2019. A motocicleta foi apreendida administrativamente e a autoridade policial solicitou exames de corpo de delito aos policiais e ao rapaz”, prossegue.

Caso nada isolado

O caso acontece em meio a outros flagrantes de policiais agredindo pessoas durante abordagem. Em 21 de junho, policiais militares sufocaram um homem em Carapicuíba (Grande SP), o fazendo desmaiar por duas vezes. Dois dias depois, ação similar ocorreu em Ibaté, interior do estado. Ambas as vítimas eram negras.

No último domingo, o Fantástico, da TV Globo, revelou agressão de um PM a uma mulher negra de 51 anos. Imagens mostraram o policial pisando com o pé e jogando todo peso do seu corpo no pescoço da dona de um bar. O caso aconteceu em 30 de maio. “Os policiais sempre souberam conversar, sempre tratei com respeito. Sempre respeitei a farda. Infelizmente, não vejo mais essa farda com bons olhos”, lamenta.

“Mais uma vez imagens mostram a forma abusiva, truculenta e criminosa de agir da PM. Nada justifica esse tipo de ação”, define o advogado Damazio Gomes, integrante da Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio.

Segundo ele, se houve desacato, o homem deveria ser conduzido à delegacia de outra forma. “Se ele resiste à prisão, aí seria justificado tentarem imobilizá-lo. No vídeo não se demonstra isso”, analisa. O defensor cobra explicações do governo paulista e dos oficiais da PM. “É totalmente desproporcional. O comando da polícia precisa se posicionar. A sociedade está com medo da polícia e não é de hoje”, critica.

Ponte Jornalismo

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