O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que está com Covid-19, participou da cerimônia de arriamento da bandeira nacional nesse domingo (19), em frente ao Palácio da Alvorada. Reunido com apoiadores, ele ergueu uma caixa de cloroquina e fez propaganda do remédio, que não tem eficácia cientificamente comprovada no combate à doença.
Contrariando as recomendações médicas, o presidente deixou o isolamento domiciliar, provocou aglomeração em frente do Palácio e baixou a máscara para falar com apoiadores. Separados por um espelho d’água, eles “saudaram” o medicamento erguido por Bolsonaro, ao som de gritos de “cloroquina, cloroquina!”.
A galera tá saudando a Cloroquina. pic.twitter.com/ZTXgJnwhJh
— Armando Babaioff (@babaioff) July 19, 2020
Na conversa com apoiadores, que durou cerca de 50 minutos, Jair Bolsonaro garantiu que terminará o mandato e que vai fazer os votos dos apoiadores valerem até 2022. Ele também disse que “está tudo certo” para a criação de seu partido, o Aliança pelo Brasil, e que já está se preparando para concorrer à reeleição.
‘Simba’ e ‘saudação à mandioca’
Nas redes sociais, a atitude do presidente e dos apoiadores foi ridicularizada. O ato de erguer e saudar o medicamento foi comparado à cena do filme Rei Leão, da Disney, em que o personagem Rafiki ergue Simba. “Parece a regravação do Rei Leão, mas é só o povo venerando a cloroquina”, escreveu um usuário do Twitter.
Deixa eu ver se entendi, apoiadores do Bolsonaro saúdam cloroquina como se fosse o Simba de rei Leão??? Eu não acredito que eu estou vivo pra ver isso pic.twitter.com/gkZDrtQPSz
— PRETO REI ? (@bielking18) July 20, 2020
Outros compararam a situação à “saudação da mandioca”, proposta pela então presidente Dilma Rousseff, que foi ridicularizada por críticos do PT à época. “Saudar a mandioca não tirou a vida de ninguém. Mas saudar a cloroquina já tirou a vida de mais de 70 mil brasileiros”, pontuou um internauta.
Saudar a mandioca foi comédia. Saudar a cloroquina é terror. pic.twitter.com/7R8rH1rJ09
— Leonardo Sakamoto (@blogdosakamoto) July 20, 2020
Bolsonaro e a cloroquina
Mesmo antes de testar positivo para a Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro já fazia propaganda da hidroxicloroquina, apesar do remédio não ter eficácia comprovada no combate à doença. Na live semanal feita na última quinta-feira (16), ele exibiu uma caixa do medicamento, apesar de afirmar que não é “garoto-propaganda” do remédio (leia aqui).
A SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) divulgou, na sexta-feira (17), um informe que recomenda o abandono urgente da hidroxicloroquina para qualquer fase do tratamento da Covid-19 no Brasil, com base em dois estudos robustos publicados realizados nos Estados Unidos, Canadá e na Espanha.
Com base em dois estudos robustos publicados em 16/7 (EUA/Canadá e Espanha), a SBI acompanha sociedades médicas científicas internacionais e a OMS e recomenda o abandono URGENTE da hidroxicloroquina para qualquer fase do tratamento da COVID-19. | https://t.co/MGJ4oTSN0u pic.twitter.com/v3yYATHFXH
— Sociedade Brasileira de Infectologia (@SBInfectologia) July 17, 2020