Com Guilherme Gurgel
O isolamento social, necessário para a prevenção contra o novo coronavírus, tem feito várias pessoas adiarem planos e até mesmo cancelá-los. Festas de aniversário, por exemplo, não são recomendadas neste momento, já que provoca aglomerações.
No entanto, para não deixar a data sem uma comemoração, uma família do bairro Buritis, na região Oeste de BH, resolveu festejar em casa de maneira inusitada e seguindo as medidas de segurança contra a doença.
O aniversariante era Joaquim, de 6 anos, e o tema da festa foi o mais próximo da realidade: coronavírus. Em entrevista ao BHAZ, a mãe do garoto, Andrea Oliveira, explica que o tema não foi “uma festa sobre a doença” em si, mas uma maneira de explicar para o filho o motivo de nenhum amigo poder comparecer à comemoração.
A empresária conta que Joaquim é imunodeficiente, e com isso tem “deficiência de anticorpo polissacarídeo”. “A principio é algo exclusivo para bactérias, mas em 2018 ele teve uma pneumonia muito séria, ficou 10 dias no CTI, foi muito grave. Então a médica que acompanha falou que ele não poderia pegar nenhuma pneumonia”.
Para proteger Joaquim da Covid-19, Andrea e o marido trabalham em casa e só vão ao supermercado a cada 15 dias. “Meu filho não sai desde 13 de março”, conta.
Ideia da festa
Com a chegada do aniversário do garoto, o casal sequer cogitou a possibilidade de fazer uma festa com convidados. Surgiu, então, a ideia de conscientizar Joaquim sobre o coronavírus de um forma bem humorada. “É difícil explicar para ele que tá tudo diferente. Mas ele é super compreensível, em 2018 nós já tivemos uma quarentena, quando descobrimos a doença. É a segunda vez que ele passa por isso de ficar isolado”.
“A festa foi uma maneira bem humorada de explicar para ele que não poderia ter nenhum amiguinho, para ele lembrar do momento, que era importante a gente estar em casa”, completa Andrea. Para entreter Joaquim, os pais fizeram uma gincana e brincaram de estourar balões. Os docinhos vieram com mensagens de combate à Covid-19: “Fique em casa”, “Lave as mãos” e “Mantenha distância”.
(Arquivo pessoal/Andrea Oliveira)
O banner do aniversário da trazia o recado para quem “quisesse” comparecer: “Nenhum de vocês está convidado”. “Eu gostei da minha festa”, diz Joaquim. Perguntado sobre como ele iria se vingar do coronavírus, a criança responde. “Comendo todos eles”, já que alguns dos doces vinham com o desenho de vírus.
Preparação
A cake designer Nicole Ottmann é amiga da mãe de Joaquim e foi a escolhida para preparar a festa de aniversário. Ela conta, ao BHAZ, que desenvolveu tudo com base no pedido dela. “Eu pensei: tenho que fazer algo bem especial, aí eu já desenvolvi o que ela pediu com as coisas que estão acontecendo. Com a questão da higiene, de lavar as mãos, do vírus, o álcool gel”.
Ottmann destaca que a pandemia a fez reinventar no trabalho, já que precisou fazer um kit menor, mas sem perder a atração. “O doce não é só o consumo, não é só a comida, é um carinho, vai além o doce decorado, principalmente para criança, para trazer alegria numa hora tão tensa em que estamos tão limitados a fazer o que a gente gosta”, diz.
Polícia
O aniversário de Joaquim terminou com a presença da polícia. O motivo? É que os vizinhos confundiram os barulhos dos estouros dos balões com tiros. Andrea já dormia quando os militares chegaram ao apartamento deles e precisou acordar para mostrar que estava bem. “
Chegaram quatro viaturas policiais. Eu já estava dormindo e fizeram até meu marido me acordar para ver minha integridade física”, conta Andrea. Joaquim se divertiu quando ficou sabendo do caso. “Depois, quando eu contei pra ele, até isso ele achou muito legal”, conclui.
