Com o avanço do coronavírus no Brasil, tem ficado cada vez mais fácil se perder entre os dados e atualizações de estados e municípios. Foi justamente para ajudar na compreensão do problema que uma urbanista de Belo Horizonte desenvolveu uma plataforma que relata a distribuição dos casos da Covid-19 pelos bairros da capital mineira e os apresenta com uma linguagem mais acessível do que a dos relatórios oficiais.
O mapa (acesse aqui), criado por Eugênia Viana Cerqueira, foi lançando na última semana e mostra o total de casos confirmados e de mortes pela doença em cada bairro da capital. Na plataforma, é possível ver ainda os números gerais da cidade, bem como as taxas de ocupação de leitos de enfermaria e UTI. Tudo isso em uma estrutura simples, que não exige muito tempo ou familiaridade de quem quer ter acesso às informações.
“Isso surgiu de um questionamento pessoal e rapidamente evoluiu para a ideia de fazer uma plataforma de utilidade pública, onde as pessoas pudessem consultar e ter uma visualização mais prática”, contou Eugênia ao BHAZ. Ela explicou ainda que a ideia de fornecer os dados já interpretados surgiu da observação de iniciativas semelhantes em outros estados.
“Os relatórios divulgados acabam sendo muito técnicos e nem sempre as pessoas têm a iniciativa de procurar e interpretar. Foi uma movimentação que já existia no Rio e em São Paulo e, como aqui, em BH, a gente tem esses dados na escala do bairro, eu resolvi fazer também”, conta. O mapa é alimentado com informações disponibilizadas pela PBH (Prefeitura de Belo Horizonte), como forma não se perder em meio a várias fontes.
Movimento contrário
O cenário observado no Rio de Janeiro e em São Paulo serviram de inspiração não só para a plataforma, mas também para os questionamentos que deram origem a ela. Eugênia conta que sua curiosidade inicial foi entender qual era a dinâmica da doença nas periferias: “Eu me interessei em explorar mais um pouco esses dados, porque, desde o início, tem se percebido uma tendência de concentração muito forte na região Centro-Sul”.
“Eu comecei a questionar se a disseminação em BH era diferente das outras cidades, porque o que a gente viu foi que em São Paulo e no Rio a disseminação foi das periferias para o centro, e não o contrário”, completa. Então, sozinha, ela começou a disponibilizar as análises que foram fruto desse questionamento para que outras pessoas também pudessem entender melhor o cenário geral: “Estou tentando contribuir de alguma forma para a transparência e a divulgação dos dados em um contexto já tão complexo”.
Atualizações
Apesar de existir há apenas uma semana, a plataforma já ganhou algumas atualizações. “No primeiro dia, eu lancei só com os indicadores básicos: total de casos, óbitos etc. Depois eu coloquei evolução. Ontem, eu coloquei a localização dos hospitais e as informações de leitos…”, conta a urbanista, que está incrementando o site gradualmente e fazendo atualizações à medida que novos dados são divulgados: “Vou continuar atualizando semanalmente, com os dados por bairro, e diariamente pretendo colocar taxa de ocupação de leitos e outros números”.
E ela garantiu que vai continuar com atualizações e interpretações um pouco mais complexas. “Numa segunda fase, eu pretendo fazer um cálculo de acesso da população aos equipamentos de saúde, para ver como é essa distribuição, quais bairros têm menos acesso e quais têm mais”, conta.
O objetivo final é reforçar o teor de utilidade pública da plataforma: “Vou atualizando e criando um site direto, a que os moradores possam recorrer para ter uma ideia de como está a situação da Covid-19 em BH e talvez ajudar a conscientizar as pessoas sobre a importância do isolamento social”.
