Cidade mineira tem aumento de quase 200 vezes em casos de Covid-19

Cidade de Bandeira e funcionário fazendo desinfecção de comércio
Surto em empresa de energia coloco a cidade de Bandeira no topo da lista de incidência da Covid-19 (Reprodução/Facebook)

Acostumados a um estilo de vida pacato, moradores da pequena cidade de Bandeira, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, viram o município alcançar o topo da lista de localidades com maior incidência de casos do novo coronavírus em todo o estado. Por lá, o número de infectados saltou de um para 198 no intervalo de apenas um mês.

Bandeira tem a população aproximada de 4,7 mil pessoas, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), atualizados em 2019. A SES-MG (Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais) reconhece que a cidade passa por um surto da doença, com um aumento repentino de casos e monitora a situação.

Alto índice

Para calcular a incidência do novo coronavírus é feito um cálculo do índice de contaminados a cada 100 mil habitantes. O objetivo da taxa por cem mil é garantir que a comparação entre municípios pequenos e grandes seja proporcional. Por exemplo, BH, até ontem (29), era a cidade com o maior número de casos de Covid-19, com um total de 17.237 infectados. No entanto, por ter uma população maior, o índice de contaminados é de 686 a cada 100 mil habitantes.

Dentro desta fórmula, Bandeira chega, atualmente, ao topo da lista. É como se, na cidade, 4.129 mil pessoas estivessem infectadas a cada 100 mil habitantes. A proporção é de que, a cada 100 moradores de Bandeira, quatro estão infectados pela doença.

Na tabela abaixo estão as 10 cidades com maior índice de contaminação por 100 mil habitantes em Minas Gerais:

CidadePopulaçãoCasos confirmadosCasos por 100 mil/h
Bandeira4.7951984.129
Santana do Paraíso34.6631.2353.563
Alvarenga3.9071142.918
Chiador2.687772.866
Conceição do Mato Dentro17.8424292.404
Santa Juliana14.0033242.314
Extrema36.2258262.280
Itapeva9.7832102.147
Ipatinga263.4105.4532.070
Doresópolis1.527312.030
Dados da SES-MG disponíveis até esta quarta-feira (29)


A prefeitura de Bandeira credita o surto de Covid-19 à empresa de energia Tabocas, que tem sede na cidade. Segundo prefeito, Antônio Rodrigues (partido), cerca de 70% do total de casos do município são funcionários da instituição. Ou seja, dos 198 infectados na cidade, 136 trabalham na companhia de energia.

Outra questão apontada por Antônio é a vinda de infectados da Bahia, estado onde a Tabocas também tem sede, para Minas Gerais. “Alguns casos são de pessoas que vieram do Nordeste, vieram de cidades vizinhas, na Bahia e empresa não conseguiu manter controle, provocando esse surto”, diz o prefeito.

Explosão de casos

Bandeira registrou o primeiro caso de Covid-19 no dia 20 de junho e manteve apenas um registro até o dia 26 daquele mês. “A situação estava sob controle. Nós fizemos um decreto no dia 17 de março restringindo o funcionamento do comércio, determinando o uso obrigatório de máscara, o isolamento social, o uso de álcool gel etc. Tanto que só fomos ter o primeiro caso em junho”, explica o chefe do Executivo.

A explosão de casos ocorreu quando o prefeitura ampliou a testagem nas duas principais empresas de energia da cidade, dentre elas a Tabocas, que, segundo ele, conta com mais de 300 funcionários.

“Fizemos testes em 258 funcionários da empresa e 136 deram positivos. Deu pra ver nitidamente que eles não conseguiram manter o controle da situação. Desde o início, a prefeitura vem cobrando medidas. Conforme os resultados dos testes foram saindo, o número de casos foi só aumentado, saiu do controle”, diz.

O gráfico de casos mostra a explosão no número de casos na cidade a partir do dia 26 de junho, quando, em apenas 24h, a cidade registrou 50 novo infectados. O maior salto foi registrado entre os dias 10 e 11 do mesmo mês, quando a alta foi de 111 caos em um dia. Confira:

“Isso deixou população em pânico. Após essa situação, nós acionamos o MPT (Ministério Público do Trabalho) e suspendemos o funcionamento da Tabocas por 14 dias e solicitamos a testagem em massa dos funcionários e familiares que tiveram contato com os infectados. Foram mais de 900 testes em todo o município”, afirma o prefeito.

Surto

Procurada, a SES-MG afirma que monitora e considera o caso de Bandeira como um surto de Covid-19, que são quadros de disseminação da doença com números crescentes em pouco período de tempo concentrados apenas em uma região. Até o momento, Minas já registrou 245 surtos confirmados e tem ainda 82 em investigação.

“As medidas mais importantes em um surto são: fazer o isolamento adequado dos casos sintomáticos e os contatos destes e realizar o teste para confirmação. Além disso, nas situações mais críticas, ou quando solicitado pelo município uma equipe técnica da SES/MG desloca-se para o município para auxiliar de forma presencial na tomada de medidas necessárias para a contenção do surto. O mais importante nas medidas é impedir a disseminação dos casos para a comunidade”, disse a secretara de Saúde.

Casos importados

Ainda de acordo com o prefeito de Bandeira, parte dos infectados da empresa Tabocas são residentes da Bahia, estado vizinho, mas acabaram sendo registrados como casos da cidade. “O cara mora lá, e quando testa positivo, jogam no sistema de cá. É um problema grava na comunicação entre os estados e o Governo Federal”.

Questionado sobre isso, a SES-MG afirmou que “não há barreiras sanitárias no estado”, mas que existem “orientações para os empregadores que contratam trabalhadores que residem em outras cidades e estados”.

Sem retorno

O BHAZ tentou contato com a empresa Tabocas para comentar a situação dos funcionários infectados. O primeiro contato foi feito por telefone na terça (28) e os responsáveis ficaram de retornar por e-mail. No entanto, a empresa não respondeu às perguntas e nem ao pedido de retorno. Caso a Tabocas responda ou se posicione, o texto será atualizado.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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