Favelas e aglomerados são territórios vulneráveis na pandemia do coronavírus. No entanto, os moradores dessas comunidades também são aqueles que têm mais atitudes solidárias, como mostrou a pesquisa do Data Favela. Um exemplo disso é a campanha realizada na Pedreira Prado Lopes, também conhecida como PPL, que já arrecadou toneladas de alimentos e centenas de itens de higiene.
A casos confirmados de Covid-19 crescem exponencialmente em vilas e favelas de Belo Horizonte e a Pedreira Prado Lopes é citada como uma das regiões mais afetada, em um estudo realizado pelo Observatório de Saúde Urbana da UFMG. Para Ana Carolina Vasconcelos, que atua na campanha solidária na região, isso reforça a necessidade de ações de apoio aos moradores da região.
“Até o mês de julho, já foram distribuídas na Pedreira Prado Lopes cerca de nove toneladas de alimento, mais de 3 mil marmitas, 50 vale-gás, 600 kits de higiene. A Marcha Mundial das Mulheres junto a moradoras e costureiras da Pedreira produziu máscaras e kits para doação. Ao todo, até o momento foram distribuídas mais de 600 máscaras, 600 sabonetes e 100 frascos de álcool em gel”, relata.
A ação faz parte da Campanha Nacional de Solidariedade Periferia Viva e foi construído na PPL pelo Levante Popular da Juventude e pelo (MTD) Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos. “Também foram realizadas ações de conscientização da população com informações sobre acesso à cesta básica oferecida pela Prefeitura e orientações de combate à violência contra a mulher”, acrescenta Ana Carolina.
Ainda que os números já alcançados pela campanha sejam impressionantes, é importante que as ações continuem. Quem quiser contribuir, pode doar alimentos, itens de higiene e dinheiro. Pessoas que não sejam do grupo de risco, nem convivam com alguém que seja, também podem se voluntariar para ajudar na distribuição de cestas e contato direto com as famílias (confira os detalhes para contribuições ao final da matéria).
Dificuldades
Desde o início da pandemia, o isolamento social tem sido a ferramenta mais importante para evitar o contágio pelo novo coronavírus. Essa medida pode funcionar para as classes alta e média, que conseguem ficar protegidas em suas casas e trabalhar de casa, graças à tecnologia. Mas nas favelas e aglomerados, não é simples seguir essas orientações. “A ampla maioria dos moradores das periferias urbanas de nosso país estão em postos de trabalho precarizados e informais, sem acesso aos direitos trabalhistas”, relembra Ana.
“Atualmente, a população mais vulnerável precisa cotidianamente fazer a dura escolha entre correr o risco de se contaminar indo trabalhar ou permanecer em casa sem saber se irá conseguir garantir o sustento da família”, lamenta.
Érica Arruda, 37, é uma das pessoas que está sofrendo os impactos da pandemia. A auxiliar de apoio ao educando é moradora da Pedreira desde que nasceu. Com uma família de seis pessoas, ela relata a dificuldade financeira causada pela situação. “Não estou recebendo mais o salário completo e não recebo ticket. Meu marido está com dificuldade de conseguir e realizar os trabalhos que ele fazia antes”, afirmou.
Resistência
Apesar das dificuldades, a moradora da comunidade conta com a união para seguir. “Essas doações são muito importantes para nossas famílias, pois é com essa ajuda do MTD que estamos completando a nossa renda”, ressalta.
Érica conta que já conhecia o Movimento e a colaboração comunitária na Pedreira já acontecia antes mesmo da pandemia. “Aqui na Pedreira sempre teve muita solidariedade entre os moradores. As ações do MTD me atingem diretamente, eu recebo a cesta básica. Eu vejo a importância dessa campanha para a comunidade”, afirma.
Segunda Ana Carolina, do Levante, não é de hoje a preocupação dos movimentos sociais com a realidade e dificuldade de acesso a direitos dos moradores das periferias urbanas. Entre algumas conquistas para a comunidade está o Cursinho Popular da Pedreira, voltado para a preparação dos jovens para o Enem. Em 2016, moradoras também conseguiram que a Escola Municipal Maria da Glória Lommez fosse reformada e reaberta para as crianças da comunidade.
“O povo mais pobre sempre existiu e resistiu nas periferias através da
solidariedade. Seja se juntando para reabrir uma escola, construindo junto atividades para que os mais jovens tenham acesso à cultura, organizando cursinhos populares para que a juventude tenha acesso à educação de qualidade ou cuidando coletivamente das crianças para que as mães possam trabalhar. Agora não é diferente”, declara Ana.
Como ajudar
Para contribuir financeiramente, doe qualquer valor em:
Banco do Brasil
Agencia: 0194-5
Conta poupança: 49892-0
variação 51
Giselle Duarte Maia
CPF 094654206-62
Caixa Econômica
Agência 0089
Poupança 43054 – 1
Operação 013
Vinícius Moreno Nolasco
CPF 014557516-00
Para doar materiais alimentos e máscaras:
Ocupação Pátria Livre – Rua Pedro Lessa, 435, B. Santo André
Para saber mais informações sobre a campanha, siga no instagram:
@levanteminas
@mtd.nacional
@periferiavivacontracorona