Suspensão de Goiás x São Paulo põe Brasileiro em xeque logo na largada

estádio do Goiás
Dez jogadores do elenco esmeraldino receberam testes positivos de Covid-19

Por Ana Luiza Teighi, Bruno Rodrigues e Carlos Petrocilo

No final de semana em que o país ultrapassou as 100 mil mortes em decorrência do novo coronavírus, o Campeonato Brasileiro, que já recebia questionamentos antes mesmo de a bola rolar, viu as incertezas sobre sua realização aumentarem, com casos de jogadores infectados e a interferência do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva).

O Goiás, desfalcado de dez atletas diagnosticados com Covid-19 horas antes do jogo com o São Paulo, tentou desde o começo da tarde deste domingo (9) anular a partida de estreia no Nacional. Porém, apesar do apelo, não teve nenhum retorno da CBF até 16h. O São Paulo, mesmo inseguro diante dos riscos de contágio da doença, chegou a colocar o time em campo para cumprir o regulamento da competição, postura considerada “fria” pelo clube goiano diante da gravidade da situação.

A falta de informações fez a TV Globo, que exibiria o confronto, abrir sua transmissão como se a bola fosse rolar normalmente. Como a CBF não tomou nenhuma medida até a hora do jogo (16h), o Goiás recorreu ao STJD para tentar o adiamento e obteve uma decisão favorável a dez minutos do início.

A essa altura, o time são-paulino, ansioso para dar uma resposta no Nacional depois da eliminação nas quartas de final do Campeonato Paulista, já estava em campo e esperava pelo adversário.
Em vez de a equipe goiana pisar no gramado do estádio da Serrinha, em Goiânia, quem compareceu foi o seu presidente, Marcelo Almeida, com o deferimento assinado pelo presidente do STJD, Otávio Noronha, para apresentar ao trio de arbitragem.

“Infelizmente, fomos comunicados desses resultados positivos apenas no dia de hoje [domingo]. Todos os jogadores que testaram positivos estavam concentrados. Diante desse fato, a gente preferiu agir com coerência, pedindo para que o jogo fosse adiado”, disse Almeida em entrevista à Globo. “Entramos com a liminar no STJD com essas alegações. Esportivamente, seria uma coisa totalmente descabida.”

A emissora, então, cortou o sinal de Goiânia e passou a exibir para os estados de São Paulo e Goiás o duelo entre Flamengo e Atlético-MG, no Maracanã. A CBF, que às 14h45 havia publicado nota em seu site para anunciar o adiamento de um jogo na Série C do Brasileiro, não fez o mesmo para a partida da Série A -só confirmou sua suspensão após a decisão do STJD.

O coordenador médico da CBF, Jorge Pagura, afirmou à reportagem que postergou a decisão de cancelar o jogo enquanto aguardava publicação das últimas testagens, realizadas neste domingo, depois de os exames publicados na sexta terem sido considerados inconclusivos. “Não era justo com o Goiás e com o São Paulo cancelarmos o jogo mais cedo, enquanto os exames ainda estavam sendo concluídos. Os novos exames ficaram prontos perto do começo do jogo, e a nossa decisão foi médica e não por causa do STJD”, disse Pagura.

A partida entre Treze-PB e Imperatiz-MA, agendada para este domingo no estádio Amigão, em Campina Grande, foi postergada porque 12 jogadores dos 19 inscritos pelo Imperatriz receberam diagnósticos positivos de Covid-19. Já o confronto entre CSA x Guarani, pela Série B do Nacional, no sábado (8), aconteceu mesmo após o clube alagoano ter informado na sexta que oito atletas haviam sido infectados pelo coronavírus.

“O CSA recebeu as amostras 28 horas antes do jogo, na sexta-feira à tarde, e tiveram tempo para substituir os atletas infectados”, diz Pagura. O protocolo de saúde da CBF determina que os testes sejam feitos até 72 horas antes do início do jogo para que a entidade aprove, com até 24 horas para o apito inicial, a lista de profissionais que estão liberados para participar dele.
Não há no documento da entidade nenhuma determinação para que jogos sejam adiados a partir de um determinado número de testes positivos em um clube, o que gera dúvidas para o procedimento que será adotado caso isso se repita futuramente.

Em tese, o Goiás terá que viajar a Curitiba na quarta (12) para enfrentar o Athletico pela segunda rodada. Segundo Pagura, os jogadores infectados deverão permanecer entre dez dias (desde que assintomáticos) e 15 (se apresentar sintomas) fora da competição. Depois desse período serão avaliados novamente. Dessa vez, porém, o time esmeraldino terá tempo de recompor o seu elenco e testar os atletas substitutos.

Para a rodada de estreia, os primeiros testes do time esmeraldino, feitos na última quinta-feira (6), foram invalidados em razão de uma falha do laboratório parceiro do hospital Albert Einstein em Goiânia. A nova bateria de exames só pôde ser realizada na sexta (7), e os resultados foram entregues na manhã deste domingo. De acordo com os goianos, dez jogadores receberam diagnóstico positivo de Covid-19, dos quais oito seriam titulares contra o São Paulo –uma contraprova dos testes feita horas antes do duelo informou nove resultados positivos.

O hospital Albert Einstein, contratado pela CBF para monitoramento dos testes nos clubes do Campeonato Brasileiro, confirmou a falha nos procedimentos iniciais. “O Hospital Israelita Albert Einstein identificou à reportagem uma falha técnica na coleta das amostras, feita em um laboratório parceiro em Goiás, para realização de teste RT-PCR em atletas e equipes dos clubes Vila Nova e Goiás. Solicitou, portanto, novas amostras antes do processamento dos exames”, disse em nota.

“Estamos, sim, conversando para corrigir problemas, mas não houve erro de resultado. Houve atrasos, problemas de logísticas na entrega dos resultados, e que serão resolvidos. Mas não tem erro no Einstein nos exames”, afirmou o coordenador médico da CBF. Não é a primeira vez que o Einstein admite um erro na testagem de jogadores de futebol. O hospital, inclusive, foi notificado pelo Procon na última terça (4) depois de diagnóstico positivo equivocado de 26 jogadores do Red Bull Bragantino antes de enfrentar o Corinthians, pelas quartas de final do Campeonato Paulista.

“Os consumidores precisam qual o laboratório e qual a empresa que fabrica esses testes. Imagine se começar a dar errado não só para jogador de futebol, mas para toda a população? Então o Procon vai solicitar os dados, insistir para saber se é a mesma empresa e pode proibir essa empresa de continuar realizando testes”, disse à reportagem o secretário de defesa do consumidor de São Paulo, Fernando Capez. Sobre o incidente com o Bragantino, o Einstein afirmou que identificou dois lotes específicos de reagentes importados com instabilidade de funcionamento, “provavelmente os responsáveis pelos resultados divergentes”.

O adiamento do jogo em Goiânia (ainda sem nova data) liga o alerta para a possibilidade de repetição do episódio em novas rodadas do Brasileiro, com previsão de término em 24 de fevereiro de 2021. Isso abriria uma dificuldade significativa para a CBF, que já estabeleceu um calendário apertado para a disputa do torneio, no qual há pouco espaço para remarcações.

A primeira rodada do Nacional teve quatro jogos adiados, quase metade de toda a sua primeira rodada. Por conta da conclusão dos campeonatos Paulista e Baiano, os duelos Corinthians x Atlético-GO, Botafogo x Bahia e Palmeiras x Vasco já haviam sido postergados antes mesmo de a bola rolar neste fim de semana.

No campo, o atual campeão Flamengo fez sua estreia na competição neste domingo, contra o Atlético-MG, no Maracanã. A equipe de Domènec Torrent foi derrotado pelos mineiros por 1 a 0, com gol contra de Filipe Luís.
Vice-campeão na edição de 2019, o Santos vencia o Red Bull Bragantino até o fim da partida na Vila Belmiro, mas levou o empate. A partida entre os paulistas terminou 1 a 1.

Folhapress

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