Reabertura de bares tem aglomeração, donos receosos e falta de ônibus

fotos de bares de Belo Horizonte
Bares reabriram com aglomerações nesse fim de semana (Vitor Fórneas + Giovanna Fávero/BHAZ)

Belo Horizonte reabriu, após mais de cinco meses fechados, os bares e restaurantes com venda de bebidas alcoólicas, nesse fim de semana. Foram registradas aglomerações, pessoas sem máscara de proteção, descumprimento das regras de flexibilização. Alguns estabelecimentos reincidentes com relação às contravenções foram fechados pela PBH (Prefeitura de Belo Horizonte).

Ao BHAZ, o presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), Paulo Solmucci, avaliou que o número de problemas foi pequeno, mas que o faturamento foi alto. Já alguns donos de restaurantes e bares estão preocupados com as aglomerações que se formaram perto de seus estabelecimentos. No entanto, eles ficaram satisfeitos com o faturamento.

O infectologista Leandro Curi alerta sobre os perigos das aglomerações e condenou o transporte público lotado da capital mineira. A PBH havia prometido mais coletivos diante da flexibilização, porém, muitos clientes e funcionários precisaram se espremer em veículos lotados. Alguns precisaram, inclusive, pagar motoristas de aplicativos.

Horário dos ônibus

O presidente da Abrasel considerou a reabertura como positiva, mas cobrou da PBH (Prefeitura de Belo Horizonte), que os horários dos ônibus sejam estendidos. “A gente teve uma abertura bem bacana, com pouquíssimos problemas, a maior parte do protocolo foi seguido. O faturamento foi em torno de 60% do que era pré-crise, o que para muitos foi surpreendente”, informa

“O ponto negativo é que a prefeitura não colocou os ônibus após às 22h, e, em alguns lugares não havia transporte após às 21h. Isso causou problemas, como funcionários que precisaram de transportes alternativos para voltar para casa”, reclama.

O que dizem os donos?

Em entrevista ao BHAZ, donos de bares e restaurantes reforçaram a fala do presidente da Abrasel sobre os coletivos. Daniel Oliveira, proprietário do Hakuna Batata, na Savassi, reclamou sobre a falta de cuidado com os trabalhadores.

“Tivemos trabalhadores que não conseguiram ir embora e, os que conseguiram, ficaram em pontos de ônibus lotados, com veículos muito cheios. Uma funcionária ficou até 1h30 esperando, e teve que pegar carro de aplicativo. Tive que fechar mais cedo nos outros dias, pois não posso arcar com carro de aplicativo para oito funcionários”, explica.

Moisés Moreira, dono do Tacomtudo, também na Savassi, passou por um problema semelhante. “Como só estou com dois funcionários, decidi manter meu horário de funcionamento, já que fechar uma hora antes pode me prejudicar bastante. Paguei transporte por aplicativo para os dois. Como não moram muito distante, não tive tanto problema. Mas eu espero que a prefeitura entre com mais ônibus, é algo necessário”.

O objetivo, agora, é que os bares fiquem abertos todos os dias da semana, segundo o presidente da Abrasel. “Achamos importante para evitar aglomerações. Belo Horizonte é uma das únicas cidades que está com esse tipo de restrição ainda. Todas as cidades que abriram e tiveram algum tipo de problema, a imprensa foi lá e mostrou tudo. É uma questão instruir o consumidor a essa nova realidade”, explica Paulo Solmucci.

“Reforço que BH abriu de uma maneira muito mais tranquila que em outras capitais, aqui tivemos somente alguns problemas pontuais. É importante que os bares fiquem mais dias abertos. Pois, quanto mais dias funcionando, menos chances de ter problemas, já que as pessoas não precisarão ir todas de uma vez no fim de semana”, completa o presidente da entidade.

Donos de bares receosos

Os proprietários de bares de Belo Horizonte têm receio que as aglomerações causadas em locais que não estão seguindo os protocolos possam fazer que a PBH volte atrás na flexibilização. Daniel Oliveira, dono do Hakuna Batata, se diz preocupado. “Adotamos critérios bem rígidos, para não ocorrer nenhum problema. Eu percebi que muitos locais estavam bem aglomerados. Mesmo que a média móvel de contaminação siga estável, essa imagem de bares lotados pode contribuir negativamente”.

“Tem coisas que fogem ao nosso controle. As pessoas começam a formar aglomerações independentes nas ruas, perto dos bares. O que vou fazer é colocar alguns cartazes educativos, tentando conscientizar os clientes que estão no meu estabelecimento. Também vou delimitar mais certo o meu local, para que consiga controlar de fato o número de pessoas e distanciamento”, continua o proprietário do bar na Savassi.

Moisés Moreira, dono do Tacomtudo, disse que se assustou com a movimentação na Praça da Savassi, próximo ao seu restaurante. “Eu fico na rua Paraíba, que é a que corta. Eu vi uma aglomeração considerável. Há uma preocupação grande, com certeza. Eu acho que ainda falta empatia ao brasileiro. É sempre o meu lado, meu umbigo, as pessoas não querem mais saber do distanciamento. No meu restaurante não teve problemas, mas fico com medo de que uma minoria possa prejudicar todos”.

Para auxiliar ainda mais nos cuidados, Daniel criou um cardápio online, de autoatendimento, com wi-fi disponível para todos. “Retiramos o cardápio físico e colocamos autoatendimento. Fica uma plaquinha em cada mesa, com um QR code. O cliente aponta a câmera e faz seu pedido. Assim que o pedido é feito, vai direto para a cozinha. Isso diminui o risco de contágio, junto com outros protocolos”.

Faturamento surpreende

Daniel Oliveira não esperava muito movimento. “Superamos a nossa expectativa. Consegui cerca de 50% do meu faturamento comparado ao valor antes da pandemia. Pensando que é a primeira semana, está muito bom, ainda mais que a minha capacidade de atendimento reduziu muito, devido aos protocolos. Estamos orientando as pessoas a todo momento sobre o uso de máscara e o distanciamento. Estou otimista”, completa.

O dono do Tacomtudo também gostou do valor levantado. “Estamos seguindo todos os protocolos, de mesas espaçadas, distanciamento, tudo. Não senti nenhuma insegurança de nossos clientes. Tivemos um faturamento maior que o esperado. Algumas pessoas ainda não estão confortáveis em voltar aos bares, então continuam pelo delivery, o que nos ajuda bastante”, completa Moisés Moreira.

Bares interditados

Dois bares foram interditados pela PBH (Prefeitura de Belo Horizonte), na noite do último sábado (5), por descumprirem as normas sanitárias de prevenção ao novo coronavírus. Os estabelecimentos foram orientados na sexta-feira (4) a fazerem as adequações, mas, segundo o Executivo municipal, continuaram desrespeitando as exigências.

Um dos estabelecimentos fechados está localizado na rua Alberto Cintra, no bairro União, na região Nordeste. Por lá, a fiscalização da PBH encontrou falta de álcool em gel nas mesas, regras de isolamento ignoradas, além de venda de bebidas no balcão com o atendente sem usar máscara de proteção.

Na Pampulha, um bar que funcionava como boate, também foi fechado. O estabelecimento, conforme informou a prefeitura, tocava música mecânica, o que é permitido, só que estava com aglomeração de pessoas. Pelo desrespeito às normas de prevenção, o comércio localizado na avenida Guarapari foi fechado.

Pandemia não acabou

O infectologista Leandro Curi salienta que é necessário muita cautela no momento em que vivemos. “Eu sempre fico com um pé atrás com reabertura de bares, boates, shoppings, etc. Passei perto de alguns bares na noite de sexta, vi aglomerações, pessoas sem máscara, fazendo selfies, como se a pandemia não existisse mais. Entendo a vontade de reencontrar os amigos, ir para bares. O problema é que muita gente segue no negacionismo”, explica.

“Pessoalmente, ainda não vou aos bares. E, quem estiver com sintomas gripais, deve ficar em casa. Me preocupa a desinfeção de mesas, cadeiras, tudo. Ainda estamos com um número alto de mortes, não temos vacina ou remédios. Não é o momento de ficar tranquilo, é hora de muito cautela”, continua o médico.

Para o infectologista, os ônibus são um dos principais erros da prefeitura. “É a parte mais vergonhosa e inconsistente, um ponto fora da lógica. O transporte lotado é um dos locais com maior chance de contaminação. Não adianta nada manter todas as precauções, e os ônibus estarem desse jeito. São pessoas se encostando fisicamente, superfícies contaminadas, e ainda em local fechado. Atualmente, deve ser o ambiente mais perigoso que temos”, completa.

Quais são as regras?

  • Os bares e restaurantes devem restringir a capacidade máxima do estabelecimento a uma pessoa a cada 5 m² da área total, incluindo os funcionários;
  • Atender somente aos clientes sentados para consumo no local;
  • O máximo é de quatro pessoas por mesa;
  • Adotar atendimento com reserva, sempre que possível;
  • Distanciamento mínimo de dois entre as mesas e um metro entre ocupantes na mesma mesa;
  • Eliminar cardápios físicos;
  • Vedado o serf-service;
  • Disponibilizar álcool 70%.

Clique aqui e confira o protocolo completo.

Horários

  • Segunda a quinta-feira, das 11h às 15h (sem venda de bebida alcoólica)
  • Sexta-feira, das 11h às 22h, com venda de bebida alcoólica a partida das 17h
  • Sábado e domingo, das 11h às 22h, com venda de bebida alcoólica em todo período

O que diz a BHtrans?

Segundo nota da BHTrans (leia abaixo na íntegra), os horários de ônibus foram estendidos no domingo (6) e segunda-feira (7). “No domingo e na segunda-feira foram realizadas viagens entre 6h e 23h, sem interrupções,  com as linhas alimentadoras funcionando até às 0h. O número de viagens no domingo (6) foi 71% maior do que o realizado no dia 30 de agosto, e no feriado desta segunda-feira (7) o aumento de viagens foi de 90%”. A autarquia completa dizendo que foi o primeiro fim de semana de flexibilização, e tudo ainda será avaliado.

Nota da BHTrans

“O quadro de horários do transporte coletivo do domingo, 6/9 e da segunda, 7/9 foi estendido para atender ao decreto que regulamentou essa nova fase de flexibilização com o funcionamento dos bares.

No domingo e na segunda-feira foram realizadas viagens entre 6 e 23 horas, sem interrupções,  com as linhas alimentadoras funcionando até às 24 horas.

O número de viagens no domingo, 6/9, foi 71% maior do que o realizado no dia 30/8, e no feriado dia 7/9 o aumento de viagens foi de 90%.

  • Domingo, dia 30/08: 3384 viagens/74.444 passageiros
  • Domingo, dia 06/08: 5786 viagens/95.494 passageiros
  • Segunda, dia 07/08: 6416 viagens/141.331 passageiros

A operação foi acompanhada em tempo real do Centro de Operações da PBH e agentes foram distribuídos nas principais estações de integração.

Como foi o primeiro fim de semana da abertura de bares, a operação está sendo avaliada e, caso seja necessário, ajustes serão feitos”.

Edição: Aline Diniz
Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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