Para diminuir abismo, Magazine Luiza abre seleção exclusiva para negros

Fachada de loja do Magazine Luiza
Iniciativa de promover diversidade foi alvo de Ação Civil Pública (Magazine Luiza/Divulgação)

Com o objetivo de diminuir um pouco o abismo na ocupação de cargos de liderança por pessoas negras em relação a brancos, o Magazine Luiza anunciou a abertura de processo seletivo de trainee para 2021 voltado apenas para afrodescendentes. A empresa revelou que menos de 20% de seus líderes são negros. A iniciativa foi elogiada por estudiosos e despertou, mais uma vez, o errôneo conceito de “racismo reverso”.

“Igualdade de oportunidades e a inclusão são duas das nossas mais importantes causas. E, por isso, neste ano será exclusivo para candidatos negros. Atualmente, temos em nosso quadro de funcionários 53% de pretos e pardos. E apenas 16% deles ocupam cargos de liderança. Precisamos mudar esse cenário”, publicou a empresa ao anunciar o processo seletivo.

Diversidade e reparação

Intelectuais e internautas de maneira geral elogiaram o esforço da empresa para diminuir a discrepância entre a quantidade de pessoas brancas e pessoas negras em cargos de liderança no Brasil. De acordo com um levantamento feito pelo Quero Bolsa com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), apenas 3,68% dos profissionais contratados para cargos em liderança em São Paulo, em 2019, eram negros.

A iniciativa de promover essa inclusão foi defendida por estudiosos nas redes sociais, como o advogado especializado em direito constitucional Thiago Amparo. “Magazine Luiza existe desde 1957. Há 63 anos, os processos seletivos privilegiam – conscientemente ou não – pessoas brancas. Acho que brancos conseguem aguentar 1 processo seletivo para trainees para pessoas negras”, afirmou Amparo.

“Processos seletivos para negros existem há tempos. Não é revolucionário, é necessário para quebrar a inércia de não contratar negros. Bancos Goldman Sachs e JP Morgan fazem. McKinsey e Harvard Business Review recomendam. Magazine Luiza segue prática do mercado, e faz bem”, complementou o advogado no Twitter.

Uma pessoa chegou a ironizar críticas sobre a exclusividade para negros. Ele postou fotos de programas de trainee de outras gigantes, como Itaú e Ambev, com os selecionados repletos de brancos. Veja abaixo:

Conceito equivocado

Alguns internautas, no entanto, usaram a hashtag #MagazineLuizaRacista no Twitter para protestar contra a limitação para os candidatos. As pessoas insatisfeitas chegaram a argumentar que a iniciativa seria uma forma de discriminação contra pessoas brancas e estimula o segregacionismo.

Esse tipo de argumentação, no entanto, é equivocado. “Primeiramente, para falarmos sobre racismo inverso, devemos descobrir se houve na história da escravidão algum navio ”branqueiro”, cheio de escravos brancos que foram retirados à força de seu país e enviados em condições desumanas para países que se apropriaram de suas vidas e os transformaram em escravos”, inicia explicação publicada pelo portal Geledés (leia tudo aqui).

Mesmo assim, até mesmo autoridades usaram a premissa para criticar a ação. “O critério adotado pelo Magazine Luiza é RACISTA e ofende os negros honrados do Brasil. Não queremos ser tratados como sub-raça de incapazes que depende de facilidades para ‘vencer’. A rede deveria cancelar a seleção racista e pedir desculpas a todos os brasileiros. Nojo!”, escreveu Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares, na rede social.

Parte dos usuários que se opuseram à iniciativa também propôs um boicote à empresa, como forma de protesto ao que chamaram de “preconceito contra brancos”. “A Magazine Luiza, como empresa privada, pode adotar as políticas de recrutamento que quiser, quer contratar só brancos, só negros, só amarelos? Ok! Porém, não compro mais em uma empresa que seleciona seus colaboradores pela cor da pele e não pela qualificação. Boicote já!”, escreveu um internauta.

O BHAZ entrou em contato com o Magazine Luiza, mas ainda não obteve resposta. Tão logo a empresa se posicionar, esta reportagem será atualizada.

Edição: Thiago Ricci
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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