Servidores voltam ao trabalho e denunciam negligência em relação à Covid-19

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Sem itens básicos de higiene, servidores denunciam a precariedade na volta ao trabalho na Cidade Administrativa (Moises Santos/BHAZ + Klaus Hausmann/Pixabay)

Atualizado às 16h40 do dia 24/09/2020 para incluir o posicionamento do Governo de Minas.

O Governo de Minas já retomou as atividades presenciais na Cidade Administrativa. Desde a última segunda-feira (21), muitos dos servidores do local abandonaram o teletrabalho. Contudo, o que eles encontraram ao retornar as atividades só aumentou a ansiedade e a insegurança. Funcionários da SES-MG (Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais), onde o controle da pandemia é o foco do trabalho nos últimos tempos, denunciam que no setor não há itens básicos de proteção contra o vírus, faltando até mesmo sabonete nos banheiros e álcool em gel.

Em conversa com o BHAZ, uma servidora do governo estadual, que terá a identidade preservada, contou que não esperava o cenário que encontrou quando voltou ao trabalho na última segunda-feira (21). “Quando eu cheguei lá, não tinha nenhum controle, o estado não deu nem álcool em gel para os setores. Eles não fizeram nem o mínimo. Não tem álcool, não tem aferição de temperatura, não tem fiscalização para ver se as pessoas estão usando máscara ou não, não teve nenhum tipo de testagem… Eu fiquei com muito medo mesmo, porque não teve nenhuma medida”, conta.

Sem circulação de ar

Ela relata ainda que alguns aspectos da infraestrutura dos prédios acabam se tornando ameaças à saúde dos trabalhadores. É o caso do sistema de ar condicionado e dos pisos. “Lá é um lugar onde não se pode abrir as janelas, porque o ar [condicionado] é central, o que já é um risco muito grande, pode vir a ter uma contaminação em massa. E lá nós ainda temos o carpete, que não é limpo e não é aspirado com frequência”, denuncia.

Postura contraditória

Como se esses problemas já não fossem suficientes, ainda faltam sabonetes em alguns dos banheiros e equipes para a limpeza dos prédios. “Desde que o governo Zema entrou, ele demitiu muita gente terceirizada, que faz a limpeza. Então a limpeza está mais precária do que antes, as estações de trabalho estão sujas, eles não conseguem fazer na frequência que é recomendada”, conta a servidora.

A falta de equipes também se estende às medidas necessárias para a prevenção da Covid-19 e a postura adotada pelo governo estadual muda dentro do próprio território da Cidade Administrativa, conforme conta um segundo servidor ouvido pela reportagem. Ele relata que só há álcool em gel nas entradas do local e que a aferição de temperatura não é feita em todos os prédios – no prédio Tiradentes, por exemplo, há o serviço, ao contrário dos prédios Minas e também do Gerais.

Sem medição de temperatura

A falta de um padrão de conduta e a negligência com os cuidados e prevenção confundem os funcionários, que, com apenas três dias de volta ao trabalho presencial, já se sentem inseguros e desassistidos: “A Secretária de Estado de Saúde, que cobra dos comerciantes ter o álcool em gel e aferição de temperatura, não está fazendo o recomendado. As empresas privadas estão tendo mais cuidado do que o estado em relação aos seus funcionários”.

‘Não tem o mínimo’

A insegurança causada pelo ambiente encontrado no retorno é compartilhada por colegas. Uma terceira servidora da SES-MG, que também não será identificada, conta que a informação que os funcionários receberam na volta foi a de que apenas as estações de trabalho de quem já estava no local – por opção ou falta de recursos para o teletrabalho – estavam passando por limpeza. “A gente chegou e cada um teve que limpar sua mesa com álcool ‘improvisado’, de uso pessoal, porque a limpeza estava sendo feita só nas estações de trabalho que estavam sendo usadas. Eu acho que, no meio de uma pandemia, todo cuidado com higiene é pouco”, opina.

Ela revela ainda que o governo excluiu funcionários do grupo de risco ou com filhos em idade escolar do esquema de revezamento para a retomada, mas não dialogou com outros servidores. “No meu caso, por exemplo, o meu pai é idoso, do grupo de risco, e mora comigo, mas quando eu citei isso, fui questionada. Falaram: ‘Não está na resolução, você não tem escolha’”, conta a funcionária, que, apesar do risco, não discorda da decisão: “Meu problema não é retornar, o meu problema foi a situação que eu me deparei lá. Você chegar e não ter o mínimo, sabe?”, desabafa.

“Eu imaginei que quando a gente chegasse lá teria, pelo menos, o mínimo de estrutura que está sendo cobrada em todos os locais públicos”, completa. A servidora pontua ainda que, além da falta de colaboração de alguns funcionários – que não usaram máscaras e se aglomeraram nos elevadores – o mais marcante foi o despreparo do governo. “Eu comecei o meu teletrabalho no dia 18 de março e eu acredito que o governo teve tempo suficiente pra comprar insumos para essa volta gradativa, porque uma hora ia ter que voltar mesmo. Mas foram seis meses, teve tempo hábil para se preparar. E aí a sede do governo não tem o mínimo pra oferecer pra gente?”, questiona.

Trabalhadores infectados

No início deste mês, mesmo antes da convocação às atividades presenciais, a Covid-19 já havia ameaçado trabalhadores da Cidade Administrativa. À época, servidores da Superintendência de Eventos e Cerimonial do Governo de Minas foram testados para o novo coronavírus e, conforme nota divulgada pelo governo, cinco dos trabalhadores testaram positivo para a doença. Depois disso, foram mapeados os funcionários que tiveram contato com os doentes. Ao menos 124 profissionais fizeram o exame e quatro deles tiveram resultado positivo.

O que diz o Governo de Minas?

O BHAZ pediu ao Governo de Minas, um posicionamento sobre as denúncias feitas pelos servidores. Em nota (confira na íntegra abaixo), a gestão estadual informa que “todas as medidas de prevenção à propagação da Covid-19 estão sendo reforçadas”.

Nota Governo de Minas

Ressaltamos que 80% dos servidores do Poder Executivo estão em teletrabalho. Com relação à Cidade Administrativa, aproximadamente 800 servidores realizam atividades presenciais, de um total de cerca de 16 mil trabalhadores lotados no complexo.

Informamos que as medidas de prevenção à propagação da Covid-19 estão sendo reforçadas. Nessa terça-feira (22/9), a Cidade Administrativa passou por um processo de desinfecção com o apoio do Exército brasileiro. A manutenção do ar condicionado acontece periodicamente, de acordo com as exigências dos protocolos de saúde. Os procedimentos de limpeza dos espaços foram readequados para atender aos protocolos sanitários.

A ampliação do trabalho presencial na Cidade Administrativa será autorizada quando a região Central estiver na Onda Verde, do Plano Minas Consciente. Conforme resolução publicada no Diário Oficial, no dia 15 de setembro, a retomada será gradual e segura, respeitando as especificidades de cada área. Mesmo na onda verde, o percentual máximo de servidores que poderão retomar as atividades no local será de 20% da capacidade física dos setores.

Edição: Aline Diniz
Giovanna Fávero[email protected]

Editora no BHAZ desde março de 2023, cargo ocupado também em 2021. Antes, foi repórter também no portal. Foi subeditora no jornal Estado de Minas e participou de reportagens premiadas pela CDL/BH e pelo Sebrae. É formada em Jornalismo pela PUC Minas e pós-graduanda em Comunicação Digital e Redes Sociais pela Una.

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