O médico Sérgio Marcussi, de Belo Horizonte, fez várias publicações nas redes sociais afirmando que estava concedendo atestados para pessoas que não se sentem confortáveis usando a máscara – item mais recomendado pelas autoridades de saúde para garantir a proteção contra o coronavírus. O médico fez ainda vários posts “convidando” aqueles que se interessassem em não precisar usar o acessório.
O profissional atende como ginecologista e nutrólogo na Savassi, região Centro-Sul da capital. O médico se pronunciou em seu Instagram e explicou que está cumprindo a legislação que permite o não uso da máscara por alguns pacientes, como no caso de cefaleias [dores de cabeça] crônicas (veja abaixo).
Em uma das publicações no Twitter, Marcussi repercutiu o relato de um internauta que, ao ser abordado por estar sem máscara em um aeroporto, mostrou um atestado como justificativa. O autor do post disse que argumentou estar respaldado pela lei federal 14.019 e conseguiu continuar sem usar o que chamou de “focinheira ideológica”. O médico republicou a história e completou: “A luta diária! Hoje fiz 20 atestados desses. Vamos disseminando”.
‘Cabresto’
Em uma segunda publicação, Sérgio abriu as portas da clínica onde atende para aqueles que se interessaram pela questão. “Vai lá na clínica ou manda um zap falando que deseja o atestado que vamos conversando”, escreveu. Logo em seguida, ele ainda adiantou as informações necessárias para abrir uma ficha como paciente no local. Veja:
Marcussi disse, em outro post, que não falava o nome do item – que preferia chamar de “focinheira” ou “cabresto”. Ele ainda chamou a máscara de “atitude imbecil da esquerda” e a estratégia utilizada por ele de “resposta inteligente da direita”. “Eles vêm com a ciência deles e nós com a razão”, completou.
Após a repercussão do caso, o médico apagou os tuítes que iniciaram a polêmica. Mais tarde, ele deletou a conta da rede social.
O que diz o CRM-MG?
O BHAZ entrou em contato com o CRM-MG (Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais). Em nota (leia na íntegra abaixo), o conselho informou que um processo foi instaurado para apurar as denúncias formais, de ofício e de conhecimento público, de acordo com o Código de Processo Ético Profissional. Os procedimentos, a partir de agora, correm sob sigilo.
O CRM-MG esclareceu ainda que é possível denunciar outros profissionais que tenham condutas semelhantes. “As denúncias formais devem ser feitas por escrito e, se possível, conter o relato detalhado dos fatos e identificação completa dos envolvidos. Precisam ser assinadas e documentadas. Podem ser entregues na sede do CRM-MG em BH ou nas regionais, no interior do estado; enviadas por correio ou para o email [email protected]”, diz a nota. Denúncias anônimas não são aceitas”.
O que diz o médico?
O BHAZ fez mais de dez tentativas de contato com o médico – por meio de telefone, email e Whastapp. Nenhuma das sete ligações feitas ao consultório de Sérgio, entre as 20h14 e as 20h35, foi atendida. A reportagem também tentou contato em outros dois números de telefone atribuídos ao médico, mas não obteve sucesso. Já pelo celular, a ligação foi atendida, mas ninguém respondeu.
Por Whatsapp, até a publicação desta reportagem, Sérgio ainda não havia lido a mensagem enviada pelo BHAZ. Também foram feitas tentativas de contato em cinco endereços de email diferentes. Mas a reportagem não obteve resposta.
Pronunciamento pelo Instagram
Em uma publicação no Instagram, o médico comentou o caso. “Parece que a repercussão a respeito da impossibilidade de algumas pessoas usarem máscara porque desenvolvem uma cefaleia crônica, e, por isso, se valerem da lei do artigo 7º da lei 14. 019 a respeito da máscara… Parece que está dando uma repercussão boa e muita gente está se identificando com o mesmo problema”, começou.
O médico disse ainda que não cabe a ele “discutir a sensação do paciente”. “Se o paciente me diz que tem dor, eu tenho que acatar a dor do paciente. Eu não posso discutir com a pessoa se ela tem ou não tem dor. Eu não posso discutir com o paciente se ele tem ou não tem pânico, se ele tem ou não tem ansiedade. Se você me diz que não tolera, eu não posso dizer a respeito do seu sentimento”, afirmou.
Na publicação, Marcussi também disse que recebeu ataques de colegas de profissão após a repercussão do caso e acusou a imprensa de tentar “incorrê-lo em crime”. O médico concluiu dizendo que precisa cumprir a “obrigação legal e o desejo do paciente”.
Nota do CRM-MG na íntegra:
O Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG) apura denúncias formais, de ofício e de conhecimento público, de acordo com os trâmites estabelecidos no Código de Processo Ético Profissional (CPEP), e os procedimentos correm sob sigilo.
As denúncias formais devem ser feitas por escrito e, se possível, conter o relato detalhado dos fatos e identificação completa dos envolvidos. Precisam ser assinadas e documentadas. Podem ser entregues na sede do CRM-MG em BH ou nas regionais, no interior do estado; enviadas por correio ou para o e-mail [email protected]. Todos os documentos e imagens devem ser legíveis. Não são aceitas denúncias anônimas.
Belo Horizonte, 27 de outubro de 2020