CURA: Mural que exalta a mulher preta corre risco de ser apagado em BH

painel do cura corre risco de ser apagado em bh
O circuito CURA criou uma petição na internet contra o apagamento da obra (Divulgação/Instagram/@CURA)

Quem passa pelas ruas do Centro de Belo Horizonte já sabe que alguns dos principais prédios da capital estão tomados de cores. Mas um deles, o edifício Chiquito Lopes, pode perder toda a cor por conta de uma ação judicial. Segundo o Cura (Circuito Urbano de Arte), um único morador do prédio afirma que a pintura “é uma decoração de gosto duvidoso” e briga para que a arte seja apagada.

Pelas redes sociais, o Cura se manifestou e diz que seguiu todos procedimentos para a contratação da obra junto ao Condomínio Chiquito Lopes. Além disso, explica que assumiu não só a realização da pintura mas também a reforma da fachada lateral do local. “O Síndico submeteu a questão ao Conselho Consultivo do Condomínio que decidiu pela aprovação da obra”, afirma trecho da nota.

A obra em questão trata-se do mural feito pela artista mineira Criola, uma mulher preta e influente ativista na capital, que desenhou a pintura Híbrida Ancestral – Guardiã Brasileira. Ela retrata uma mulher negra com uma cobra coral em um útero. A pintura faz parte do CURA e foi feita no final do ano de 2018, e início de 2019.

“Infelizmente eu não recebi isso como surpresa. Porque sinceramente quem é preto no Brasil tá infelizmente cansado de vivenciar várias questões relacionadas ao racismo, ignorância e preconceito. Meu sentimento é que to no caminho certo, to incomodando quem tem que ficar incomodado mesmo pra modificar as atitudes”, comenta Criola.

Ainda na postagem, o Circuito complementa que os dizeres e o processo do único morador insatisfeito “podem ser interpretados como expressão do racismo estrutural“. Segundo os responsáveis, “por se tratar de uma obra afrocentrada de uma artista descendente da diáspora africana”.

“Não é por acaso que o autor da ação utiliza uma lei do regime militar (Lei nº 4591/1964), já superada pelo Código Civil de 2002, para sustentar que a realização da obra precisaria da aprovação unânime de todos condôminos”, completa.

Para combater a ação do morador que se incomodou com a pintura artística, uma petição na internet reúne assinaturas contra o apagamento da obra. Neste sábado, a petição já conta com 4.617 apoiadores.

“É impossível saber a reação do condômino mas obviamente a pintura não incomodaria a ponto dele entrar na justiça para apagar”, disse a artista ao ser questionada sobre a reação do condômino caso a obra tratasse de outras temáticas.

Edição: Roberth Costa
Jordânia Andrade[email protected]

Repórter do BHAZ desde outubro de 2020. Jornalista formada no UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) com passagens pelos veículos Sou BH, Alvorada FM e rádio Itatiaia. Atua em projetos com foco em política, diversidade e jornalismo comunitário.

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