PM agride mulher algemada diante dos filhos dela em delegacia; imagens revoltam

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Mulher foi agredida dentro de batalhão (Reprodução/YouTube)

Uma mulher de 44 anos foi agredida com tapas e socos por um oficial da PM de Mato Grosso do Sul, na cidade de Bonito, enquanto estava algemada. O caso ocorreu dentro do batalhão do município, no dia 24 de setembro, mas o vídeo das agressões começou a circular no fim de semana. A violência foi presenciada pelos três filhos da empresária, entre eles uma criança autista de 3 anos. A PM disse que abriu inquérito para investigar o caso.

As imagens mostram um PM empurrando uma mulher e depois desferindo socos e tapas nela. Outros três homens, sendo um de farda, apenas observam a situação. As agressões só param quando uma mulher com farda da PM retira o colega de cima da empresária algemada.

Em entrevista ao UOL, a vítima disse que mora em Corumbá (MS) e estava em Bonito passeando com a família, com três dos quatro filhos para comemorar o aniversário de 44 anos. Segundo ela, a confusão que resultou nas agressões na delegacia teve início em um restaurante perto da pousada onde estava hospedada. A comida estava demorando a ficar pronta, o que causou um desconforto na filha de 3 anos, que tem TEA (Transtorno do Espectro Autista).

“Minha bebê se divertiu muito, e ficou com fome, pois ela ama comer arroz e feijão. Fui até ao restaurante com ela no colo e perguntei se já estava pronto. Ela [funcionária do restaurante] disse para sentar um pouco. Passou mais de uma hora e meia e minha bebê surtou, claro, pois estava com fome. Fui questionar o motivo de tanta demora e se podiam dar algo para dar bebê, que estava aos prantos”, disse a empresária, que preferiu ficar no anonimato.

Ela ainda relatou que teria sido empurrada pela funcionária do restaurante com a criança de 3 anos no colo. “Ela não gostou [da cobrança pela refeição], me empurrou e xingou a minha bebê de ‘verme de sociedade’. Eu caí ao chão com a bebê, a deixei no chão e fui para cima dela. Foi assim que tudo começou”.

Ainda segundo a vítima, as duas teriam sido separadas pela filha mais velha, uma adolescente de 17 anos. A mulher ainda relatou que a família chegou a voltar à pousada logo após a confusão. A PM teria batido na porta do quarto minutos depois. A vítima alega que foi puxada pelos cabelos para fora do local por um segundo-tenente da PM levada algemada em uma viatura. A justificativa é de alegação de desacato após tentar explicar o que houve. “Tentei explicar o ocorrido. Esse tenente me obrigou a sair do quarto me levando pelos cabelos para fora do hotel”, disse.

Agressões

Os militares haviam levado a mulher para o batalhão, antes de ser conduzida para a Delegacia de Polícia Civil. No local, o mesmo militar que a havia agredido na pousada, lhe desferiu socos e tapas, de acordo com as imagens mostradas pelas câmeras de segurança. Ainda de acordo com a vítima, as agressões teriam começado após ela se desesperar ao saber que os filhos seriam levados pelo Conselho Tutelar para um abrigo.

“O tenente deu ordem para me deixar presa porque eu tinha desacatado. Ninguém estava no batalhão e o tenente que mandava. [A agressão] foi quando o conselho chegou e levou meus filhos. Eu entrei em desespero. Não me ouviram. Nem me deixaram ao menos ligar para alguém. Me senti indefesa”, contou.

Presa por 48h

A empresária ficou presa 48 horas pelo suposto crime de desacato. Durante esse tempo, o marido ficou sabendo da ocorrência, já que é cabo da Polícia Militar do estado. Ele foi até Bonito, buscou os filhos no abrigo e ajudou a mulher.

A vítima não conseguiu registrar boletim de ocorrência no dia do caso, e também não pode fazer exame de corpo de delito, pois o serviço não estava disponível no momento. O que a forçou a não denunciar o caso na Corregedoria da PM. Contudo, agora, com as imagens, ela tem intenção de dar andamento no processo.

“Não fiz a denúncia na ocasião porque não tinha provas. Pedi a imagens e os policiais me disseram que não funcionavam as câmeras. Hoje, quando soube da repercussão, agradeci a Deus, pois essa impunidade não ficará somente na minha mente”, completou.

PM vai investigar caso

Por meio de nota (leia abaixo na íntegra), a Polícia Militar do Estado de Mato Grosso do Sul disse que a mulher é suspeita de “cometer os crimes de desacato, danos ao patrimônio, ameaça, resistência à prisão e embriaguez”.

Em relação às imagens, a PM informou que “foi feita uma análise preliminar do conteúdo, identificando o local e militares envolvidos”. A instituição também disse que “os policiais militares envolvidos na ocorrência já foram afastados das suas funções”.

Nota da Polícia Militar

“A Polícia Militar do Estado de Mato Grosso do Sul informa que no tocante à ocorrência registrada na noite do dia 26 de setembro do corrente ano, no município de Bonito-MS, onde uma senhora de 44 anos foi detida por ser suspeita de cometer os crimes de desacato, danos ao patrimônio, ameaça, resistência à prisão e embriaguez, teve origem após uma equipe policial militar ser acionada para contê-la, em um restaurante daquele município, após a mesma, supostamente, ter ameaçado atear fogo no local, ameaçado de morte os proprietários e quebrado garrafas dentro do estabelecimento comercial.

Ocorre que durante a confecção do Boletim de Ocorrência, a pessoa detida teria se exaltado contra os PMs que atenderam a ocorrência, sendo necessário o uso de algemas e mantê-la dentro do compartimento para condução de detidos, considerando o avançado estado de embriaguez da mesma.

Quanto às imagens que aparecem no vídeo, foi feita uma análise preliminar do conteúdo, identificando o local e militares envolvidos. Imediatamente, o comandante do CPA-3, coronel Emerson de Almeida Vicente, determinou a instauração de um Inquérito Policial Militar (IPM), que é o instrumento legal para investigar fatos dessa natureza. Os policiais militares envolvidos na ocorrência já foram afastados das suas funções”.

Edição: Roberth Costa
Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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