Madre Teresa suspende atendimento de Covid-19 ao ultrapassar limite

Hospital Madre Teresa
Pela primeira vez, pressão sobre a rede privada de saúde está maior do que a pública em BH (Reprodução/Google Street View)

Atualizado às 11h54 do dia 26/11/2020 para incluir nota do hospital Madre Teresa.

No mesmo dia em que a PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) alertou para o aumento de casos de Covid-19 na capital mineira, o hospital Madre Teresa, na Zona Oeste de BH, suspendeu o pronto atendimento de pacientes com sintomas gripais ou suspeita da doença. Em comunicado interno aos funcionários, divulgado nessa quarta-feira (25), o hospital explica que a ocupação de leitos do novo coronavírus ultrapassou a “margem de segurança institucional”.

De acordo com o comunicado, a suspensão vai até a segunda-feira (30). A administração do hospital orienta que os pacientes sejam direcionados a outras unidades de saúde, até que o atendimento se regularize. A decisão da suspensão do atendimento foi tomada pelo Comitê de Sustentabilidade e Gestão de Crise do Hospital Madre Teresa.

comunicado madre teresa
Hospital divulgou comunicado ao corpo clínico (Reprodução/Redes Sociais)

A interrupção por causa do aumento da ocupação de leitos vai de acordo com o que foi apontado ontem pelo secretário municipal de Saúde de Belo Horizonte, Jackson Machado, a respeito da pressão sofrida pelos hospitais privados da cidade nas últimas semanas. “De 10 de novembro para cá, a ocupação de leitos de enfermaria e UTI (Unidade de Terapia Intensiva) na rede particular aumentou mais de 100%”, afirmou o chefe da Pasta.

Por meio de nota (leia na íntegra abaixo), o hospital Madre Teresa esclareceu que o pronto atendimento continua funcionando normalmente para todos os casos de urgência e emergência e as clínicas de cardiologia, cirurgia geral, clínica médica, neurologia e ortopedia. Os atendimentos eletivos de consultas, exames e internações também continuam com funcionamento normal.

Rede privada x pública

Enquanto a rede pública de saúde não viu um aumento de ocupação de leitos de Covid-19 muito significativo nas últimas semanas, de acordo com os boletins epidemiológicos divulgados pela PBH, a rede privada vem sofrendo mais pressão. Isso se dá, de acordo com o secretário, devido a um relaxamento das medidas de isolamento partindo de pessoas “mais favorecidas socioeconomicamente”.

“É um indicador claro que as pessoas mais acometidas são das classes que estavam mais resguardadas no início da pandemia, classes mais favorecidas socioeconomicamente. Agora chutaram o pau da barraca e estão saindo para festas. As classes A e B estão mais acometidas hoje. Estão acontecendo festas clandestinas em prédios e pessoas alugando sítios. Estas aglomerações estão causando o aumento dos casos. A alegria de uns traz a internação para outros”, afirmou.

A pressão foi confirmada ao BHAZ pelo médico intensivista, pneumologista e diretor jurídico do Sinmed-MG (Sindicato dos Médicos de Minas Gerais), Maurício Meireles Goes. “O que mais impressiona é que, no caso dos leitos públicos, quase nada mudou. Recebemos muitos relatos sobre um aumento na demanda em hospitais particulares, como o próprio Madre Teresa, e o Hospital da Unimed, por exemplo”, conta.

O médico faz parte de um grupo que reúne todos os coordenadores de UTIs de Belo Horizonte, cujos integrantes fazem levantamentos semanais a respeito da ocupação dos leitos privados e públicos destinados à Covid-19. De acordo com o monitoramento, pela primeira vez, a ocupação dos hospitais privados superou a demanda dos hospitais da rede pública.

gráfico leitos uti ocupados
Linha laranja sinaliza a rede privada e linha azul representa a rede pública (Grupo Colaborativo dos Coordenadores de UTIs de Belo Horizonte/Divulgação)

Pressão

O aumento da demanda por tratamento da Covid-19 nos hospitais, depois de uma queda nos casos e na ocupação de leitos, provocam uma pressão maior sobre os profissionais de saúde de BH. Para o diretor jurídico do Sinmed-MG, porém, o cenário ainda não é tão preocupante quanto o do início da pandemia.

“Não consideramos esta alta uma segunda onda, mas sim uma recrudescência da primeira, que ainda não acabou. Como já passamos dessa primeira fase mais intensa, estamos mais preparados para lidar com a doença e com o aumento de casos. Temos protocolos bem definidos, não faltam EPIs (equipamentos de proteção individual) como no início do ano”, explica Maurício Meireles Goes.

Ainda assim, o profissional não garante que a pressão não vá aumentar nas próximas semanas. “Vai depender muito da atitude da população. Se a demanda continuar subindo, provavelmente a prefeitura vai tomar outras medidas para conter isso, como reduzir o horário de funcionamento do comércio, dos bares. Às vezes, não tem outra maneira de segurar além dessas medidas”, completa o médico.

Pandemia em BH

De acordo com o último Boletim Epidemiológico, divulgado ontem, BH tem 53.337 casos confirmados de Covid-19 e 1.625 mortos. O número de recuperados chegou a 49.206 e o de pacientes em acompanhamento é de 2.506. O número médio de transmissão por infectado (RT) está em 1,08 – nível amarelo. As ocupações nos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e de enfermaria para tratar a doença seguem aumentando, mas permanecem no nível verde – 39,4% e 37,2%, respectivamente.

O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), alertou ontem para a possibilidade de uma regressão na flexibilização das atividades na capital, caso os indicadores continuem subindo. “Amanhã nós podemos fechar tudo. Que comerciantes e donos de bares tomem conta uns dos outros porque, senão, nós não vamos chegar no Natal. A irresponsabilidade falta de empatia e ignorância podem nos levar a um fechamento total da cidade novamente”, disse (leia mais aqui).

indicadores covid boletim epidemiológico
Índice de transmissão está no nível amarelo em BH (Reprodução/PBH)

Nota do hospital Madre Teresa

“O Hospital Madre Teresa informa que, devido a ocupação de leitos no setor Covid-19, a Unidade de Atendimento dos pacientes com sintomas gripais ou suspeitos de Covid-19 no Pronto Atendimento ficará suspensa até segunda-feira, 30 de novembro de 2020.

Trata-se de uma decisão transitória motivada pelo compromisso com a segurança de todos os nossos pacientes, médicos e colaboradores. O objetivo, neste momento, é rever a logística de leitos e avaliar a necessidade de readequação, considerando a perspectiva do aumento de casos em Belo Horizonte.

Esclarecemos que o hospital permanece atendendo a TODOS os casos de urgência e emergência e as clínicas de cardiologia, cirurgia geral, clínica médica, neurologia e ortopedia continuam cuidando de nossos pacientes no Pronto Atendimento. Ressaltamos que os atendimentos eletivos de consultas, exames e internações permanecem inalterados seguindo todas as normas preconizadas de segurança”

Edição: Thiago Ricci
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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