A voz delas: Mais feminina do que nunca, CMBH reflete lutas por representatividade

mulheres camara bh
As 11 vereadoras eleitas para representar os belo-horizontinos e belo-horizontinas nos próximos quatro anos (Reprodução/@duda_salabert/Instagram/)

Violência doméstica, maternidade, emancipação financeira. A realidade das mulheres nunca esteve tão em pauta ao longo dos últimos anos, no Brasil e no mundo. E, com as eleições de 2020, a CMBH (Câmara Municipal de Belo Horizonte) tornou-se reflexo da luta feminina por mais representatividade. Se antes a Casa contava com apenas quatro vereadoras, agora elas ocupam 11 das 41 cadeiras. Mesmo de diferentes partidos, as eleitas carregam consigo um desafio comum: impactar positivamente a vida das mulheres belo-horizontinas.

Vereadora mais votada da capital, com mais de 37 mil votos, a professora Duda Salabert (PDT) explica que, ainda que tenham perspectivas ideológicas diferentes, a presença de mais mulheres na CMBH é uma conquista. “Inúmeras pesquisas mostram que, independentemente da perspectiva ideológica das mulheres que compõem o parlamento, os espaços legislativos que têm mais mulheres aceitam mais políticas públicas voltadas para a questão social, sobretudo na defesa da criança e da maternidade”, disse em conversa com o BHAZ.

Já Iza Lourença (PSOL) aposta na discussão de projetos relacionados às mulheres de forma mais consistente. “Vamos debater projetos em outro patamar. Nós temos muitos [projetos] que precisam ser implementados em BH, como o combate a violência doméstica e a desigualdade social, que pesa muito para as mulheres”, argumenta. “Essas questões afetam principalmente as mulheres negras que são chefes de família em muitas casa de BH, principalmente na periferia. Elas enfrentam dificuldade em comprar comida e produtos de higiene pessoal. Precisamos pensar em políticas para essas mulheres em situação de vulnerabilidade, e com mais mulheres na câmara, teremos mais possibilidade disso”, continua.

“Um dos primeiros projetos que eu quero apresentar é que o município distribua absorvente de forma gratuita pra mulheres em situação de vulnerabilidade. Ele não pode ser encarado como um item supérfluo e eu quero muito contar com a participação feminina para trazer isso”, diz Iza.

Marcela Trópia (Novo), por sua vez, acredita que desburocratização também poderá auxiliar as mulheres no combate às desigualdades. “Eu pretendo criar uma comissão de desburocratização, para que as mulheres possam entrar com mais facilidade mercado de trabalho, empreender”, afirma. “Assim, elas podem adquirir emancipação financeira e até sair de relacionamentos abusivos e de violência doméstica. Essas são pautas não só das mulheres, mas da sociedade como um todo”, pontua. “Além disso, acredito que só o fato da gente estar lá já e um baita exemplo para mulheres jovens. Isso já garante uma visibilidade e mostra que podemos ocupar espaços de poder”, completa.

Feminismo e conservadorismo

“Se hoje nós temos um aumento de mulheres na Câmara, é pelo avanço do feminismo. O feminismo tem avançado”, pondera Iza, que faz parte da bancada Mulheres de Luta, que apresentou a presidência de Duda para a CMBH. “Eu sou de um bloco que reivindica o feminismo. Nós somos cinco mulheres, das onze presentes. Minoria em número de gênero e ideologicamente”.

“Na posse nós tivemos discursos anti-feministas – claramente a resposta dos conservadores quanto a nossa presença. Nós tivemos discurso contra o feminismo, inclusive, de mulher, dizendo que o feminismo não foi o que fez ela ser eleita, e sim o movimento conservador. O que coloca as mulheres na política seria o feminismo, senão nós nem estaríamos aqui”, disse.

Duda Salabert (PDT), Iza Lourença (PSOL), Bella Gonçalves (PSOL), Cida Falabella (PSOL) e Macaé Evaristo (PT) (Reprodução/@izalourenca/Instagram)

“Apesar disso, nós temos possibilidades. Na ultima legislatura, eram só duas mulheres feministas e elas conseguiram conquistar a comissão de mulheres permanente na Câmara, com apoio de todas. É importante. A comissão pauta agora diversos tipos de violência que as mulheres sofrem, não só doméstica, como policial e estatal”, diz Iza.

No Instagram, Duda Salabert também lembrou a diversidade entre as eleitas. Ela publicou uma foto ao lado das colegas. “Há mulheres de esquerda, do centro e da direita; revolucionárias, progressistas, conservadoras, liberais; cis e trans, negras e brancas”, descreveu. No entanto, ao BHAZ, disse que gostaria que a CMBH tivesse mais mulheres de esquerda: “Lógico que a gente gostaria que tivesse mais mulheres progressistas eleitas que tem sintonia com as lutas, feminista”, disse.

Marcela Trópia também pontua que “as ideologias são diferentes, mas o respeito vai prevalecer”. Segundo a vereadora, “é preciso abrir mão de algumas convicções, de algumas opiniões, para poder fazer o ambiente mais agradável”. “Além disso, a gente tem que respeitar a forma como as pessoas gostariam de ser tratadas, não do jeito que a gente quer. Não podemos nos basear só na nossa visão de mundo”, argumenta.

Veja o perfil das atuais vereadoras

Professora Duda Salbert (PDT)

Vereadora na Câmara Municipal de BH (Reprodução/@duda_salabert/Instagram)

Duda Salabert é transexual, professora de Literatura do Colégio Bernoulli, vegana, feminista, e criadora do Transvest, uma ONG (organização não governamental) que fornece supletivos, aulas de idiomas e cursinho para Enem para trans e travestis. Ela foi a vereadora mais votada da história de Belo Horizonte e a primeira transexual a ocupar o cargo na cidade.

Professora Marli (PP)

(Reprodução/@professora.marli/Instagram)

Marli foi a terceira candidata mais votada na disputa à Câmara Municipal e defende, entre outras pautas, diretos de pessoas com deficiências e doenças raras. A família dela também está na política: o marido, Zé Guilherme, do mesmo partido, é deputado estadual, e o filho e correligionário, Marcelo Aro, atua como parlamentar federal. 

Marcela Trópia (Novo)

(Reprodução/@marcelatropia/Instagram)

Marcela Trópia é especialista em políticas públicas pela Fundação João Pinheiro, formada em política pelo RenovaBR e integrante do movimento Livres. Foi candidata a vereadora em BH em 2016 e em 2019 foi coordenadora política do gabinete do deputado estadual Guilherme da Cunha (Novo).

Iza Lourença (PSOL)

Iza, vereadora pelo PSOL, e o seu filho (Reprodução/@izalourenca/Instagram)

Iza é formada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e começou a vida política no Movimento Estudantil. Ela é feminista, antirracista, educadora popular e moradora do Barreiro. Foi eleita com compromisso de realizar um mandato coletivo e popular.

Bella Gonçalves (PSOL)

(Reprodução/@bellagoncalves_bh/Instagram)

Bella é cientista política e doutora pela UFMG e Universidade de Coimbra, em Portugal, lésbica, feminista, e luta pela causa LGBTQIA+. O primeiro mandato dela começou em novembro de 2018, quando ocupou a vaga deixada por Áurea Carolina, eleita deputada federal na época.

Nely Aquino (Podemos)

(Reprodução/@nelyaquinooficial/Instagram)

Nely foi reeleita para o segundo mandato como vereadora e presidente da Câmara Municipal. Foi a segunda mulher a presidir o Legislativo Municipal (2019/2020), e a primeira parlamentar a se tornar presidente em primeiro mandato.

Fernanda Pereira Altoé

(Reprodução/@fernandapereiraaltoe/Instagram)

Fernanda é advogada pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, ex-promotora de Justiça de São Paulo e pós-graduada em Direito Público.

Macaé Evaristo

(Reprodução/@macaeevaristo/Instagram)

Macaé Evaristo tem como principais bandeiras a educação, o feminismo e luta antirracista. Foi uma das responsáveis pela implementação, em Belo Horizonte, da Escola Integrada e foi Secretária pela Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI), onde instituiu o Programa Bolsa Permanência.

Flávia Borja (Avante)

(Reprodução/@flaviaborjaoficial/Instagram)

Flávia é fonoaudióloga, professora, tem como luta a “defesa da família” e se considera cristã conservadora. Ela é esposa do vereador da última legislatura, Fernando Borja, do mesmo partido.

Marilda Portela (Cidadania)

(Reprodução/@marildaportela.bh/Instagram)

Marilda foi reeleita para o segundo mandato, é comunicadora, professora, e se coloca como defensora dos direitos e valores cristãos. Ela também se compromete com as causas ligadas à luta contra as drogas, a favor da cultura gospel e do desenvolvimento social.

Edição: Roberth Costa

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!