Bolsonaro foi nocauteado pelo governador de São Paulo. E foi um nocaute e tanto! Daqueles em que o oponente beija a lona, desacordado, inerme…
Enquanto pôde, o presidente tentou desacreditar a vacina. Em cada um de seus pronunciamentos, fez questão de ressaltar que não se vacinaria, que não autorizaria a aquisição da vacina produzida pelo Butantã em parceria com a empresa chinesa Sinovac, que sua eficácia seria baixa e que não eram conhecidos os seus efeitos colaterais. Fez o possível para disseminar a ideia de que a vacinação não era segura, com a cumplicidade obsequiosa do ministro da saúde.
Por um tempo, teve sucesso. Apoiado por sua matilha digital, insistiu na farsa do tratamento precoce e no ataque à vacina, e as pesquisas de opinião demonstraram a constante queda na intenção dos brasileiros se vacinarem, especialmente se fosse com a “vacina chinesa”.
Mas o presidente perdeu a guerra nas redes sociais.
Oxigênio para Manaus
A falta de oxigênio na cidade de Manaus foi o catalisador necessário para que a opinião pública se voltasse contra Bolsonaro. Quando o mundo começou a se vacinar, e não havia sinal de que a vacinação teria início no país, tornou-se inaceitável a afirmação do ministro da saúde de que a imunização ocorreria no dia “d” e na hora “h”.
O cansaço com o isolamento social, as sombrias perspectivas de novos lockdowns e o recrudescimento da Covid exauriram a população. De repente, já não eram mais admissíveis as medidas antivacina do governo. E os panelaços deixaram isso bem claro…
Ao ver que sua estratégia havia falhado, o presidente e seu inepto ministro da saúde tentaram obter vacinas produzidas na Índia. Um avião foi fretado, adesivado e preparado para a viagem, que nunca aconteceu. Faltou combinar com as autoridades indianas a entrega das vacinas.
Tentaram, então, apropriar-se das vacinas que estavam em poder do Butantã, o que foi prontamente recusado pelo Palácio dos Bandeirantes. É claro que Dória não iria ceder as vacinas sem qualquer garantia de que disporia de quantidade suficiente para a vacinação da população de São Paulo…
O Dia V. Dia da Vacina
A aprovação da CoronaVac pela Anvisa ainda teve um componente especialmente intragável para o presidente. Afirmou-se, com todas as letras, que era recomendável a utilização do imunizante em um contexto caracterizado pelo “aumento do número de casos” e pela “ausência de alternativas terapêuticas” à Covid. Muito embora tardio, foi o pronunciamento de um órgão oficial explicitando que não existem evidências que indiquem a adoção de ozônio, cloroquina e vermífugo no combate ao coronavírus.
O senso de oportunidade de Dória não falhou: minutos após a aprovação da Anvisa, foi vacinada a enfermeira Mônica Calazans, mulher, negra e que atua na linha de frente no combate ao coronavírus. Dentre as dezenas de vacinados, estava também a indígena Vanuzia Costa Santos, moradora da aldeia Filhos dessa Terra.
Além de aproveitar o aspecto simbólico de estar à frente da primeira vacina aplicada no país, Dória ainda passou seu recado: a sua direita não deve ser confundida com a direita do presidente. Ele se preocupa com as mulheres, os negros e os indígenas…
O presidente nocauteado
Ao dar início à vacinação no Brasil, o Governador de São Paulo desponta como um candidato de peso às próximas eleições presidenciais. Afinal, será dele o mérito pela adoção da mais eficaz medida para o combate à pandemia. No momento, o presidente está nocauteado, estatelado no ringue; vamos ver se conseguirá forças para voltar à arena.