Quadrilha de BH adulterava documentos para bancar vida de ‘playboy’

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Homens publicavam fotos de luxos bancados com os golpes com frequência (PCMG/Divulgação)

Dez integrantes de uma quadrilha da região metropolitana de BH foram presos e outros seis estão foragidos por fazer alterações em documentos de terceiros com a finalidade de abrir contas e pegar empréstimos em bancos. A investigação da Polícia Civil de Minas Gerais, que começou em junho de 2019, já conseguiu detectar centenas de vítimas e um prejuízo estimado de R$ 2 milhões. A quadrilha, que atuava há quatro anos, gastava o dinheiro em carros de luxo, mansões e estadias em resorts e postava tudo nas redes sociais.

“Alguns criminosos tinham contatos ilícitos com pessoas que trabalhavam em empresas que possuem grande cadastro de pessoas físicas: seguradoras, operadoras de telefonia, cooperativas de seguro, despachantes… Eles se valiam desses contatos e pediam para que enviassem essa documentação para eles”, explica o delegado Gustavo Barreto, responsável pelo caso. De posse dos documentos, os estelionatários alteravam as fotos e os utilizavam para abrir contas em bancos e pedir empréstimos sem que as vítimas soubessem.

Ainda segundo o delegado, a chegada da pandemia de Covid-19 facilitou a ação dos bandidos. “A tramitação de dados pela internet teve um aumento muito grande e eles perceberam essa vulnerabilidade e incrementaram o golpe”, pontua Barreto. Além do acesso a um número maior de documentos que seriam falsificados, eles também começaram a recrutar outras pessoas e ensiná-las como aplicar o golpe. A polícia teve acesso às mensagens trocadas entre o grupo, em que um dos líderes chegava a dar “dicas” de como se comportar. “Ele fala até os termos que os outros deveriam utilizar. Fala ‘não usa gíria, não fica ansioso'”, conta o delegado.

Ostentação

As primeiras prisões aconteceram ainda em julho do último ano, quando três suspeitos foram detidos. Na ocasião, também foram apreendidos computadores, celulares, cartões de crédito em nome de vítimas e solventes utilizados para “lavar” os documentos. Os itens ajudaram no avanço das investigações e, em dezembro de 2020, outros quatro criminosos foram identificados – dentre eles, um dos líderes, o que dava dicas para os demais.

O rapaz de 24 anos foi preso em um apartamento de luxo de São Paulo, para onde havia fugido após as primeiras prisões. “[Ele] já pratica esse crime há vários anos, tem um ‘know how’, é muito articulado, bem dissimulado, sabe o que fazer até quando tem um problema no decorrer da prática”, afirma o delegado. Os materiais apreendidos na segunda fase da operação ajudaram a polícia a chegar a um outro homem, que também fugiu de BH e vivia em um apartamento de luxo na Praia da Barra, no Rio de Janeiro.

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Redes sociais dos golpistas esbanjavam luxo adquirido com os documentos adulterados (PCMG/Divulgação)

“Ele estava lá usufruindo de todo esse dinheiro e praticando novos golpes. Tomamos conhecimento de que ele estava frequentando bares e gastando R$ 5 mil, R$ 4 mil, tomando uísque de R$ 700, levando a namorada para restaurante e a conta dava R$ 600… E falava que era um empresário de BH”, conta o delegado Barreto. E a ostentação não estava presente apenas nos lugares que eles escolheram para se esconder.

Segundo o delegado, os homens esbanjavam nas redes sociais a boa vida alcançada por meio dos golpes – deslize que ajudou nas investigações. “Conseguimos efetuar a prisão nesse apart hotel, ele ficou uns 40 a 45 dias ali, ostentando realmente. Tirando onda, andando de lancha, jet ski, vivendo uma vida de luxo com o dinheiro. Eles não tinham pudor nenhum em ostentar, postavam fotos em festas, mansões, carros de luxo, com bebidas caras”, lembra.

Centenas de vítimas

Enquanto isso, muitas das centenas de pessoas que caíram no golpe nem imaginavam que havia algo de errado. Barreto explica que, pela forma como a quadrilha agia, é provável que muitos ainda nem saibam que caíram no golpe, já que os bancos podem demorar de três a seis meses para começar a cobrar as dívidas. “Um dos computadores possui mais de 500 CNHs digitalizadas com a foto dele e nome de diversas pessoas. Ou seja, 500 vítimas”, afirma o delegado.

Ainda segundo Barreto, a polícia conseguiu apurar também que um dos envolvidos era dono de uma cooperativa de crédito de Contagem e se aproveitava dos dados obtidos no serviço para aplicar o golpe nos próprios clientes. E a ação do grupo não se limitava apenas à região metropolitana de BH. “Inicialmente, a gente achava que eles agiam somente em Minas Gerais, mas percebemos que na verdade eles abriam conta em todos os estados da federação. Então muitas vítimas até hoje não sabem que são vítimas, porque a bolha só vai estourar no momento que a instituição financeira for prejudicada e começar a cobrar”, explica o delegado.

Agora, a Polícia Civil trabalha em uma nova fase da operação, que consiste em localizar as seis pessoas que estão foragidas. Trata-se de outros integrantes da quadrilha que foram identificados após as últimas prisões. No entanto, o trabalho agora é mais difícil, segundo Barreto. “No momento em que eles ficaram sabendo da investigação, eles começaram a se desfazer de seus bens. Dois estavam andando em veículos Porsche, um em uma BMW, viajando para resorts… Existe a possibilidade de algumas pessoas terem ido para mais longe de MG e até para fora do país”, afirma.

Edição: Thiago Ricci
Giovanna Fávero[email protected]

Editora no BHAZ desde março de 2023, cargo ocupado também em 2021. Antes, foi repórter também no portal. Foi subeditora no jornal Estado de Minas e participou de reportagens premiadas pela CDL/BH e pelo Sebrae. É formada em Jornalismo pela PUC Minas e pós-graduanda em Comunicação Digital e Redes Sociais pela Una.

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