Cientista renomado prevê colapso nacional e elogia Kalil na pandemia

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Segundo especialista, saída para evitar colapso de hospitais seria o fechamento de 21 dias em todo o país (Amanda Dias/BHAZ)

O médico, neurocientista e professor da Universidade de Duke (EUA) Miguel Nicolelis afirmou que o Brasil corre sério risco de encarar um colapso nacional caso não adote medidas restritivas para conter a pandemia de Covid-19. Em entrevista ao O Globo nesta sexta (26), Nicolelis – que já foi eleito um dos 20 maiores cientistas de seu tempo pela revista Scientific American – também elogiou os fechamentos adotados em Belo Horizonte e alertou para as situações críticas em outras cidades.

“Santa Catarina anunciou que colapsou, o Rio Grande do Sul está dramático, o Triângulo Mineiro colapsou”, disse o médico, para explicar que o que acontece nos municípios brasileiros atualmente é semelhante a várias peças de dominó em queda. “Belo Horizonte teve dois lockdowns que provocaram queda importante nas internações e mortes, mas o Sul do estado, não. Sabe aquele jogo de dominó em quem uma peça cai depois da outra? Foi a metáfora que usei”, explicou.

‘Tudo explodindo ao mesmo tempo’

Nicolelis citou ainda recordes de internações e de letalidade registrados nas mais diversas regiões do país. Segundo ele, alguns “efeitos sincronizadores” – como eleições, festas de fim de ano e Carnaval – fizeram com que a segunda onda de casos acontecesse de forma simultânea em vários pontos, o que piora a situação.

“Agora, está tudo explodindo ao mesmo tempo. Isso significa que não tem medicação, não tem como intubar, não vai dar para transferir de uma cidade para outra, não vai ter como transferir para lugar nenhum”, disse. Preocupante por si só, essa situação, segundo o médico, ainda traz outros agravantes, como um colapso, em paralelo, do sistema funerário.

‘Colapso nacional’

Caso a situação continue assim, Nicolelis prevê “grande chance de um colapso nacional”. Não é que todo canto vá colapsar, mas boa parte das capitais pode colapsar ao mesmo tempo, nunca estivemos perto disso”, disse. O médico afirmou ainda que, depois do genocídio indígena e da escravidão, o Brasil vive a maior tragédia da história.

“A ausência do comando do governo federal é danosa. Isso é uma guerra. Em outros países essa é a mensagem que foi dada, veja a China”, continua o neurocientista. Ele citou ainda exemplos de países que têm registros de guerras na história recente – e nos quais a população teve muito mais facilidade de entender que se trata de uma mobilização necessária para a salvação nacional.

‘Qual é o valor da vida no Brasil?’

Nicolelis apontou ainda uma negligência – da parte de governantes e da população – com relação à vida. “Eu tenho me perguntado muito: qual é o valor da vida no Brasil? Que valor os políticos dão para a vida do cidadão se não fecham as atividades num lugar com 100% de ocupação dos leitos? Ter que preservar a economia é não só uma falsidade econômica como demonstra completa falta de empatia com a vida das pessoas”, pontuou.

O neurocientista apontou ainda que não é preciso chegar ao poder público para perceber essa falta de respeito – basta olhar em volta. “Quando alguém vai a uma festa clandestina de fim de ano, de Carnaval, se aglomera numa balada ou à beira do campo de futebol, não compromete só sua saúde, mas a vida dos seus familiares, seus vizinhos e das pessoas que nem conhece. Nossa sociedade em algum momento perdeu a conexão com o quão irreparável é a vida”, ressaltou.

Lockdown nacional

E para quem acha que vai ser fácil voltar a ter algum grau de normalidade, Nicolelis alerta: “Tem saída, mas tem que mudar tudo”. Para isso, o médico propõe a criação, por parte dos governadores, de uma comissão de salvação nacional, sem a participação do Ministério da Saúde. “É uma guerra, quando vamos bater de frente com o inimigo de verdade? O Brasil é o maior laboratório a céu aberto para ver o que acontece com o vírus correndo solto”, disse.

Além disso, o pesquisador acredita ainda que é importante implementar um “lockdown imediato, nacional, de 21 dias, com barreiras sanitárias nas estradas e aeroportos fechados”. Depois disso, o país teria ainda que ampliar a cobertura da imunização, usando múltiplas vacinas. “Vacinação, vacinação, vacinação, testagem e isolamento social. Não tem jeitinho numa guerra. Estamos diante de um prejuízo épico, incalculável, bíblico”, concluiu.

Edição: Thiago Ricci
Giovanna Fávero[email protected]

Editora no BHAZ desde março de 2023, cargo ocupado também em 2021. Antes, foi repórter também no portal. Foi subeditora no jornal Estado de Minas e participou de reportagens premiadas pela CDL/BH e pelo Sebrae. É formada em Jornalismo pela PUC Minas e pós-graduanda em Comunicação Digital e Redes Sociais pela Una.

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