‘Tudo suspenso’: Aulas presenciais em BH não têm previsão de retorno

Aulas sem previsão retorno BH
O anúncio foi feito pela secretária Municipal de Educação, Ângela Dalben (Moisés Teodoro/BHAZ)

O triste cenário da pandemia em Belo Horizonte, que já custou a vida 2.885 pessoas na capital, vai atrasar ainda mais o início das aulas presenciais. Em anúncio feito na tarde dessa sexta-feira (12), a secretária Municipal de Educação, Ângela Dalben, afirmou que não há previsão de retorno às aulas presenciais em BH. “Está tudo suspenso, nada de retorno presencial, agora então menos ainda”, sinalizou Ângela em referência aos números da doença na capital.

Ao BHAZ, a secretária esclareceu que, para além dos altos números da Covid, ainda temos o problema da falta de vacinas. A representante da pasta garantiu que quando as vacinas chegarem em Belo Horizonte, os professores também terão prioridade. “Chegando vacina, quando estiverem na faixa etária correta, eles terão prioridade.”

“Temos que vacinar, mas há todo um protocolo. É o Governo Federal que define as faixas etárias, não somos nós. Mas depois que as faixas etárias prioritárias [forem imunizadas], a gente pode privilegiar [os professores]”, explica. Anteriormente, a meta era que as aulas presenciais fossem retomadas logo no início de março. Porém, os indicadores da Covid impossibilitam a retomada na educação.

Falta de colaboração

Durante conversa com a imprensa, na sede da Prefeitura, a secretária também frisou que as pessoas ainda precisam colaborar mais. Existe uma dificuldade no respeito às medidas de isolamento por parte da população, e isso tem feito com que os números da Covid subam e atrase, ainda mais, a volta da normalidade. “Eu peço a cada cidadão que pense duas vezes quando fizer qualquer ativada fora de casa”, comenta.

“É fundamental que a gente volte a normalidade e que as crianças possam estar dentro das escolas, se desenvolvendo. A grande questão é isso, todo mundo é responsável pela criança dessa cidade. Pra que a gente possa voltar a trabalhar com segurança e tranquilidade, temos que colaborar. Dentro dos escritórios, por exemplo, as pessoas precisam analisar quem precisa necessariamente estar lá. Se não, as crianças vão continuar sem escola.”

Em janeiro deste ano, o prefeito Alexandre Kalil chegou a anunciar que as aulas presenciais da rede municipal de Belo Horizonte seriam retomadas em março. De acordo com o secretário municipal de Saúde, Jackson Machado, o retorno seria no dia 1º de março. De acordo com Kalil, a PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) planejava retomar as aulas presenciais já em fevereiro, mas a data foi adiada, segundo ele, “dado a caso de problemas de crianças infectadas e até casos de mortes, que estão pesquisando se é essa nova cepa [da Covid-19]”.

Universitários longe dos campus

Com a suspensão de todas as atividades presenciais, exceto as essenciais para o enfrentamento da pandemia e de manutenção, a UFMG decidiu voltar à etapa zero do Plano para o retorno presencial de atividades não adaptáveis ao modo remoto. A medida, que entra em vigor nesta segunda-feira (15), foi fundamentada por orientações dos comitês de enfrentamento do coronavírus da UFMG e da Prefeitura de Belo Horizonte.

“Vivemos um momento de extrema gravidade, em que observamos elevada incidência de novos casos de covid-19, circulação de novas variantes, com alta taxa de transmissão, resultando em exaustão de serviços e trabalhadores de saúde e um número inaceitável de óbitos. Medidas necessárias e urgentes de contenção e restrição da circulação de pessoas foram adotadas nos municípios de Belo Horizonte e de Montes Claros para evitar o colapso do sistema de saúde”, justificam a reitora Sandra Regina Goulart Almeida e o vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira em nota encaminhada à comunidade da UFMG nessa sexta-feira (12).

Segundo o comunicado, a medida vai vigorar nas duas próximas semanas. “Tal medida se faz necessária para proteger vidas e colaborar com o esforço coletivo pela saúde, em uma atitude de respeito e solidariedade, quando a circulação de pessoas em espaços e transportes públicos precisa ser limitada ao mínimo estritamente necessário. Seguimos acompanhando rigorosamente o cenário epidemiológico em Belo Horizonte e em Montes Claros. Esperamos poder retornar à etapa 1 com maior segurança, o mais breve possível, considerando a relevância de todas as atividades desenvolvidas na UFMG”, afirmam os gestores.

Risco de colapso

De acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pela PBH nesta sexta (12), a cidade tem 89,2% dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) destinados ao tratamento da Covid-19 com pacientes, e a ocupação dos leitos de enfermaria está em 75,6%. O número médio de transmissão por infectado também subiu e está em 1,25, o que deixa todos os indicadores no nível vermelho e máximo de alerta. Quando Kalil decretou a volta à estaca zero, na sexta-feira passada, as UTIs estavam 81% ocupadas e os leitos de enfermaria, 61,9%.

Em entrevista realizada ao BHAZ ontem, o médico infectologista Unaí Tupinambás, integrante do comitê de enfrentamento à Covid-19 da PBH, já adiantava a preocupação com o cenário do sistema de saúde. “A situação do Brasil todo está preocupante, estamos tendo recordes de mortes diárias. O sistema funerário de algumas regiões do país pode colapsar, tem lugar que já não tem leito mais. Mesmo em BH, pode ter um colapso do sistema de saúde”, afirmou o especialista.

Tupinambás disse, ainda, que o ideal seria um movimento nacional para brecar o avanço da Covid. “Se fizéssemos um lockdown de 21 dias, no Brasil, o prejuízo econômico seria muito menor do que o que vamos ter com o enfrentamento inadequado da pandemia. Também precisaríamos de um auxílio emergencial decente, porque R$ 200 são para morrer de fome”, afirmou.

“Um prefeito não teria o poder que um presidente tem de decretar um lockdown, acho que só mesmo um presidente poderia decretar medidas mais duras assim. Na prefeitura, a gente chama, solicita que as pessoas entendam o momento e colaborem”, finalizou o médico infectologista.

Jordânia Andrade[email protected]

Repórter do BHAZ desde outubro de 2020. Jornalista formada no UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) com passagens pelos veículos Sou BH, Alvorada FM e rádio Itatiaia. Atua em projetos com foco em política, diversidade e jornalismo comunitário.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!