Desafio do futuro ministro da Saúde é não ser subserviente a Bolsonaro

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Transição: Marcelo Queiroga tem a missão de não ser igual ao desastre chamado Pazuello (Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

A crise da pandemia, agravada pelo colapso da saúde, derrubou o ministro submisso da saúde, Eduardo Pazzuelo, que foi trocado. Sai um militar e entra um médico. Pode marcar a desmilitarização do Ministério da Saúde e o reconhecimento de que o comando ali não é de quartel, mas de centro de saúde pública. O desafio do novo ministro Marcelo Queiroga será manter-se na linha sanitária, da ciência. Se tiver autonomia para isso, já terá sido avanço, caso contrário seria a troca de seis por meia dúzia.

Por mais que seja amigo do presidente, ou que tenha sido indicado pelo filho de Bolsonaro (Flávio), Marcelo Queiroga não irá ser tão subserviente e o desastroso quanto Pazuello. Pazuello foi pesadelo para a saúde dos brasileiros. A relação do novo ministro com a ciência e experiência profissional de médico não permitiria.

Tanto é que defendeu, na primeira entrevista, as medidas restritivas em defesa das máscaras, do isolamento. Cheio de receios, ele disse que a política é do governo, mas um ministro da saúde tem que orientar o presidente, o governo e as ações necessárias ao enfrentamento do colapso. Caso contrário, melhor deixar o general, ou nomear um cabo, já que é para seguir as ordens do presidente que não entende de nada e ainda atrapalha. Pior, que age contra as medidas científicas só pra dizer que quem manda é ele.

“Manda quem pode, obedece…”

Basta lembrar o prazer que Bolsonaro demonstrou quando Pazuello, doente de covid, disse, ao lado dele, que manda quem pode e obedece quem tem juízo. Bolsonaro riu até as orelhas, mas a declaração reafirmou o fim da competência e do compromisso com os destinatários das ações de governo e da saúde. Claro, nesse dia, os dois sem máscaras e juntos, com menos de um metro de distância. Um dia antes, Bolsonaro o havia desautorizado publicamente na única medida acertada que Pazuello tinha adotado.

Mas a realidade é cruel e dura para todos os lados. O Ministério da Saúde confirmou a 1ª morte por covid-19 no Brasil, em 17 de março de 2020. Exatamente um ano depois, nesta quarta (17), as autoridades notificaram mais de 282 mil vítimas. Durante esse período foram, em média, 32 mortes confirmadas a cada hora e 775 registros por dia. Neste mês de março, são 1.699 mortes por dia, o que equivale a 71 por hora ou 1,18 morte por minuto.

Houve troca de ministros, mas basta agir corretamente, como aconteceu nos EUA após mudança de governo. No Amazonas, por exemplo, o ritmo de mortes diminuiu. O estado enfrentou uma crise de falta de oxigênio no início de fevereiro. A média móvel chegou à máxima de 149 no dia 4 daquele mês. Nessa 3ª (16.mar), a curva estava em 40.

Efeitos políticos negativos

No campo das avaliações, pesquisa Datafolha divulgada, na terça (16) indicou que o governo de Jair Bolsonaro é reprovado por 54% da população (pessoas que dizem que administração federal é “ruim” ou “péssima”).

Os aliados do Centrão ficaram insatisfeitos com a escolha do novo ministro e sinalizaram dificultar pautas do governo na Câmara. Bolsonaro ignorou a indicação deles para o comando da pasta.

Máscaras para salvar vidas e a economia

Em seu primeiro pronunciamento, o futuro ministro da Saúde já sinalizou que pensa diferente do presidente. “Podemos com essas medidas evitar ter que parar uma economia de um país. É preciso unir os esforços de enfrentamento à pandemia com a preservação econômica. Para garantir emprego, para garantir renda e para garantir recursos para que as políticas públicas de saúde tenham execução”, afirmou Marcelo Queiroga, ao lado de Pazuello, na terça (16).

Por isso, defendeu o uso de máscaras e álcool gel, ao reconhecer que as medidas podem salvar a economia. “[Quero] conclamar a população que utilizem máscaras, que são medidas simples de bloqueio do vírus, que lavem as mãos, usem o álcool em gel. Eu estou repetindo, todos vocês já sabem disso. Mas só para reafirmar essa posição que são medidas simples, mas que são importantes”, declarou. Não se sabe o presidente entendeu, mas a troca de comando ainda não foi oficializada, apesar do anúncio.

Orion Teixeira[email protected]

Jornalista político, Orion Teixeira recorre à sua experiência, que inclui seis eleições presidenciais, seis estaduais e seis eleições municipais, e à cobertura do dia a dia para contar o que pensam e fazem os políticos, como agem, por que e pra quem.

É também autor do blog que leva seu nome (www.blogdoorion.com.br), comentarista político da TV Band Minas e da rádio Band News BH e apresentador do programa Pensamento Jurídico das TVs Justiça e Comunitária.

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