Dono de academia de BH é investigado por estuprar fisioterapeuta

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A Polícia Militar chegou a prender o suspeito em flagrante, mas ele foi liberado (FOTO ILUSTRATIVA: Amanda Dias/BHAZ)

O dono de uma academia de musculação na região Nordeste de Belo Horizonte está sendo investigado pelo estupro de uma fisioterapeuta, que ocorreu na tarde da última quinta-feira (18). A mulher contou à Polícia Militar que prestava atendimento para o homem, lutador de jiu-jitsu e MMA, quando ele começou a fazer perguntas sobre sua vida íntima. Conforme o relato, no momento em que ela foi abraçar o suspeito para se despedir, ele a imobilizou no chão e praticou o ato sexual sem o consentimento dela.

Segundo o registro policial, a mulher teria realizado o atendimento do suspeito em um tatame da academia, quando, durante o trabalho, ele começou a questionar a vida pessoal dela, bem como o estado do casamento da fisioterapeuta. A mulher então teria pedido para que o dono da academia parasse da fazer perguntas sobre ela, ou, do contrário, interromperia o atendimento. Ela conta que despediu-se do homem com um abraço depois de terminar a consulta e, nesse momento, foi atacada.

Ainda de acordo com o depoimento, o lutador de jiu-jitsu teria deitado a fisioterapeuta de costas para o chão e a imobilizado utilizando técnicas de luta. A mulher relata que ele retirou parcialmente sua calça e, embora ela o pedisse para parar a todo momento e dissesse que não consentia com o ato, o dono da academia não deu ouvidos e continuou com a violência. Após o crime, a mulher conta que foi até a casa de uma amiga, que a orientou a ligar para o marido.

Conversas no celular

O advogado da fisioterapeuta, Glauber Paiva, disse ao BHAZ que há registro de troca de mensagens que comprovam que o crime ocorreu. “Ela me mostrou uma conversa dele no celular em que ele fala que estava arrependido do que fez, assumindo toda a responsabilidade. Inclusive, o telefone dele deveria ter sido apreendido pela perícia”, aponta Glauber. Apesar da acusação, o autor somente foi ouvido na delegacia e em seguida foi liberado. Procurada pelo BHAZ, a Polícia Civil explicou que abriu uma investigação para apurar os fatos, mas que, a princípio, não tinha provas suficientes para prender o lutador (veja abaixo).

Glauber afirma ainda que a fisioterapeuta chegou a ir ao Hospital Odilon Behrens, onde a equipe médica que realizou o atendimento detectou o sêmen do suspeito no corpo dela. Ainda segundo o advogado, pela condição financeira da mulher, é impossível pensar que ela faria algum tipo de denúncia desse nível para obter algum tipo de vantagem. “O depoimento da vítima tem muita validade, corroborado com outros elementos de prova técnica. Ela informou que lá [na academia] tinha circuito interno de segurança, então vamos proceder com diligências para poder pegar essas imagens”, argumenta.

Liberado pela polícia

Durante as primeiras diligências, o homem chegou a ser preso em flagrante. Em seu depoimento, o suspeito alegou que já havia recebido atendimento da fisioterapeuta outras vezes, e que em nenhum momento ameaçou ou feriu física e psicologicamente a vítima. Ele também acrescentou que o ato sexual teve o consentimento da mulher, sem envolver nenhum tipo de ameaça. A Polícia Militar encaminhou a vítima para o Hospital Odilon Behrens, onde ela foi atendida e medicada por uma ginecologista.

O suspeito do crime chegou a ser liberado antes mesmo de a fisioterapeuta prestar depoimento – trâmite questionado pela defesa dela. “Primeiro teriam que ouvir a vítima, depois liberar”, defende Glauber. O advogado ressaltou também que há uma preocupação da defesa quanto ao tempo de conclusão do inquérito, já que, segundo ele, as provas do crime podem ser destruídas com o tempo.

Ao BHAZ, a Polícia Civil explicou, em nota (leia na íntegra abaixo), que ouviu ambas as partes, e as liberou em seguida. A corporação explicou que “instaurou inquérito para apurar os fatos” e que, com as informações e depoimentos iniciais, “não encontrou elementos suficientes para ratificar o flagrante” – por isso, o homem foi liberado.

‘Triste, com vergonha e se sentindo enojada’

A fisioterapeuta mandou uma mensagem para o esposo, pedindo para que ele fosse embora para casa “imediatamente”, segundo a polícia. O marido respondeu à mensagem perguntando o que tinha acontecido, ao que a mulher disse que estava triste, com vergonha e se sentindo enojada. De acordo com o relato do marido à PM, a esposa estava aos prantos quando eles conversaram. Ao chegar em casa, o homem se deparou com uma viatura da polícia, que o orientou a pegar a esposa, voltar para a academia ocorreu e ligar para o 190.

O advogado da vítima explicou que ela ainda está muito abalada com o ocorrido, e teve dificuldades em relatar a situação. No momento ela é acompanhada por psicólogos pessoal e forense. “Eu tenho irmã, mãe e filha. Eu fiquei com um sentimento ruim, e considero isso como uma tragédia por conta de todo sofrimento que ela tem passado por esse trauma. Eu vi ela hoje e estava muito abalada”, diz o advogado. Os próximos passos do processo vão depender das investigações da Polícia Civil.

O que diz o homem?

Desde a última sexta-feira (19), o BHAZ fez várias tentativas de contato com o dono da academia. Em um primeiro momento, uma mulher que se identificou como esposa dele negou as acusações e afirmou que não poderia falar mais por questões judiciais. Ela se comprometeu, no entanto, a acionar o advogado do lutador para conversar com a reportagem.

Nesta segunda-feira (22), os representantes do suspeito voltaram a ser procurados. O BHAZ conversou com o advogado de defesa do dono da academia, que afirmou que não vai se posicionar a respeito da denúncia.

Onde conseguir ajuda?

Caso você seja vítima ou conheça alguém que precise de ajuda, pode fazer denúncias pelos números 181, 197 ou 190. Além deles, veja alguns outros mecanismos de denúncia:

  • Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher: av. Barbacena, 288, Barro Preto | Telefones: 181 ou 197 ou 190
  • Casa de Referência Tina Martins: r. Paraíba, 641, Santa Efigênia | 3658-9221
  • Nudem (Núcleo de Defesa da Mulher): r. Araguari, 210, 5º Andar, Barro Preto | 2010-3171
  • Casa Benvinda – Centro de Apoio à Mulher: r. Hermilo Alves, 34, Santa Tereza | 3277-4380
  • Aplicativo MG Mulher: Disponível para download gratuito nos sistemas iOS e Android, o app indica à vítima endereços e telefones dos equipamentos mais próximos de sua localização, que podem auxiliá-la em caso de emergência. O app permite também a criação de uma rede colaborativa de contatos confiáveis que ela pode acionar de forma rápida caso sinta que está em perigo (acesse aqui).

Seja qual for o dispositivo mais acessível, as autoridades reforçam o recado: peça ajuda.

Nota da Polícia Civil na íntegra

A Polícia Civil de Minas Gerais informa que instaurou inquérito para apurar os fatos. Com as informações iniciais e depoimentos, a autoridade policial não encontrou elementos suficientes para ratificar o flagrante. Todos foram ouvidos e liberados. A investigação segue em andamento na Delegacia Especializada de Combate à Violência Sexual.

Edição: Giovanna Fávero
Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

Jordânia Andrade[email protected]

Repórter do BHAZ desde outubro de 2020. Jornalista formada no UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) com passagens pelos veículos Sou BH, Alvorada FM e rádio Itatiaia. Atua em projetos com foco em política, diversidade e jornalismo comunitário.

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