Covid: Duas pessoas morreram à espera de leitos de CTI em BH, aponta sindicato

Pacientes sem monitorização
Na UPA Venda Nova, pacientes estão internados sem monitorização por falta de profissionais suficientes (Sindibel/Divulgação)

Atualizado às 15h28 do dia 30/03/2021 para incluir posicionamento do Governo de Minas.

Nas últimas 72 horas, duas pessoas morreram à espera de leitos de CTI (Centro de Terapia Intensiva) para Covid-19 nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) de Belo Horizonte. Na rede pública de saúde da capital mineira, 200 pessoas estão na fila por um leito de CTI. Os números foram divulgados nesta segunda-feira (29) pelo Sindibel (Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte), que alerta para o colapso do sistema de saúde de BH e reivindica atitudes dos governos municipal, estadual e federal. O sindicato ainda denuncia que outras duas pessoas morreram por falta de respiradores nas unidades de saúde, mas a PBH nega (veja mais abaixo).

“Hoje, não adianta mais ficar construindo mais leitos ou hospitais, porque existe o problema do limite da força de trabalho: para cada leito, é preciso uma equipe de profissionais da saúde para cuidar do paciente, e chegamos em um momento em que faltam profissionais. Cobramos seriedade dos governos, com medidas duras de isolamento social e com apoio assistencial financeiro, para evitar mais mortes”, defende o presidente do Sindibel, Israel Arimar de Moura, ao BHAZ.

Ainda de acordo com o sindicato, faltam equipamentos necessários para os atendimentos. “Já tivemos casos em que os profissionais de saúde não tiveram pontos de oxigênio, balas de oxigênio, bombas de infusão, monitores, medicamentos ou respiradores mecânicos para pacientes”, diz trecho de manifesto (leia na íntegra abaixo) divulgado pelo Sindibel ao prefeito Alexandre Kalil (PSD), à CMBH (Câmara Municipal de Belo Horizonte), à população da cidade e ao MPMG (Ministério Público de Minas Gerais).

Mensagens mostram caos

“As salas de emergência estão com lotação excedida e pacientes graves com indicação de internação em CTI estão tendo que ficar em enfermaria nas UPAs. Pacientes graves, mesmo entubados, não estão monitorados por equipamentos e profissionais em quantidade e qualidade adequadas, o que aumenta o risco de morte. Faltam profissionais de saúde. Estamos em situação de guerra”, completa o texto.

Conversas de WhatsApp entre servidores que atuam nas UPAs de BH divulgadas pelo Sindibel ilustram o caos vivido dentro do sistema de saúde da capital. As mensagens mostram profissionais compartilhando o número de pessoas sendo intubadas; denunciando a escassez de equipamentos e insumos como oxigênio e respiradores; contabilizando pessoas que esperam vagas em leitos e os óbitos por Covid-19 registrados no dia.

Denúncias UPA
Conversas entre profissionais da saúde mostram situação preocupante (Sindibel/Divulgação)

“Uma informação importante é que os respiradores NÃO VENTILAM, são respiradores de transportes, isto significa que o paciente não é ventilado adequadamente, desenvolve fibrose pulmonar e evoluem pro óbito. Olha o absurdo: ventiladores que não ventilam”, denuncia uma das mensagens compartilhadas pelo sindicato. “Falei que perdemos à noite as duas que agonizaram ontem na enfermaria e não tinha como trazer pra sala de urgência”, diz outra mensagem.

Denúncia ventiladores
Profissionais denunciam respiradores que não ventilam (Sindibel/Divulgação)
Morte sem respirador
Pacientes morreram em leitos de enfermaria (Sindibel/Divulgação)

Reivindicações

Frente ao colapso do sistema de saúde de Belo Horizonte, o Sindibel cobra da PBH (Prefeitura de Belo Horizonte), do Governo de Minas e do Ministério da Saúde medidas que intensifiquem o isolamento social na capital mineira. “É preciso fortalecer estas medidas, talvez até pensando em um lockdown. Mas quando falamos disso, sabemos que para garantir um isolamento eficaz é preciso que os governos assumam as responsabilidades de liberar assistência [financeira], para as pessoas ficarem em casa”, afirma o presidente do sindicato.

“Estamos numa guerra, e nesta guerra, não podemos deixar as pessoas desamparadas. Precisamos pensar não só nas famílias mais vulneráveis, mas também nos pequenos negócios que precisam sobreviver. É necessária uma política de assistência econômica. Ou tomamos essas atitudes, ou veremos pessoas morreram sem conseguir entrar nos hospitais ou nas UPAs”, completa Israel Arimar de Moura.

“Por fim, fazemos um apelo à população: cuidem-se, protejam-se! E cobrem dos vereadores e deputados estaduais e federais ação efetiva do Estado brasileiro para proteger os seus cidadãos”, finaliza o manifesto divulgado pelo Sindibel. Em nota (leia na íntegra abaixo), o Governo de Minas ressaltou que “tem atuado para que nenhum mineiro fique sem assistência” e realiza monitoramentos periódicos para “garantir a assistência adequada em tempo hábil”. O BHAZ também questionou o governo federal a respeito da denúncia do sindicato, mas ainda não obteve resposta. Tão logo o governo responder, esta reportagem será atualizada.

PBH nega falta de insumos

Procurada pelo BHAZ, a PBH confirmou que as UPAs têm apresentado aumento na procura por atendimento e reforça que “Belo Horizonte, assim como todo o país, se encontra em uma situação grave em relação à pandemia da Covid-19”. A administração municipal, no entanto, nega que duas pessoas tenham morrido por falta de respiradores na capital, conforme informado pelo Sindibel.

“Sobre insumos, oxigênio e medicamentos, os estoques estão abastecidos nas UPAs e a informação de que pacientes morrerem na UPA Norte devido à falta de respirador, não procede. Só nesta unidade, são nove respiradores. Nas nove UPAs são 75 respiradores”, pontua a PBH em nota (leia na íntegra abaixo). A prefeitura também garante que a Secretaria Municipal de Saúde trabalha de forma ininterrupta para que todos os pacientes sejam atendidos.

“A Prefeitura tem trabalhado incansavelmente para repor as vagas das unidades de saúde e também ampliar a força de trabalho. As contratações de profissionais de saúde ocorrem diariamente e o processo seletivo se dá com base nos cadastros realizados no banco de currículos eletrônico da Prefeitura de Belo Horizonte disponível neste link“, completa o comunicado.

Nota da PBH

“A Prefeitura informa que Belo Horizonte, assim como todo o país, se encontra em uma situação grave em relação à pandemia da Covid-19. As UPAs da capital têm apresentado aumento na procura por atendimento nas unidades e a Secretaria Municipal de Saúde trabalha de forma ininterrupta para que todos os pacientes sejam atendidos.

A Prefeitura vem empreendendo todos os esforços para abrir novos leitos. Somente neste mês foram abertos 243 leitos de UTI Covid, saltando de 283, no dia 1º, para as atuais 526. Todos os pacientes hospitalizados nas instituições da Rede SUS que necessitam de UTI já foram cadastrados na central de leitos, que funciona 24 horas, sete dias por semana, inclusive nos feriados. É importante ressaltar que essas pessoas foram atendidas, estão recebendo atenção médica e poderão ser transferidas para um hospital, caso necessitem de cuidados indisponíveis nas UPAs.

Diante do aumento de demanda por atendimentos nas unidades de Saúde da capital provocado pela Covid-19, a Prefeitura de Belo Horizonte tem se empenhado para garantir assistência à população. A partir desta segunda-feira, dia 29 de março, as nove regionais passaram a contar com centros de saúde com funcionamento todos os dias, 24h, para atender a casos não Covid. Essa estratégia visa ampliar o atendimento de pessoas que não apresentam sintomas respiratórios e são classificados como baixa e média complexidade, deixando as UPAs dedicadas, prioritariamente, ao atendimento dos casos sintomáticos respiratórios, pediatria e traumas.

Na última sexta-feira, dia 26, três centros de saúde das regionais Centro-Sul, Pampulha e Venda Nova passaram a funcionar 24h. Em três dias de funcionamento foram realizados cerca de 600 atendimentos.

Sobre insumos, oxigênio e medicamentos, os estoques estão abastecidos nas UPAs e a informação de que pacientes morrerem na UPA Norte devido à falta de respirador, não procede. Só nesta unidade, são nove respiradores. Nas nove UPAs são 75 respiradores.

O número de casos e óbitos por Covid são atualizados no Boletim Epidemiológico e Assistencial (www.pbh.gov.br/coronavirus).

A Prefeitura tem trabalhado incansavelmente para repor as vagas das unidades de saúde e também ampliar a força de trabalho. As contratações de profissionais de saúde ocorrem diariamente e o processo seletivo se dá com base nos cadastros realizados no banco de currículos eletrônico da Prefeitura de Belo Horizonte disponível no link: https://prefeitura.pbh.gov.br/saude/informacoes/gestao-de-pessoas/banco-de-curriculos“.

Nota do Governo de Minas

“A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) esclarece que o estado, assim como todo o resto do país, passa por um momento de aumento considerável nos casos de covid-19 devido à presença de novas variantes.

Entre as estratégias para conter o avanço da pandemia no estado, foi determinado que todas as macrorregiões de Minas Gerais entrassem na onda roxa. A decisão foi tomada para que o sistema de Saúde restabeleça sua capacidade assistencial à população.

A SES-MG tem atuado para que nenhum mineiro fique sem assistência. Realiza monitoramentos periódicos da rede hospitalar para conhecer o estoque de insumos e a taxa de ocupação de leitos no estado e, assim, garantir a assistência adequada em tempo hábil, bem como a tomada de decisões pelo Governo de Minas para reduzir o índice de transmissão e o estresse assistencial.

Desde março de 2020, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) vem fomentando a ampliação de leitos de terapia intensiva no estado. Minas Gerais contava com 2.072 leitos de UTI e, atualmente, possui 4.488.

Na macrorregião centro, em fevereiro de 2020, havia 791 leitos de terapia intensiva e atualmente conta com 1.390. Essa ampliação é resultado de esforço conjunto entre SES, prestadores, governo federal e gestores municipais”.

Manifesto do Sindibel

“O SINDIBEL — Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte — vem a público informar ao prefeito, aos vereadores e à população em geral a gravidade real da pandemia em Belo Horizonte. Os sistemas privado e público de Saúde entraram em colapso.

Nas últimas 72 horas, 21 pacientes morreram nas Upas municipais. Destes, dois por falta de respiradores e dois por espera prolongada por leito de CTI.

Em toda a rede SUS-BH, 200 pessoas estão na fila por um leito. A rede privada também está com fila de espera.

Faltam equipamentos necessários para os atendimentos. Já tivemos casos em que os profissionais de saúde não tiveram pontos de oxigênio, balas de oxigênio, bombas de infusão, monitores, medicamentos ou respiradores mecânicos para pacientes.

As salas de emergência estão com lotação excedida e pacientes graves com indicação de internação em CTI estão tendo que ficar em enfermaria nas Upas. Pacientes graves, mesmo entubados, não estão monitorados por equipamentos e profissionais em quantidade e qualidade adequadas, o que aumenta o risco de morte.

Faltam profissionais de saúde. Estamos em situação de guerra. É importante saber que o número de profissionais de saúde é finito. Ainda que se criem mais leitos de CTI, a escassez de profissionais para cuidar adequadamente dos pacientes não garantirá o atendimento de qualidade necessária.

Diante disso, o Sindicato que representa os trabalhadores da Saúde em Belo Horizonte vem cobrar das autoridades a devida responsabilidade com medidas adequadas. Sem a garantia de vacinação em massa neste momento, a única medida para reduzir a ocupação dos leitos hospitalares e das UPAS é o afastamento social e, se necessário, o lockdown.

Embora caiba ao prefeito Kalil tomar esta atitude, é necessário cobrar também do presidente Bolsonaro e do governador Zema a garantia de auxílio emergencial para todas as famílias em situação de vulnerabilidade. Além disso, também é preciso, por meio dos instrumentos de Estado, garantir o suporte para os pequenos negócios que não têm as reservas econômicas necessárias para ficarem fechados.

Por fim, fazemos um apelo à população: cuidem-se, protejam-se! E cobrem dos vereadores e deputados estaduais e federais ação efetiva do Estado brasileiro para proteger os seus cidadãos”.

Edição: Roberth Costa
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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