Militares avisam que não estão 100% ‘fechados’ com Bolsonaro. Você está??

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Bolsonaro cumprimenta o comandante do Exército, Ernesto Pujol, que entregou o cargo (Antônio Cruz/Agência Brasil)

O governo Bolsonaro tem sido e tido uma sucessão de “nãos”. Começou com Luiz Mandetta (Saúde) e Sérgio Moro (Justiça), para citar apenas dois que estavam em alta aprovação popular por ações e imagens. Muita gente que achava que o governo seria de mudanças ou lavajatista disse “acabou”, convencida de que a nova gestão estava sustentada ali. Essa foi uma das primeiras fake news que marcam o atual governo e a época que vivemos. Ao contrário, sempre esteve pautado no grito e no arroubo, nitidamente autoritário.

Veio a pandemia para desgraçar a desgraça. Nada adiantou para aqueles 30% que apoiam e continuam passando pano e guiando a boiada. Abandonaram Mandetta e, depois, o Moro, mas se agarraram aos militares, adotando a bandeira brasileira e a camisa da Seleção 1 X 7 como símbolos de patriotismo. Agora, a República está em transe diante de crise militar.

Um novo recado foi dado às vésperas de mais um indefensável e abominável 31 de março, que não pode ser esquecido; deve ser sempre lembrado e classificado ameaça à vida e à civilização. Mesmo sem entrar no mérito da história, quatro comandantes militares saíram do governo por discordarem do mérito do governo que integravam. Pediram demissão em bloco; nem precisa desenhar o tamanho do “não” a Bolsonaro e seu rumos.

Presidente tenta mudar a narrativa

Deixaram vazar, na segunda (29), que entregariam os cargos em solidariedade ao ministro da Defesa, Fernando Azevedo, demitido por Bolsonaro. Saíram com ele o comandante do Exército, o da Marinha e da Aeronáutica. O político Bolsonaro tentou mudar a narrativa da história. Para não ficar com os cargos na mão, antes que eles formalizassem a demissão, baixou sua autoridade para dizer “eu é que estou demitindo”.

Chama-se a isso a comando de ocasião. O verdadeiro líder e comandante é aquele que manda fingindo não mandar. Em vez disso, e dentro de sua limitação, o que faze, os falsos líderes? Gritam “eu é que mando aqui, porra”.

Esse foi o tenso dia do incelebrável 31 de março deste ano, aos 57 anos do golpe que impôs a ditadura militar no Brasil, dia no qual gatos pingados foram às ruas. Para quê? Para defender Bolsonaro e atacar instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF), quando, na verdade, estavam comemorando aquela intervenção militar para estimular uma outra. Mas as Forças Armadas (FA) não estão na mesma frequência, como os episódios demonstraram.

Papel das Forças Armadas

Foram às ruas para defender, então, uma história da qual nem mesmo as Forças Armadas e os militares mais comprometidos com a Constituição querem estimular. Porque reconhecem que a mistura da política com os quartéis não fez bem às FA e ao seu papel constitucional enquanto instituição de Estado, e não de governos.

Tanto é que essa convicção e compreensão da realidade brasileira levaram a saída de quatro comandantes de uma vez só do governo Bolsonaro. Um fato inédito na história da República e que, ao mesmo tempo, balançou a relação governo e FA como não se via há 45 anos. Em 1977, o então presidente Ernesto Geisel demitiu o comandante Sylvio Frota, que pretendia recrudescimento da abertura democrática.

Há menos de 10 dias, Bolsonaro disse, naquelas conversas impróprias e desagregadoras que costuma ter com seguidores, que “meu Exército” não aceitaria a “falta de liberdade” do povo. Referia-se às decisões e medidas mais duras de governadores e prefeitos, como toque de recolher, para combater a pandemia. Medidas que a Suprema Corte da Justiça considerou corretas e legais perante a Constituição e perante o colapso da saúde e escalada de mortes pela pandemia. E mais, disse o ministro Marco Aurélio, autor da sentença, que todos eram responsáveis pelo combate à Covid, inclusive o presidente e seu governo.

Instabilidade afeta governabilidade

Na mesma semana, Bolsonaro deu sinais de que estava querendo assumir sua responsabilidade e de ouvir a política e, quem sabe, a ciência. Trocou um general por um médico no Ministério da Saúde e aceitou a parceria de um comitê, integrado pelo Congresso Nacional, governadores e especialistas. Ou seja, da ciência.

Como instabilidade é seu nome, ele tentou dar guinada, ou manter a sua de preferência, e submeter o país e as instituições ao seu comando e projetos. Se deu mal, porque as FA estão dizendo o tempo que não apoiarão mais uma aventura. A maioria dos militares sabe o que representou o golpe de 64 na história deles e, principalmente, do país, pelo sofrimento e atrasos que impôs no desenvolvimento humano e institucional.

Os comandantes militares não foram demitidos como quer fazer entender a fake news oficial. Ao contrário, pediram demissão em bloco. Bolsonaro pode até colocar generais, marechais e brigadeiros mais alinhados no comando das FA, mas as corporações estão mais fortes e amadurecidas. E mais, conscientes de seu papel e de que a Constituição deve ficar acima de todos.

Tudo somado, a República está em transe. Quando o governo deveria se concentrar em salvar a população da pandemia, o presidente cria uma crise política, de tamanho militar, para manter seus arroubos autoritários. Como uma bomba relógio, a contagem é regressiva.

Orion Teixeira[email protected]

Jornalista político, Orion Teixeira recorre à sua experiência, que inclui seis eleições presidenciais, seis estaduais e seis eleições municipais, e à cobertura do dia a dia para contar o que pensam e fazem os políticos, como agem, por que e pra quem.

É também autor do blog que leva seu nome (www.blogdoorion.com.br), comentarista político da TV Band Minas e da rádio Band News BH e apresentador do programa Pensamento Jurídico das TVs Justiça e Comunitária.

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