A Igreja São Sebastião, que fica na avenida Augusto de Lima, região Centro-Sul de BH, anunciou que vai realizar missas presenciais neste domingo de Páscoa (4). As celebrações, que estão em desacordo com o decreto da PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) e são desencorajadas por especialistas, foram anunciadas nas redes sociais da igreja e em transmissões ao vivo de outras missas nesta semana.
Na celebração do último domingo (28), o padre José Cândido, pároco da Igreja São Sebastião, anunciou as atividades do calendário da Semana Santa e confirmou a realização de cinco missas presenciais amanhã. “Infelizmente, todas essas celebrações [durante esta semana] serão celebrações transmitidas, mas a Páscoa nós vamos celebrar sim. No domingo de Páscoa, com todos os cuidados, nós teremos aqui a presença dos fiéis”, disse ao fim da missa, transmitida no Youtube.
“Haverá missas em cinco horários: às 7h, às 9h, a missa solene de Páscoa às 11h, às 17h e às 19h”, detalhou o pároco, que ainda concluiu: “Procurem, naturalmente, se distribuir durante as missas. Haverá também as pessoas que vão orientar para que todos possam participar com segurança”. Dois dias antes, a programação também havia sido publicada na página oficial da igreja, com a confirmação das missas presenciais.
Interrupção prolongada
Neste sábado (3), a Igreja São Sebastião voltou a falar sobre as celebrações presenciais. Em um comunicado publicado nas redes sociais em texto e vídeo, a paróquia esclareceu que foi comunicada pelo bispo da região que as missas deveriam ser suspensas no período de 15 a 25 de março. “Nós nos programamos para esta interrupção, que se prolongou, por decisão nossa, até o dia 3 de abril, hoje, por causa do recrudescimento das variantes da Covid-19”, disse.
“No dia 26 de março, uma nova orientação da Arquidiocese, oferece a possibilidade de reabertura das igrejas na Páscoa e após a Páscoa. Essa possibilidade deve ser avaliada por cada responsável, levando em conta as dimensões espaciais e respeitando todos os protocolos de segurança”, diz um trecho do comunicado (leia na íntegra abaixo). A igreja esclareceu ainda que, mesmo antes da pandemia de Covid-19, já disponibilizava álcool gel para os fiéis e, agora, reforçou ainda mais a higienização, além de ter adotado também outros protocolos de segurança.
‘Fugiu ao nosso controle’
No comunicado, a igreja admite ainda que recebeu dezenas de fiéis presencialmente na penúltima semana de março, quando as proibições da PBH já estavam em vigor. “No domingo (21), quinto domingo da quaresma, tudo estava programado para missa transmitida às 11h sem a presença dos fiéis. Porém, lamentavelmente, um grupo numeroso de pessoas se aglomerou em um espaço da capela do santíssimo por causa da porta que ficou aberta por descuido no horário da missa”, afirma.
“Neste caso excepcional, que fugiu ao nosso controle e nunca mais se repetiu, decidimos, na angústia do momento, que cerca de uns 80 fiéis se acomodassem no fundo da igreja, cuja nave comporta cerca de mil pessoas”, continua. A Igreja reforçou ainda que a liberdade de culto é um direito constitucional e que, “nesta época difícil, deve ser exercida esta liberdade responsavelmente”.
O que diz a PBH?
Procurada pelo BHAZ, a prefeitura informou, em nota, que “a igreja será notificada hoje para não realizar o culto, sob pena de aplicação das penalidades cabíveis, como aplicação de multa”. “Conforme decreto 17.566, cultos, missas e demais atividades religiosas de caráter coletivo estão suspensas por tempo indeterminado. É permitido que os espaços religiosos fiquem abertos, desde que adotadas as medidas sanitárias vigentes”, reforçou.
Proibição
A realização de cultos religiosos não é proibida nos municípios que estão na onda roxa, período de restrições mais rígidas do Minas Consciente, programa do governo do estado. Mesmo assim, elas não podem acontecer em BH, já que são vetadas por decreto municipal. Quando a adesão à onda roxa foi anunciada, a PBH já havia esclarecido que, no caso de orientações diferentes das administrações municipal e estadual, sempre prevalecem as mais restritivas. Ou seja, se uma regra proíbe algo e outra regra permite, essa atividade está proibida.
Para o médico infectologista Unaí Tupinambás, integrante do comitê de enfrentamento à Covid-19 da PBH, a liberação de cultos religiosos na onda roxa é um absurdo. “Depois de bar e restaurante, a igreja é o lugar onde tem mais transmissão da Covid-19. Não dá para liberar agora, justo no dia em que o Brasil deve bater mais um recorde de mortes em 24 horas”, defendeu, em conversa com o BHAZ à época.
“O que as pessoas estão pensando? O que é preciso para entender que estamos vivendo a pior crise humanitária e sanitária desta geração? Liberar os cultos neste momento é genocídio, é inadmissível. É uma falta de respeito com a sociedade e com os trabalhadores de saúde, que estão vendo pacientes morrendo sem oxigênio todo dia. É um absurdo”, completou o infectologista.