Enfermeira diz que avó morreu no mesmo hospital onde estava de plantão

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Enfermeira estava fazendo plantão na UTI do mesmo hospital onde sua avó, que acabou falecendo, estava intubada (Reprodução/UOL)

Uma enfermeira da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) Covid perdeu a avó durante o plantão em um dos hospitais onde ela trabalha, em São Paulo. A avó de Giovanna Marques, que tem 23 anos, contraiu a Covid-19 e faleceu em maio do ano passado, após 14 dias intubada. A moça contou ao UOL como foi o período, dizendo que sentiu-se impotente. A profissional da linha de frente contra a doença causada pelo novo coronavírus também relatou o quão exaustivo tem sido para ela e os colegas da profissão.

“Uma das histórias que mais me marcou, desde o começo da pandemia, foi quando a minha avó, Maria, pegou a doença e faleceu no hospital onde eu trabalhava, em maio do ano passado. No dia, levamos minha vó ao pronto-socorro com a saturação a 81. Ela foi internada na mesma hora e, à noite, já intubada. Foram 14 dias assim, mas ela não aguentou”, relatou Giovanna Marques. A enfermeira disse que foi complicado fazer os plantões sabendo do estado de saúde da avó. “Tratamos todo mundo, mas me senti muito impotente sem poder cuidar da minha avó”.

Segundo a profissional de saúde, a situação das UTIs está pior no momento, por conta da nova onda da pandemia. Ela apontou que agora os pacientes são mais jovens. “A situação agora está muito pior com essa nova onda. Estamos vendo o dobro de mortos e infectados por dia. Além disso, os pacientes são mais jovens e, muitas vezes, sem comorbidades – contrariando o que muita gente pensa que só tem complicações quem tem outras doenças associadas”.

‘Às vezes perco as esperanças’

Giovanna disse que é difícil passar por tudo isso, pois num momento os profissionais conversam com o paciente normalmente “e, no outro, ele já está intubado lutando pela vida”. A enfermeira completou: “Às vezes, perco as esperanças, mas ela reacende a cada vez que vejo um paciente sair do tubo e receber alta da UTI”. A profissional de saúde acrescentou que, mesmo com o cansaço, ela se alegra com as pessoas que vencem a Covid-19. “Apesar do cansaço e de presenciar muitas perdas, eu também testemunho vitórias e isso me dá forças para continuar lutando”.

“Entre os colegas de trabalho, o clima é de muito cansado, fisicamente e mentalmente. São plantões intensos, porém seguimos muito unidos, um ajudando o outro. Por isso, me sinto grata por estar na linha de frente e fazer a diferença na vida dessas pessoas”, afirmou. A jovem apontou que a exaustão está para além de trabalhar na UTI, fazendo-se presente nos momentos em que ela vê a população não cumprindo o isolamento social.

“É exaustivo ver a população se negando a cumprir as medidas de isolamento. Você dá tudo de si e, muitas vezes, até sua própria saúde pela do outro, que é um risco por necessidade. Aí você vê as pessoas se arriscando por luxos desnecessários. Entendo, com certeza, que a economia e o trabalho são coisas importantes, mas eles não vão servir de nada se você estiver num leito intubado”.

Edição: Vitor Fernandes
Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

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