Covid: Remédios sem eficácia são recomendados a bombeiros e PM’s

Caixa de cloroquina
Uso da cloroquina, por exemplo, não é recomendado por especialistas (Marcelo Casal Jr/Agência Brasil)

Medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento contra a Covid-19 têm sido sugeridos a policiais e bombeiros de Minas Gerais, nos últimos dias, por meio de um documento que circulou pelas redes sociais. Elaborado pelas corporações correspondentes, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros, o material tem um trecho em que o uso de hidroxicloroquina, ivermectina, vitamina D e zinco são recomendados aos trabalhadores da segurança. Para um infectologista ouvido pelo BHAZ, no entanto, prescrever tais substâncias contra a Covid é um “desserviço”. As corporações afirmam que o arquivo ainda está “em avaliação”.

Nenhum dos medicamentos listados no documento tem efeito para prevenir ou combater o novo coronavírus. Ainda no ano passado, a OMS (Organização Mundial de Saúde) afirmou que a hidroxicloroquina não funciona para tratar a Covid-19 e que o uso pode provocar efeitos adversos. Já o médico infectologista Unaí Tupinambás, integrante do Comitê de Covid da PBH, diz que insistir na prescrição destes remédios é um “desserviço”.

“A análise que faço é a mesma desde o início da pandemia. Estes remédios preconizados pelo governo federal não tem efeito algum. Indicar cloroquina, ivermectina, zinco e vitamina D é um desserviço. Isso é apenas para dar uma falsa sensação de segurança. Só que nada disso funciona e os estudos nos mostram isso”, afirma.

‘Morticínio’

O documento com a prescrição dos remédios ineficazes veio à tona no dia em que o Brasil registrou o maior número de mortes por Covid-19 em 24 horas: 4.211. Na visão de Tupinambás, a insistência em prescrever tais medicamentos, é uma das razões para o descontrole da pandemia no país.

“O reflexo desta insistência, tanto do presidente da República e de vários outros líderes, nos levou a uma tragédia sanitária e humanitária sem precedentes. Batemos ontem o recorde mortes por dia. O Brasil se tornou o epicentro de um morticínio, genocídio”.

Para o especialista, é preciso “investir e ampliar a vacinação, além de incentivar o uso de máscaras”. “Estamos pagando um preço alto por esta política desmantelada. Abril tende a ser um mês de recordes de mortes e temos que torcer para maio ser mais favorável. Vivemos um filme de terror”, conclui.

O que dizem a PM e o Corpo de Bombeiros?

O BHAZ entrou em contato com a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros para repercutir a orientação. Em nota, as corporações informaram que o arquivo divulgado “trata-se de minuta de um documento, ainda em avaliação, que contém orientações para médicos e pacientes que optarem por aderir às recomendações”.

“As Instituições ressaltam, ainda, que a referida minuta não vincula e não obriga os médicos militares a adotarem quaisquer protocolos sugeridos, sendo apenas mais um referencial bibliográfico”, afirmaram a PM e os bombeiros na nota que pode ser lida na íntegra abaixo.

Nota da PM e do Corpo de Bombeiros na íntegra

“A Polícia Militar de Minas Gerais e o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais esclarecem que o arquivo citado trata-se de minuta de um documento, ainda em avaliação, que contém orientações para médicos e pacientes que optarem por aderir às recomendações.

As Instituições ressaltam, ainda, que a referida minuta não vincula e não obriga os médicos militares a adotarem quaisquer protocolos sugeridos, sendo apenas mais um referencial bibliográfico”.

Edição: Roberth Costa
Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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