Médica é demitida após morte de paciente que recebeu nebulização de hidroxicloroquina

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Mulher deu à luz em maternidade onde recebeu tratamento sem comprovação (Reprodução/Redes Sociais)

A Secretária de Saúde do Amazonas confirmou, nesta quinta-feira (15), que a médica Michelle Chechter não faz mais parte do quadro de funcionários da maternidade Instituto da Mulher Dona Lindu, localizada em Manaus. A profissional deixou o posto depois de aplicar nebulização com hidroxicloroquina em duas pacientes com Covid-19. O tratamento não tem eficácia comprovada e, segundo a pasta, “não faz parte dos protocolos terapêuticos” da maternidade, nem de outras unidades de saúde do estado. Uma das mulheres morreu após a nebulização.

A morte de Jucicleia de Sousa Lira, 33, foi noticiada em reportagem da Folha de S. Paulo. Ela havia dado à luz na maternidade e recebeu o tratamento sem eficácia comprovada depois de assinar um termo de consentimento em que não era informada dos riscos. A segunda paciente também deu à luz no local e recebeu a nebulização, mas teve melhora e ganhou alta. A obstetra e ginecologista atuou junto do marido, o médico Gustavo Maximiliano Dutra, que também foi desligado das funções que exercia.

Por meio de nota (veja na íntegra ao fim do texto), a SES-AM explica que abriu uma investigação logo que soube do procedimento, além de confirmar que a médica não trabalha mais no Instituto Mulher Dona Lindu. Além disso, reforça não compactuar, assim como a maternidade, “com a prática de qualquer terapêutica experimental de teor relatado e não reconhecida”.

O Ministério Público e a Polícia Civil do Amazonas também investigam o caso. Michelle Chechter ainda corre o risco de perder o registro profissional, já que o CREMAM (Conselho Regional de Medicina do Amazonas) abriu sindicância para apurar a conduta dela, bem como a aplicação da nebulização com hidroxicloroquina.

Exposição na web

A paciente que morreu em decorrência da Covid e recebeu a nebulização com o medicamento sem eficácia comprovada foi exposta em um vídeo que viralizou nas redes sociais. Na gravação feita aparentemente em 9 de fevereiro, é possível ouvir a médica Michelle Chechter dizendo que Jucicleia foi a primeira a passar pelo procedimento com hidroxicloroquina. A paciente chega a comemorar uma melhora, mas morreu em 2 de março.

O vídeo em que Michelle conversa com a paciente viralizou e foi compartilhado até mesmo pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni (DEM). Ele publicou as imagens no Twitter cerca de 18 dias após a morte da paciente. A postagem foi excluída pela própria rede social ontem (14).

Nota da Secretaria de Saúde do Amazonas na íntegra

A Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) esclarece que o tratamento aplicado pela médica não faz parte dos protocolos terapêuticos do Instituto da Mulher Dona Lindu (IMDL) nem de outra unidade da rede estadual de saúde, ainda que com o consentimento de pacientes ou de seus familiares.

O procedimento tratou-se de um ato médico, de livre iniciativa da profissional, que não faz mais parte do quadro da maternidade, onde atuou por cinco dias. Tão logo tomou conhecimento do ato, a SES-AM determinou abertura de sindicância e o afastamento da profissional.

Os dois médicos foram integrados dia 03 de fevereiro, após contratação em regime temporário pela SES-AM junto com outros 2,3 mil profissionais de saúde, via banco de recursos humanos disponibilizados ao Estado pelo Ministério da Saúde, para atuarem durante a pandemia em hospitais da rede estadual.

Conforme o IMDL informou à SES-AM, duas pacientes foram submetidas ao tratamento de nebulização de hidroxicloroquina. Ambas assinaram termo de consentimento, como relatado em prontuário. Uma das pacientes veio a óbito e a outra teve alta. Todas as informações sobre o atendimento estão registradas em prontuário.

A SES-AM e o IMDL não compactuam com a prática de qualquer terapêutica experimental de teor relatado e não reconhecida e entendem que tais práticas não podem ser atribuídas à unidade de saúde, que tem como premissa o cumprimento da lei e dos procedimentos regulares, conforme os órgãos de saúde pública e os conselhos profissionais”.

Roberth Costa[email protected]

De estagiário a redator, produtor, repórter e, desde 2021, coordenador da equipe de redação do BHAZ. Participou do processo de criação do portal em 2012; são 11 anos de aprendizado contínuo. Formado em Publicidade e Propaganda e aventureiro do ‘DDJ’ (Data Driven Journalism). Junto da equipe acumula 10 premiações por reportagens com o ‘DNA’ do BHAZ.

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