STF antecipa disputa presidencial polarizada ao anular condenações de Lula

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Lula e Bolsonaro formam quadro polarizado e antecipado para 2022 (Reprodução/Instagram + Reprodução/YouTube)

A decisão da Suprema Corte que anulou as condenações do ex-juiz federal Sérgio Moro deflagrou, sem dúvida, a antecipação do processo eleitoral do ano que vem. E essa precipitação se inicia em quadro, a princípio, de polarização que opõe o atual presidente Bolsonaro ao ex-presidente Lula. O petista foi resgatado e recolocado no jogo pela própria justiça que o havia condenado e o retirado das eleições de 2018.

Esse novo quadro se apresenta em um momento bastante desfavorável a Bolsonaro. Por três razões. Primeiro, ele se mantém omisso diante da maior crise sanitária recente, com a morte de quase 400 mil brasileiros. Mais de 3 mil por dia. Em 2º lugar, e por isso mesmo, o presidente será questionado mais objetiva e diretamente por 90 dias de duração da CPI da Covid. E em 3º lugar, sua reprovação segue em alta, beirando os 60%.

Nessa hora, cai também a expectativa de poder da reeleição dele e cresce a expectativa sobre a volta de Lula, caso ele venha realmente a disputar as eleições. Com isso, também diminuem as chances de uma terceira via, que, além de manifestos e alguns posicionamentos, não consegue se impor no debate nacional. Integrada por Ciro Gomes (PDT/CE), o governador paulista João Dória (PSDB), Luciano Huck (Rede Globo), entre outros, essa via corre o risco de ficar de fora. Por ora, vai negando, desconhecendo e ignorando que a disputa caminha para uma polarização inevitável.

Estratégias de ambos os lados

Tudo somado, crescerão daqui pra frente as conversas e articulações políticas entre os partidos e lideranças para eventuais composições futuras. Lula já lançou a senha de que ele e o PT poderão repetir a fórmula vitoriosa de 2002, quando venceu ao buscar o apoio do centro político. Irá atrás do centro que não tenha se endireitado de vez e que tenha superado o antipetismo.

Isso amplia a margem de conversas desse segmento e pode ser que esse centro venha a ocupar a vaga que foi do empresário mineiro José Gomes Alencar na chapa de 2002. Ou, quem sabe, indicar a cabeça de chapa. Aí o quadro fortaleceria ainda mais a possível aliança sonhada por Ciro.

Do lado de Bolsonaro, ele sinaliza ter ficado satisfeito com a vota de Lula ao jogo, porque acredita que sua última chance, após o fracasso, até agora, de seu governo, estaria no antipetismo. Essa tendência ainda é forte em algumas capitais e cidades, como observado nas eleições municipais passadas. Porém, nessa hora, não vai adiantar apelar para Deus, porque o estado é laico e Ele não se envolve com quem usa seu nome em vão.

Novo quadro incomodou Bolsonaro

Bolsonaro sentiu o novo quadro e gastou parte de sua live semanal, das quintas-feiras, para comparar seu governo com o de Lula. “Se o Lula voltar pelo voto direto, pelo voto auditável, tudo bem. Agora, veja qual vai ser o futuro do Brasil com o tipo de gente que ele vai trazer para dentro da Presidência”, disse Bolsonaro.

Novamente, tenta pôr em desconfiança o sistema eleitoral brasileiro, que sempre foi e é auditável, mas não como ele quer e deseja por meio do voto impresso. O deputado federal Aécio Neves (PSDB) fez o mesmo ao ser derrotado pela presidente Dilma Rousseff (PT) em 2014.

No campo petista, a estratégia é abrir conversas com partidos como o PSD, MDB e PSB nos estados, para viabilizar a candidatura presidencial de Lula. “Está claro nas últimas intervenções de Lula que a melhor estratégia é repetir o perfil da candidatura de 2002. Ou sejam abrir espaço para partidos do centro democrático”, avaliou o senador Paulo Rocha (PT-PA).

Eleições estaduais estão na agenda

A tendência é que o PT tenha candidaturas próprias em estados onde já governa, e dar apoio a outros onde tem menos chances. Aqui em Minas, o partido avalia as chances de composição com o prefeito da capital, Alexandre Kalil (PSD), que planeja disputar o  governo do estado.

Em fevereiro, o candidato presidencial derrotado em 2018, o petista Fernando Haddad, fez visita de cortesia ao prefeito de Belo Horizonte. Café tomado, as conversas e cenários ficaram apalavrados.

Além dessas conversas, as pesquisas devem se intensificar nos próximos meses nesse ambiente instável da política. Hoje, ela é avaliada em tempo real por causa da força da internet e das redes sociais.

Orion Teixeira[email protected]

Jornalista político, Orion Teixeira recorre à sua experiência, que inclui seis eleições presidenciais, seis estaduais e seis eleições municipais, e à cobertura do dia a dia para contar o que pensam e fazem os políticos, como agem, por que e pra quem.

É também autor do blog que leva seu nome (www.blogdoorion.com.br), comentarista político da TV Band Minas e da rádio Band News BH e apresentador do programa Pensamento Jurídico das TVs Justiça e Comunitária.

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