Alunos dos EUA simulam ‘leilão de escravos’ com colegas negros

Chris Johnson
Vítima manifestou revolta com ataque racista sofrido em rede social e pediu mudanças (Reprodução/CNN)

Alunos do ensino médio de uma escola no Texas, nos Estados Unidos, estão sendo punidos administrativamente depois de promover um “leilão de escravos”, no Snapchat, simulando a venda dos colegas negros. Os jovens trocavam mensagens oferecendo diferentes valores para “comprar” os estudantes da escola de Aledo. O caso provocou revolta nas redes sociais e nas próprias vítimas, que se manifestaram contra o absurdo em uma reunião do conselho da escola neste mês.

Em uma imagem divulgada pela CNN, que mostra a conversa entre os estudantes no Snapchat, um deles “aposta” US$ 100 em um aluno negro. “US$ 1 pelo Chris. Seria melhor se o cabelo dele não fosse tão ruim”, escreveu outro usuário do grupo.

Leilão
Alunos ofereciam quantias de dinheiro pelos colegas negros (Reprodução/CNN)

De acordo com a emissora, inicialmente, a escola classificou a conversa como “cyberbullying” com linguagem “racialmente carregada”, em uma carta enviada aos pais dos estudantes no dia 5 de abril. Depois da repercussão negativa por parte dos moradores da cidade, o ocorrido foi devidamente chamado de “racista”.

Na última semana, a instituição informou que os estudantes envolvidos estão sendo “disciplinados”, mas não citou quais são as punições administrativas sofridas, por razões legais. “Eu sei que falo por toda a comunidade de Aledo quando digo que sinto muito que alguns dos nossos estudantes participaram do assédio racial de dois dos nossos alunos negros em uma conversa nas redes sociais. Também sinto muito pela dor que foi causada às vítimas e às suas famílias. Foi completamente inaceitável para todos nós e não deveria ter acontecido”, disse um comunicado divulgado pela escola.

Revolta

“O único pedido de desculpas que eu vou aceitar é uma mudança de atitude”, declarou uma das vítimas do incidente racista, Chris Johnson, em uma reunião do conselho da escola. Ainda segundo a CNN, Johnson afirmou que nem o conselho nem a administração do colégio pediram desculpas a ele ou admitiram que lidaram com o ocorrido de forma errada, a princípio.

“Eu sei que as comunidades estão prontas para mudar, e faremos nossa parte. Agora estou perguntando para o conselho administrativo e para o superintendente: quando vocês farão as mudanças necessárias para que todos nós nos sintamos seguros e tratados justamente?”, completou o estudante. Já de acordo com a Fox, em outra reunião do conselho, a mãe de Chris também se manifestou. “Daqui para frente, não é o que aconteceu. Não é quando aconteceu ou como lidamos com isso. É sobre como vamos seguir em frente e como estamos enfrentando o problema”, pontuou Mioshi Johnson.

Nas redes sociais, o caso também provocou revolta nos Estados Unidos e fora do país. “O racismo infiltrado na nossa política, na nossa segurança pública e na nossa segurança nacional está sendo incubado nas nossas escolas”, escreveu o advogado estadunidense Lee Merritt. “Isso deveria ser comportamento que provoca expulsão e fim de carreira. Nenhuma faculdade deveria tocar nesses jovens, e eles deveriam perder todas as oportunidades de ir a uma universidade. Isso é nojento”, respondeu outra usuária.

Não é piada

O presidente da NAACP (Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor) Parker County, Eddie Burnett, repudiou o ocorrido em entrevista à CNN e disse que isso deveria servir como um alerta para a cidade: “Eu não estou dizendo que estão ensinando racismo, mas obviamente existe um ambiente onde isso prospera”. Ele ressalta que incidentes como esses podem ser interpretados como uma piada, mas isso revela que os estudantes não entendem o peso que o racismo carrega.

“É desumanização, e quer seja consciente ou inconscientemente, esse é o objetivo para fazer algo assim. Pensar nos estudantes como escravos é desumanização, e isso permite que os agressores os vejam assim e façam o que quiserem com eles”, pontua Burnett. O ativista ainda disse que espera que os alunos envolvidos e a comunidade de Aledo se mobilizem por mudanças reais, em vez de deixar a situação passar.

“A única chance que temos de corrigir essa situação é dar luz a ela. Trazê-la à atenção de todos, e fazer com que as pessoas coloquem pressão nos líderes da comunidade. Não só no governo, mas nos líderes de comunidades por todo lugar, para enfrentar o problema”, finaliza.

Edição: Vitor Fernandes
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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