De BH para a Lua? Universitário participa de seleção para viagem espacial

Guilherme Ximenes vídeo lua
Quando não está estudando, o universitário se dedica a seu canal no Youtube (Guilherme Ximenes/Arquivo Pessoal)

O belo-horizontino Guilherme Ximenes, estudante de Engenharia de Sistemas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), é uma das poucas pessoas, no mundo inteiro, a participar de um processo seletivo para viajar à Lua. Filho de professores, o jovem de 28 anos estudou em escola pública até o começo do Ensino Fundamental II, quando ganhou uma bolsa para estudar na rede particular, e agora tem a chance de participar da primeira missão lunar civil da história.

O projeto “Dear Moon”, ou Querida Lua em português, é organizado pelo japonês Yusaku Maezawa, um artista e empresário bilionário, em parceria com Elon Musk, norte-americano que, além de comandar a Tesla Motors, também é fundador da SpaceX, uma empresa aeroespacial estadunidense. Juntos, eles querem levar oito pessoas, do mundo inteiro, para orbitar na Lua e gerar um tipo de impacto na sociedade.

A ideia começou há mais de dois anos, mas tem sido colocada em prática somente agora. No início de 2021, a dupla anunciou a abertura de uma pré-inscrição, sem nenhum requisito para participação. Quando viu a oportunidade, o belo-horizontino resolveu arriscar e se inscreveu na primeira etapa do processo. “Foi super simples, eu só precisei colocar nome, e-mail, e país”, conta Guilherme Ximenes ao BHAZ.

Hoje, ele já está na terceira fase da seleção, sendo o único mineiro, um dos pouquíssimos brasileiros e pessoas do mundo inteiro a ter uma chance de viajar para o espaço. “Foram pouco mais de um milhão de pré-inscrições, dessas, houve um filtro, eu acredito que, no momento, existem algumas centenas de pessoas concorrendo à viagem”, diz o estudante.

Divulgação científica

O jovem ficou sabendo da seleção por meio da rede social. “Eu estou na divulgação científica no YouTube há cinco anos, no meu canal ‘Olá Ciência’, e foi assim que fiquei sabendo do processo seletivo”, conta. O canal surgiu em 2015, depois que o estudante de engenharia voltou de um intercâmbio na Coréia do Sul, com bolsa do governo federal, no extinto “Ciências sem Fronteiras”.

“O canal começou de uma necessidade minha e de um amigo meu de retornar esses investimentos que o governo fez na gente. Ele, assim como eu, participou do ‘Ciências sem Fronteiras’, mas na Austrália, e estudava Biomedicina na UFMG”, conta.

“Vivendo esse tempo fora do Brasil, a gente viu uma necessidade de divulgar a ciência, a tecnologia, mostrar para as pessoas da importância do conhecimento como um todo, não em áreas especificas, mas entender o nosso mundo, que tem muitas coisas fantásticas”, conta.

Entusiastas da divulgação científica, a dupla criou o canal, mas só este ano, com a pandemia de Covid-19, que começaram a receber mais acessos e inscrições. “O Lucas é biomédico e já trabalhava há bastante tempo em epidemiologia, na área de dengue, com dados epidemiológicos, então o canal deu uma acelerada com o conteúdo sobre a pandemia”, explica.

Hoje, o canal conta mais de 600 mil inscritos e mais uma cientista para a equipe. “Uma assessora cientifica, formada pela UFMG, que está indo pra um doutorado na Austrália, está nos ajudando. Ela produz roteiro, está sempre nos bastidores e aparece de vez em quando em alguns vídeos”.

‘A ciência impacta as nossas vidas’

Depois da aprovação na pré-inscrição, na etapa seguinte do processo seletivo, o jovem lembrou do canal para explicar o impacto que poderia causar na sociedade. “Na segunda fase, a inscrição foi maior, eu precisei colocar a minha idade, gênero, se estudava, quais tipos de projetos pessoais eu tinha. Pediram para eu escrever como eu, do ponto de vista individual, com meu projeto pessoal, poderia gerar impacto na sociedade”, conta.

Na resposta, o estudante falou sobre a paixão pela ciência. “Eu sempre fiz divulgação científica. Eu acredito que tem dois tipos de pessoas, pessoas que amam a ciência e pessoas que não amam a ciência ainda”.

“A ciência impacta as nossas vidas, o tempo inteiro, tudo que a gente vive ao nosso redor, seja uma ligação de telefone, ver um vídeo na internet, andar no carro, ônibus, o asfalto na rua. Eu dei alguns poucos exemplos específicos, falei como a sociedade está altamente dependente de ciência e tecnologia e o pouco que as pessoas sabem disso”, compartilha.

‘100% artista’

O título de “criador de conteúdo” também contribuiu para um outro critério de seleção. Em primeiro momento, o empresário japonês, que também tem uma veia artística, anunciou que selecionaria apenas artistas para a viagem. “No início ele anunciou que queria que fossem artistas. Ele tem esse sonho de tentar enxergar a Terra do lado de fora, do espaço, olhar para a Terra e se sentir inspirado, e ele quer fazer isso com outras pessoas, do mundo inteiro”.

O bilionário, contudo, mudou de ideia, depois de perceber a complexidade do conceito. “No vídeo de lançamento do pré-registro, ele explica que depois de um tempo começou a pesquisar e não conseguiu achar qual seria a definição de um artista, que tipo de gente que poderia considerar artista para poder ir com ele nessa jornada”, conta.

Com a abrangência da definição, o estudante arriscou. “Ele chegou à conclusão que qualquer pessoas que se considera um artista pode se inscrever. Pode ser um criador de conteúdo, por exemplo, e eu me considero 100% artista nesse sentido, fazer vídeo, contar história, esse tipo de coisa”, explica. “Eu gosto de contar história para fazer as pessoas se apaixonarem por essa maneira cientifica de pensar”, completa.

“Meu pai é professor de matemática e minha mãe professora de artes. Querendo ou não, a minha formação é meio misturada, por causa disso, eu tenho uma referência muito exata e uma referência muito artística”, relata.

Harry Potter

A mistura de conhecimento científico com artístico, de fato, esteve presente na formação do jovem. Mesmo com toda a admiração pela ciência, foi um “bruxo”, que contraria diversas leis da física, que ajudou o estudante a participar do processo. Ainda que sem nenhum pré-requisito, o processo acaba exigindo o domínio da língua inglesa, já que todas as etapas estão em inglês. No caso de Guilherme, filmes, e mais especificamente, a série britânica “Harry Potter”, o ajudaram a aprender o idioma desde pequeno.

“Eu sempre gostei muito de inglês, eu adorava assistir Harry Potter, assisti dublado no início, depois comecei assistir em inglês, legendado em português, e fui avançando”, conta. Quando criança, assistia ao filme repetidamente, até entender a história com o idioma original. “Eu vi ‘[Harry Potter e] A Pedra Filosofal’, trinta vezes, facilmente, assistia três, quatro vezes, no mesmo dia, com áudio e legenda em inglês”, conta.

“Depois, meu pai me colocou na escola de inglês, somente por seis meses, mas foi o suficiente para eu conseguir a oportunidade de entrar no processo seletivo para um intercâmbio de baixo custo nos Estados Unidos, durante um mês. Eu passei e foi quando eu realmente desenvolvi o meu inglês”, diz.

De BH para a Lua

Para avançar na disputa, o estudante está contando com a ajuda de todos. Na terceira fase, ele precisou publicar um vídeo explicando por quê deveria ser escolhido para a primeira missão civil no espaço. Apesar de não existir um critério claro, ele acredita que o vídeo precisa de um bom número de interações para que consiga avançar para a penúltima etapa do processo.

“Não existe um critério fechado, mas disseram para nos sentirmos livres para compartilharmos o vídeo nas redes sociais. Eu acredito que é necessário esse compartilhamento, visualizações, porque um dos critérios [do “dearMoon”] é você ser capaz de gerar um impacto na sociedade com o projeto que você tem”, explica.

Vamos ajudar?

E se ele passar?

Se aprovado, o belo-horizontino vai ser uma de oitos pessoas, do mundo inteiro, com a oportunidade de viajar para o espaço, juntamente com Yusaku Maezawa. “A ideia dessa missão é sair da terra, seguir em direção a lua, são quase três dias para chegar ate lá, quando chega, uma volta por trás da lua, essa órbita, e volta para terra. A viagem tem um total de seis dias”.

Existe a suposição de que a viagem possa ser transmitida ao vivo. “O que vai ser feito ao longo desse caminho não temos ideia. Existe possibilidade de transmitir alguma coisa ao vivo de lá, previsão que até 2023 já vai ter satélite naquela região em órbita lunar que seja capaz de transmitir essa informação”, diz o estudante.

Assim, os selecionados vão fazer parte da primeira missão civil lunar da história da humanidade. “Nenhum civil não treinado, não militar, chegou próximo de ir tão longe da terra”, conta, com animação. Contudo, mesmo com a palavra de dois bilionários, a viagem ainda tem algumas incertezas. “Está tudo muito incipiente. A própria nave, que está sendo desenvolvida para esta e outras missões, ainda está em teste”, explica.

“A gente não tem noção de quão fechado mesmo está isso, se tem algum tipo de contrato assinado, pagamento feito, planejamento mais organizado. Elon Musk fala que até 2023 acredita que a nave já vai ser capaz de colocar o ser humano em órbita na Terra e fazer essa viagem ao redor da Lua”.

“Nós temos a palavra dessas duas pessoas, que neste mundo nosso capitalista, são pessoas muito grandes, então a gente acredita que a palavra dessas pessoas vale muita coisa”, diz.

Edição: Roberth Costa

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